BELARMINO, O ESTRESSADO

Depois de trabalhar na mesma escrivaninha, no mesmo escritório, com os
mesmos colegas por 25 anos, Belarmino finalmente não aguenta mais o
estresse. Resolve então comprar um pedaço de terra - um sitiozinho de 10
hectares numa região inóspita do Tocantins. Queria fugir o máximo da
humanidade e gozar uma vida solitária e simples, como os antigos monges
do deserto. Uma vez por mês, um carteiro deixa a correspondência na
caixa de correio - que Belarmino fez questão de pôr do outro lado do
ranchinho onde mora. Uma vez por mês também, Belarmino sela um burrinho
que comprou e vai às compras, numa tendinha à beira da estrada, que fica
a quatro léguas do seu rancho. No mais, só o ruído do vento nas folhas
das árvores e o canto dos passarinhos. E água do ribeirinho fazendo
“chuá... chuá...” no silêncio estrelado da noite.
Depois de uns seis meses de isolamento total, Belarmino tinha acabado de
jantar e se preparava para deitar, quando alguém bate à porta. Quando
vai abri-la, encontra em sua frente um homenzarrão ruivo, de barba
cerrada e cabelos desarrumados. O homem tem uns olhos penetrantes e
fortes.
- Meu nome é Frederico. Sou seu vizinho do rancho mais próximo - vinte
quilômetros do lado onde o sol nasce. Vou dar uma festinha neste domingo
e pensei que talvez você quisesse aparecer. Começará às 5 da tarde...
- Ótimo - diz Belarmino. - Depois destes seis meses isolado, creio que
estou pronto para conhecer os vizinhos. Muito obrigado pelo convite.
Estarei lá, sem falta.
Ao sair, Frederico pára no batente da porta e diz:
- Quero avisar que vai haver alguma bebedeira...
- Não haverá nenhum problema. Depois de 25 anos convivendo com meus
colegas cachaceiros, creio que posso aguentar bem.
De novo, antes de sair, Frederico avisa:
- Você sabe, é muito possível que haja também alguma briga...
- Não se preocupe - diz Belarmino. - Eu me dou bem com todo mundo. Muito
obrigado pelo aviso.
- Bem, até lá, então. Um último aviso: nestas festas, sempre tenho visto
muito sexo, bravo e violento.
- Ora, estou aqui sozinho por seis meses. Isto não será nenhum problema.
Definitivamente, agora é que estou ainda mais interessado. Como é que
devo me vestir para a festa?
Frederico vira a cabeça de novo, pela última vez:
- Como quiser. Só vamos ser nós dois mesmo.



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