No confessionário:
- Padre, o senhor
soube que o Lauro morreu? - Que triste, filho, o que
foi que aconteceu com ele? - Ele ia para minha casa e
estava vindo a toda velocidade. O Lauro sempre foi de
correr muito.
Quando ele ia chegando e tentou parar, os freios falharam e o carro
chocou-se do jeito que vinha na mureta la em frente. O Lauro
foi lançado pelo teto solar, voou uns 10 metros, e acabou se arrebentando
contra a janela do meu quarto, no segundo
andar. - Ave Santíssima, que modo
horrível de morrer! - Não, não, padre! Ele sobreviveu a isso. Ele acabou
no chão do meu quarto, todo arrebentado, sangrando e
coberto de vidro. Foi então que ele tentou se levantar e
pegou na
maçaneta do meu guarda-roupa. É um guarda-roupa antigo,
todo em jacarandá, pesadíssimo. Quando ele estava se erguendo, o
guarda-roupa, que estava com um pé defeituoso, desabou em
cima dele amassando tudo quanto foi osso do corpo
dele. - Pobre Lauro! Que morte
terrível! - Não, padre, isso machucou muito mas não matou ele.
Com muito esforço, ele conseguiu sair de baixo do guarda-roupa e engatinhou
até a sacada que fica no topo da escada do hall. Ali ele tentou
se levantar, apoiado no corrimão, mas o peso dele quebrou o
corrimão e ele desabou até o chão do hall lá embaixo. Dois
paus do corrimão quebrado ainda caíram sobre ele e o
transfixaram. - Mas que horror se morrer
assim! - Mas não foi isso que o matou. Ele conseguiu
arrancar os dois paus do corpo, engatinhou até a cozinha e
tentou se levantar apoiado no fogão. Sem querer pegou na
alça de uma
panela que estava fervendo água e derramou a água fervendo por
cima dele, queimando toda a pele. - Que morte
sofrida, Mãe do Céu! - Não, não, ele conseguiu sobreviver a isso. Mas lá
estava ele caído no chão, numa poça de água fervente, quando
viu o telefone na parede. Deve ter pensado em pedir ajuda.
Apoiou-se na
parede e tentou alcançá-lo. Mas, em vez do telefone ele meteu a mão
na caixa de fusíveis e zap! 10.000 volts passaram por
ele. - Ave Maria! Que fim terrível!
- Não, padre,
isso ainda não matou ele. Ele... - Espere aí, filho!
Afinal, como foi que ele morreu? - Padre, eu atirei
nele. - Você ficou maluco, filho? Por que você atirou no
pobre coitado? - Porra, padre, o cara estava destruindo a minha
casa!
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