Em dezenas de locais de Hamburgo, Berlim, Munique, Bonn e outras
grandes cidades, os garçons estão dizendo: "Desculpe, mas a Coca-Cola não
está disponível devido à atual situação política."
Aparentemente, essa reação simbólica aos Estados Unidos é parte de um
movimento mundial. Uma página na Internet, www.consumers-against-war.de,
propõe o boicote às 27 maiores empresas norte-americanas, entre as quais a
Microsoft e a Kodak. Outro site, www.adbusters.org, sugere "um boicote
à marca América."
A rede de lanchonetes McDonald's é uma das mais visadas. Desde que a
guerra começou, já houve incidentes de depredação contra lojas da rede em
lugares tão distantes quanto a França ou a Indonésia.
Até os mais remotos recantos da Rússia vivem o sentimento de
antiamericanismo. Em alguns restaurantes da zona rural, há placas avisando
que norte-americanos não são bem-vindos, segundo o jornal "Izvestia".
A fábrica alemã de bicicletas Riese und Mueller cancelou todos os
contratos com fornecedores norte-americanos. "Eles só prestam atenção
quando há dinheiro envolvido," disse Heiko Mueller, o diretor da empresa,
que compra por ano cerca de 300 mil dólares em peças de seis fábricas dos
Estados Unidos.
"Queríamos nos manifestar contra esta guerra e dissemos a nossos
colegas norte-americanos que, a menos que eles renunciem a tudo o que seu
governo está fazendo, não iremos mais negociar com eles."
GESTOS SIMBÓLICOS
O boicote aos produtos norte-americanos nos restaurantes alemães está
se espalhando rapidamente pelo país, cuja população se tornou
convictamente pacifista após a devastação sofrida na Segunda Guerra
Mundial.
"Se as pessoas de todo o mundo boicotassem os produtos
norte-americanos, isso iria influenciar a política dos EUA," disse
Jean-Yves Mabileau, dono do restaurante L'Auberge Française, de Hamburgo,
que aderiu à campanha.
"Isso começou como uma reação bem-humorada aos norte-americanos jogando
vinho francês na sarjeta. É só um pequeno gesto, mas dos bons,"
afirmou.
Os clientes da Osteria, de Berlim, estão descobrindo que "tudo fica
melhor sem Coca-Cola." Em vez disso, estão pedindo a fraca imitação local
do produto, a Afri-Cola, para expressar sua indignação.
"Queremos atingir a América onde dói -- no bolso. Nenhum dos nossos
clientes reclamou. Pelo contrário, a maioria achou genial," afirmou o
proprietário do lugar, Fabio Angile.
Hervé Keroureda, dono de um bistrô em Hamburgo, se diz surpreso com a
repercussão do boicote. "Era para ser um pequeno gesto, que se transformou
em uma questão gigantesca," afirmou. "E a reação dos clientes é incrível.
A maioria achou a idéia brilhante."
Sarah Stolz, 22, aluna de estudos americanos em Berlim, se preparava
para tomar um café num Starbucks do centro da capital alemã quando sua
consciência pacifista falou mais alto.
"Eu estava pensando em ir ao Starbucks, que eu adoro, quando percebi
que isso seria errado," disse ela. "Estou apoiando o boicote porque a
guerra é totalmente injustificada."
Pelo mesmo motivo, Rita Marshall evita o McDonald's e o Burger King.
"Essa é só uma das maneiras de nos posicionar," disse a moça, de 26 anos,
em frente a um McDonald's de Berlim.
Assim como os norte-americanos rebatizaram jocosamente as batatas
fritas ("French fries") de "batatas livres" ("freedom fries"), por causa
da oposição francesa à guerra, algumas padarias alemãs inventaram que a
rosca doce conhecida como "Amerikaner" agora se chama
"Peace-ies."