Olá Ruoso, Como eu disse em outro email, o debate seria em torno da compatibilidade entre S.L. e Capitalismo. É bem claro para mim que S.L. e Socialismo são coisas distintas, postei o texto numa forma de contrapor o senso comum, mas vou comentar algumas coisinhas. Discutir com sociólogo sobre sociologia é foda :-P
Existem duas coisas que você misturou no texto do qual não concordo. Uma é que o S.L. tem uma base no liberalismo, pois sabemos que dentro dessa linha temos duas grandes correntes: Com e sem Copyleft. Outra coisa é quando você fala que por ter uma fundamentação neo-liberal, ele é compatível com o Capitalismo. Primeiro se pegarmos a idéia do copyleft, temos uma contraposição bem interessante ao liberalismo, onde esse prega a visão de liberdade individual (tenho direito a explorar, privatizar coisas e etc) e se comprõe completamente, pois ele prega a liberdade coletiva. Dessa forma, é muito compreensível que desenvolvedores do X e outros projetos não copyleft simpatizem mais com o Liberalismo do que com o Socialismo (esse manchado pelo facismo do Stanilismo). Por outro lado, assisti uma palestra (a única ao vivo) do Stallman no Latinoware 2007 e lá ele chegou a bater no Banco Mundial e no FMI devido a política desses contrária a liberdade de Software e favorecendo os monopólios (teve outros aspectos que se aproximava da esquerda tradicional, mas não convém agora). Dessa forma, temos um corte que você não fez que são as duas correntes do SL. Assim eu concordo com vc que a filosofia contrária ao copyleft pode ser baseada no liberalismo, mas discordo com a copyleft. Assim, vamos ao concreto: qual dos dois significa mais o movimento software livre? Acredito que desde de cedo o copyleft foi a principal bandeira. O segundo ponto pensemos na questão da compatibilidade entre o S.L. e o Capitalismo. O S.L. contradiz a questão da acumulação de algo na mão de poucos e também quebra a relação de classes dentro da produção de softwares, pois quem é o chefe da produção? Talvez alguém pense que o mantenedor ou algo assim, mas ele seria como 'representante" e não o proprietário, quem seriam os trabalhadores? Esses estariam produzindo para quem? Talvez o S.L. possa ter uma influência dos pensamentos dos neo-liberais. Porém eu não vejo que é possível rompermos a lógica do privado (S.L. rompe isso) e passar para a lógica do compartilhado/de todos por dentro do Capitalismo, seria, no extremo, como se fosse possível acabar com a idéia de propriedade privada dentro do Capitalismo. Na lista psl-brasil, eu citei outro exemplo tentando fazer um paralelo com relação a reforma agrária e seus movimentos (MST acredita que só é possível a reforma agrária quando rompermos com o sistema). Por outro lado, o Capitalismo é muito ágil e consegue transformar essa lógica de "romper com privado e etc" para algo como "melhor modelo de desenvolvimento tecnico", ou seja, passando de Software Livre para Open Source. Num é curioso as grandes empresas que trabalham com S.L. preferirem o termo OpenSource? 2009/1/19 Daniel Ruoso <dan...@ruoso.com> > > > Também contrariando a dimensão da "Democracia", tão importante para o > "Socialismo" contemporâneo, a comunidade software livre explicitamente > rejeita a democracia, não há nenhuma intenção para que se dê igualdade > de oportunidade de influência nas decisões, muito pelo contrário, a > desigualdade é o principal mecanismo de defesa da comunidade software > livre. Quem contribui mais decide mais, quem não contribui não decide. > > E não interessa se o "desenvolvedor" se torna um grupo que tem mais > poder de decisão nos futuros do software livre, do ponto de vista da > comunidade software livre, é melhor assim: "want a bug fixed, send a > patch". > > Isso ajuda a entender porque muitas vezes uma boa idéia que é mandada > por um usuário a uma lista de discussão simplesmente não repercute. Isso > não significa que não seja uma boa idéia, significa simplesmente que > nenhum desenvolvedor se motivou com ela, de forma que quem submeteu a > idéia fica desafiado a prová-la como boa idéia. E na hora que ela > estiver implementada e realmente se mostrar interessante, os outros > desenvolvedores irão aderir a ela, mas nada disso irá se decidir em uma > assembléia. Eu entendo isso, mas discordo que não temos uma democracia dentro dos projetos de Software Livre. Como você mesmo já comentou, não misturemos democracia com democratismo. Temos que analisar direitim as coisas. Peguemos o projeto Debian (me corrija se eu falar besteira, pois sou apenas observador do projeto, diferente de você). Nele existem as votações onde os desenvolvedores do projeto podem votar, somente eles, mas isso não seria uma democracia? Lógico que é! É o mesmo que você dizer "Para ser democracia todos tem que poder votar", mas perai! Isso não é real, para você votar/participar das decições você precisa fazer parte daquela comunidade/movimento, seria o mesmo que dizer que o Movimento Estudantil/Sindical/Agrário não é democrático, pois se você não é estudante daquela universidade não tem direito a voto nos espaços de decisão do movimento estudantil daquela. Então acredito que no S.L. é a mesma coisa, mas o que faz você "ser da comunidade/movimento" é você ser desenvolvedor, algo bastante compreensível visto que estamos falando de desenvolvimento de programas :-). Por exemplo: durante 4 anos eu participei do Movimento Estudantil da UFC (Federal do Ceará) e nos espaços de decisão existiam as seguintes hierarquias: 1- Assembléia geral (todos os estudantes da UFC poderiam votar/falar), mas é difícil organizar e só se dá de anos em anos. 2- Congresso dos Estudantes (dependendo pode ser por delegados, ou seja, alguns mais envolvidos com as reivindicações podem votar, mas todos estudantes podem falar) 3- Conselhos de Entidades de Base: todos os estudantes que estejam em CA's,DA's tem direito a voto. 4- Diretoria do Diretório Central dos Estudantes (Grupo de pessoas eleitas anualmente). Eu vejo isso de forma bem similar ao desenvolvimento de Softwares, pois em vez dos critérios serem "estudante da UFC" passam a ser "desenvolvedor do Proj. Debian". Em alguns casos temos o que chamam de "ditador" (Exemplo Linus no proj. Linux), mas isso é de consenso geral. As vezes achamos que a democracia só pode ser exercida se existir troca dos representantes (isso é baseado no senso comum da direita) de poucos em poucos tempos, mas a democracia não está na escolha dos representantes e sim nas definições das ações/práticas a serem tomadas. Voltando ao exemplo do Linux, se o Linus decidir fazer uma coisa que todo o restante do projeto não concorda lógico que teremos um fork, então é ai que o equilíbrio democrático se mantém. Lógico que existem projetos mais e outro menos democráticos, assim como existem correntes do socialismo mais e outras menos democráticas. Abração, Roberto Parente
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