Bouskela e Bernardo,

Sem entrar no mérito do argumento como um todo, o item 5 pode ser desenvolvido de forma mais simples, não exigindo a elipse:
Sendo O é o centro do circulo´e os vértices consecutivos A, B e C, façamos:
<AOC = alfa (fixo),
<AOB = beta e
<BOC = gama,
O comprimento AB + BC é dado por
2Rsen(beta/2) + 2Rsen(gama/2) = 4Rsen(alfa/4).cos(beta/4-gama/4) que é máximo quando cos = 1 ou seja, beta = gama.

Quanto à preocupação do Bernardo com a justificável precisão de convergência, etc, quem trabalha com meninos do nivel médio (como eu, em turmas de preparação ao IME/ITA) tem "dúzias" de preocupações assemelhadas e até em assuntos aparentemente óbvios. Por exemplo: prove que a área de um retângulo é igual ao produto dos lados. Acha fácil? Não é não, pois se os lados do retângulo são múltiplos racionais do lado do quadrado que serve de unidade de medida, tudo bem, mas se não forem, olha a confusão! Tem que falar em aproximação de irracionais por racionais ou coisa análoga ou ficar de boca fechada e tocar o bonde ou, se a turma for melhorzinha (tipo IME/ITA, etc) ai tá, damos uma pincelada na questão... E na primeira série? Soma das PGs ilimitadas são apresentadas sem nenhuma formalização do conceito de limite, etc e pronto; E dízimas para as pobres "criancinhas"... tantos noves ... tantos zeros quanto.... ! Aggggghhhhh. Sempre achei equivalente a assassinato o estudo de dízimas na época em que é feito.
E por ai vai.

Abraços
Nehab

PS: Acho que me excedi... e me empolguei. Faz parte.


Em 28/03/2012 18:09, Bernardo Freitas Paulo da Costa escreveu:
2012/3/28 Albert Bouskela<alb...@themag.com.br>:
Ois!

Antes de mais nada, parabéns ao Albert por ter matado o problema.
Enfim, "a sacada de gênio", claro, porque se eu estou escrevendo um
mail a mais, é que eu ainda não estou satisfeito... mas é pura chatice
minha. Coisas da idade.

     3)            Mantendo-se invariante o número de vértices, o polígono
inscrito num círculo que tem (refiro-me ao polígono) o maior perímetro é o
polígono regular!

     4)            Prova: – Peguem 3 pontos consecutivos (adjacentes) de um
polígono. O 1º e o 3º formam a corda que nos interessa. Os 3 pontos formam
um triângulo. Para que o perímetro desse triângulo seja máximo, ele deve ser
isósceles (prova adiante). I.e., o 2º ponto deve coincidir com a interseção
da maior flecha da corda formada pelos 1º e 3º pontos – i.e., a mediatriz da
corda – com o círculo. Por quê?
Eu não diria que é o perímetro do triângulo, mas apenas AB + BC (onde
A, B e C são, nessa ordem, os pontos consecutivos). Claro que como
apenas B "mexe", somar AC é uma constante, logo não muda nada. Mas o
importante ainda está por vir.

     5)            Porque quando o ponto do meio (o 2º) passeia ao longo do
arco compreendido pela corda, a partir do ponto central (o ponto de
interseção da mediatriz da corda com o círculo), o perímetro do triângulo
diminui! Caso não diminuísse (ficasse constante),
Na minha terra, uma quantidade que não diminui, pode aumentar.

o LG do 2º ponto seria uma
elipse, com polos no 1º e 3º pontos – lembrem-se da definição da elipse (é o
LG dos pontos cuja soma das distâncias do ponto considerado até dois pontos
fixos, os polos, é invariante). Esta elipse passaria “por fora” do círculo,
tangenciando-o no ponto de interseção da mediatriz da corda com o círculo.
Mas o argumento da elipse ainda assim é válido. Mas tem que dar uns
detalhes a mais: considere a elipse de focos A e C passando por B.
Como B está na mediatriz de AC, a elipse é tangente ao círculo em B.
As posições de uma elipse e um círculo são bem simples: é uma questão
de curvatura. Ora, a elipse com certeza passa fora do círculo na
"altura" da reta AC, logo ela também tem que estar do lado de fora
acima, logo a semi-elipse A'BC' contém o arco ABC. Como os pontos
dentro da elipse são os que têm a soma MENOR do que AB+BC, acabou.

     6)            Já que o triângulo deve ser isósceles, então o polígono
deve ser regular!
Muita calma nessa hora. Seja P um polígono que não é regular. Seja P'
o polígono obtido de P "isoscelizando" dois lados contíguos como o
Albert fez. Então per(P)<  per(P'). Em particular, se P for regular, o
procedimento do Albert não permite aumentar o comprimento, mas é só
isso. Claro que se você tomar outro polígono (que não seja regular,
portanto) ele não será o de maior perímetro, mas isso não implica que
o regular seja o maximizador.

Assim, aqui vem a minha chatice maior. Falta um de dois argumentos. Um
de convergência (se a gente tiver sorte, para o máximo), o outro de
existência do dito máximo.

A existência é um treco chato, e eu não sei provar sem
análise/topologia. O máximo existe porque o comprimento de um polígono
é uma função contínua dos ângulos dos vértices do mesmo, que vivem num
conjunto compacto (o círculo) e são em número finito. Sabendo da
existência, acabou: seja P o polígono que é de maior perímetro. A
construção do Bouskela diz que P tem que ser regular, já que, se não
fosse, seria possível aumentar o seu perímetro.

A convergência é mais "natural". O que a gente precisa mostrar é o
seguinte: seja P um polígono não regular. Então a construção do
Bouskela dá uma seqüência de polígonos P_i que convergem para um
polígono regular, e portanto para qualquer polígono P, o seu perímetro
é menor do que o perímetro do polígono regular. A idéia aqui é ir
"rodando", e daí a "discrepância" vai diminuir. Vou fazer com 3 lados,
já dá bastante trabalho assim.

Sejam a, b e c os ângulos entre os pontos A e B, B e C, C e A vistos
do centro do círculo. Como a gente quer que convirja para um triângulo
equilátero, eu vou chamar de 120+a, 120+b, 120+c. Repare que a + b + c
= 0 porque o triângulo é convexo ;).

A primeira etapa "isosceliza" em B, portanto temos
120 + (a+b)/2, 120 + (a+b)/2, 120 + c
Agora em C
120 + (a+b)/2, 120 + (a+b+2c)/4, 120 + (a+b+2c)/4
     = 120 + (a+b)/2, 120 + c/4, 120 + c/4 (pois a+b+c = 0)
Enfim, em A
120 + (2a+2b+c)/8, 120 + c/4, 120 + (2a+2b+c)/4
     = 120 + (a+b)/8, 120 + c/4, 120 + (a+b)/8

Agora, note que |(a+b)/8| + |c/4| + |(a+b)/8|<= ( |a| + |b| + |c| )/4
(porque |x+y|<= |x| + |y[), ou seja, os valores a, b, c dão uma
"discrepância total" que divide por 4 quando a gente dá a volta no
círculo. Assim, fazendo cada vez mais voltas, temos um polígono cujo
perímetro sempre aumenta, e cujo perímetro converge para o de um
polígono regular, que tem portanto um perímetro maior do que todos os
outros. A fórmula do caso geral é beeeem mais lenta (de convergir e de
calcular) e eu acho que dá um fator (1 - 6/2^n)


Claro que a maior parte dos alunos de 2° grau não vão ser uns chatos
de 2a categoria como eu...

Abraços,

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Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
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