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TV digital: novo filão para os desenvolvedores de software
Profissionais brasileiros poderão investir em uma nova área: a de aplicativos que rodarão nos aparelhos receptores de TV digital.
Com a estréia da TV digital no Brasil, prevista para 3 de dezembro de 2007, um novo mercado começa a se abrir para os desenvolvedores brasileiros de software. Conhecidos pela habilidade e criatividade na elaboração de jogos para celular e videogames, os profissionais tupiniquins poderão investir em um novo filão, o de aplicativos que rodarão nos aparelhos receptores de TV digital.
A interatividade é um dos recursos mais celebrados da TV digital. Na prática, as emissoras poderão enviar junto com a programação dados e aplicativos que rodarão no receptor. A gama de aplicações é a mais variada: desde jogos, notícias, guias de entretenimento até programas governamentais, incluindo informações ao cidadão, consultas a serviços públicos e votações.
As aplicações podem funcionar de duas formas: localmente ou em comunicação com a emissora. No primeiro caso, o usuário simplesmente recebe o aplicativo e executa na sua TV sem enviar dados de volta. Nesta categoria podem ser incluídos, por exemplo, os guias de programação, notícias e estatísticas sobre jogos esportivos.
Já as aplicações de interatividade remota que requerem um canal de comunicação com a emissora (o chamado canal de retorno) levam as possibilidades a um horizonte ainda mais amplo, que inclui respostas a enquetes, consultas a bases de dados, compras pela TV, entre muitas outras possibilidades.
Antes de entrar nos pormenores técnicos, é preciso pensar que a criação de aplicações para TV digital deve respeitar alguns critérios comportamentais. Embora possa ter uma tela tão grande ou maior que a de um computador, a TV não possui teclado o que significa que os comandos estão restritos aos botões de um controle remoto.
A
questão da distância é outro ponto a ser observado não se assiste à
TV tão de perto quanto se utiliza o computador ou o celular. Textos
longos e letras pequenas, portanto, não são muito viáveis. Além disso,
a TV tem um caráter coletivo, diferente do PC e do telefone móvel, que
também deve ser levado em conta.
A postura do espectador é o
fator principal. No computador, ela é ativa e na TV, contemplativa,
observa Faiçal Farhat de Carvalho, consultor técnico da FITec, que
produziu aplicações de prova de conceito para TV digital, pedido do
consórcio do padrão norte-americano (ATSC).
Mercado
Além
das emissoras de TV, que distribuirão conteúdo junto com a programação,
e do governo, que pretende aproveitar a tecnologia para promover
iniciativas em saúde e em educação, um dos mercados potenciais para o
desenvolvedor de aplicativos para TV digital é o de publicidade.
A
interatividade abrirá uma série de possibilidades aos anunciantes, que
terão a opção de enviar informações adicionais aos espectadores e,
utilizando o canal de retorno, até mesmo fazer transações de compra em
tempo real. O desenvolvimento destes aplicativos ficará a critério do
anunciante e não da emissora, que só enviará o sinal. Portanto, ao
menos nesse filão, é certo que os programadores encontrarão
oportunidades.
Mas, para Marcelo Zuffo, coordenador do
Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Universidade de São Paulo,
o desenvolvedor brasileiro deve voltar sua atenção principalmente ao
mercado externo. Essa será a grande chance para o profissional
brasileiro conquistar um espaço de destaque no mercado mundial,
defende o pesquisador.
Segundo Zuffo, uma das preocupações do
grupo de padronização da TV digital é justamente garantir que as
aplicações desenvolvidas no Brasil possam ser vendidas para outros
países. É o que temos de melhor para oferecer. O hardware tende a se
tornar commodity, concorda Daniel Pataca, pesquisador do CPqD.
Por
isso, o middleware camada de software que roda sobre o sistema
operacional e a máquina virtual e permite que a mesma aplicação
funcione em diferentes modelos de equipamentos receptores sem
necessidade adaptações desenvolvido no Brasil deve abarcar aplicações
criadas para todos os sistemas vigentes no mundo: norte-americano
(ATSC), o europeu (DVB) e o japonês (ISDB), que adotamos como
referência para o nosso próprio sistema.
Essa é uma vantagem
para os programadores, já que os aplicativos para celulares, por
exemplo, não têm padronização, exigindo que um mesmo software tenha que
ser reescrito ou adaptado para rodar em aparelhos dos diferentes
fabricantes.
De acordo com o pesquisador, a plataforma de
referência do middleware brasileiro, que permitirá aos desenvolvedores
criar as aplicações para TV digital, deve ser divulgada ainda no início
de 2007. Mas ele adianta: conhecimentos em linguagens de
desenvolvimento para web, e padrões como Java e XML serão fundamentais.
Antes
de qualquer decisão é preciso resolver a questão do pagamento de
royalties, diz Zuffo, em relação ao uso do Java como linguagem de
referência para as aplicações voltadas a TV digital no Brasil. No que
depender da Sun, este não deve ser o empecilho: a companhia já
sinalizou que deve abrir o código-fonte do Java até o início de 2007,
eliminando a necessidade de pagar pelo uso da linguagem.
Zuffo
justifica a opção pela linguagem: "O Brasil tem 37 mil programadores em
Java". Segundo o pesquisador, a plataforma de referência para as
aplicações de TV digital será escalável, se estendo a celulares,
set-top boxes (receptores) e qualquer outro hardware que for receber o
sinal digital.
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