Heitor, 

> Julio / Anahuac,

> Eu gostaria de entender melhor essa questão. Apesar do Termo de Licença ser
> bastante genérico parece haver segregação entre os canais de distribuição de
> software livre e proprietário. E durante a instalação existe um checkbox bem
> grande perguntando se deseja usar código não-livre também.
> Ainda uso Ubuntu por preguiça, até porque considero o Unity um lixo e até o
> Gnome 3 quando instalado tem apresentado alguns bugs com o driver de vídeo.
> Mas não compreendo essa iniciativa de proibição do Ubuntu.

Primeiro não é proibição, e recomendação. 

Segundo: para ajudar a entender a recomendação de não uso do Ubuntu em um 
evento como o FLISOL veja... 

Depois de algum tempo decidi que é hora de colocar alguns pingos nos is sobre a 
temida "microsoftização" da Canonical. Sim parece que já parti para porrada na 
primeira linha do texto e na verdade não tenho me aguentado de indignação com a 
empresa e suas atitudes levianas, para quem a tinha em altíssima estima. 
Imagino que os leitores assíduos da Veja devem ter se sentido da mesma forma 
quando o véu de paladino da ética, do ex Senador Demóstenes Torres, foi 
removido pelas provas de seu envolvimento em atividades ilegais. Resumindo, 
este é o gosto da traição. 

A Canonical sempre foi um exemplo de como fazer bons negócios com Software 
Livre. Mesmo vivendo no limite entre o que as licenças livres permitem e o que 
o mundo dos negócios convencionais exige, ela sempre soube balancear a carga de 
respeito ao usuário e o "make money". Suporte a diversas comunidades, os 
repositórios PPA´s, patrocínio a diversos eventos e salários dignos aos seus 
profissionais. Tudo muito bem, e não tem sido por outro motivo que eu e tantos 
outros velhos usuários (ou seríamos usuários velhos) temos difundido o Ubuntu 
como uma opção viável e de confiança tanto em casa quanto no mundo corporativo. 

Enquanto a Canonial parecia fazer tudo certo, outras distribuições GNU/Linux 
escolhiam caminhos mais tortuosos e até sinistros, como a SuSE que fez acordos 
amplos com a Microsoft ou a RedHat que mantém suporte ostensivo a hardware 
proprietário cheio de firmwares proprietários no seu Kernel. Mas diga-se a 
verdade: todas as distros estão, sempre, buscando formas de capitalizar e 
aumentar seus lucros, afinal de contas elas são empresas e como tais não tem 
nenhum outro interesse além de gerar riqueza para sí e para os seus. 

A Canonical sempre beirou a linha vermelha, mas não me lembro de que ela a 
tenha cruzado de forma tão aviltante antes. Sendo usuário desde a versão 4.04 
tenho uma longa história com o Ubuntu e tenho acompanhado diversos debates, 
discussões, erros e acertos, mas o resultado tinha sido sempre digno e dentro 
de uma margem aceitável (se isso existe) de respeito aos dois lados da moeda. 
Me lembro bem quando a Canonical decidiu inserir código proprietário no kernel 
do Ubuntu. Na dúvida avise, pergunte e consulte sua base de clientes: ela fez 
isso e decidiu colocar um aviso no instalador, permitindo que o usuário decida 
se quer ou não instalar esses códigos malévolos que deixam a maioria dos 
usuários felizes. O respeito à escolha e intervenção do usuário foi tamanho, 
que até mesmo os críticos, como eu, terminaram entendendo que ter direito de 
escolha faz parte do jogo. 

O Ubuntu passou por diversas transformações, mudando de interface, mudando de 
repositórios, incluindo uma série de amigabilidades de uso e tornando-se a 
distribuição mais sólida para usuários domésticos. Instalar, desinstalar, 
copiar, produzir, tocar e navegar sempre foram ações feitas com naturalidade e 
robustez. Tanto que minha sogra com setenta e muitos anos (espero que ela não 
leia este artigo) o usou por anos. 

Eis que na sua versão 12.04 descobre-se que a Canonical está coletando dados do 
seu desktop e enviando-os para seus servidores, sem que você saiba que isso 
está acontecendo. Você não foi consultado. Não apareceu uma telinha perguntando 
se você aceitava. Não houve nenhuma interação comigo, contigo, nem com ninguém. 
A Canonical decidiu, de forma unilateral, silenciosa e no melhor estilo 
Microsoft de fazer as coisas, ativar um recursos de invasão de privacidade não 
autorizada. Lindo não é? 

Deixemos isso claro: uma das maiores empresas de Software Livre do mundo, que 
baseia seus negócios no respeito aos usuários, na transparência, no 
compartilhamento de código decidiu fazer o oposto do que prega. E sem combinar 
nada com ninguém. 

Eu não sou contra fazer negócios e ganhar grana. Nunca critiquei a capacidade 
negocial da Canonical e sempre fui um defensor ferrenho do direito da RedHat se 
esconder por trás de seus contratos de manutenção para criar um novo tipo de 
licenciamento proprietário sobre software livre. As regras existem e as brechas 
nelas também. O Mundo é dos espertos, certo? E como diz o ditado: posso não 
concordar com suas ideias, mas dou minha vida para defender o seu direito de 
expressá-las. 

Então porque uma empresa do calibre da Canonical toma uma atitude dessas? 
Dinheiro? Mercado? Dominação? provavelmente a resposta será sim para todas 
essas perguntas. O problema é que assim, a Canonical cruza a linha vermelha e 
deixa, para mim, um gosto amargo de Microsoft na boca. Sim porque quem age 
dessa forma unilateral, sem dar a mínima para a privacidade dos seus usuários 
sempre foi a MS. Vide o exemplo do monitoramento do Skype e o cúmulo de que 
agora não se pode mais remover sua conta de lá! 

Pode-se argumentar que empresas como Cara de Livro (facebook) e Óculos (google) 
fazem o mesmo em uma escala muto maior, o que e verdade, mas há uma, nada 
sutil, diferença: eles deixam claras as regras do jogo desde a segunda tela de 
criação do usuário, ou seja, você sabe que será monitorado, vasculhado e decide 
entregar sua vida à uma base de dados do FBI ou do sistema de propagandas da 
Amazon. Se você não liga e não acha que há nenhum problema em ceder sua 
intimidade, parabéns! Mas isso está claro desde o início. Eu não aceito e não 
tenho uma conta no Cara de Livro. 

Se a Canonical me desse a opção de ativar ou não a tal pesquisa de dados no meu 
desktop eu certamente não teria ativado. Essa opção tinha que ter vindo 
desabilitada, com uma telinha linda pedindo que você aceite e permita que as 
consultas sejam feitas. Tinha que ter sido assim. Se tivesse sido assim, eu, 
provavelmente, estaria aqui redigindo um artigo defendo o seu direito a 
fazê-lo. Mas ela agiu às escondidas, se esgueirando pelo frio fio da enganação. 
Quebrou-se o limite, rompeu-se o fino fio da ética que mantinha a Canonical do 
lado de cá. 

Conhecendo o poder tecnológico e as brilhantes mentes técnicas por trás do 
Ubuntu, e somando-se o sentimento de "é isso mesmo" que se segue à quebra da 
moral, tenho muito receio de todos os outros recursos de invasão que estarão 
escondidos em cada cantinho de cada código disponibilizado pela Canonical. 
Paranoico? Radical? Extremista? Comunista? Pode ser, mas para me deixar 
tristinho terão que procurar adjetivos mais fortes. 

Desde que entendi a dimensão moral e ética da situação decidi não usar mais 
Ubuntu. Decidi dar uma chance às outras distribuições que estão no mercado e 
apesar de ter uma predileção direta pelo Debian, decidi testar o OpenSuse 12 e 
tenho que confessar que estou super satisfeito. Em termos de beleza, 
amigabilidade e desempenho posso lhes garantir que está melhor que o Ubuntu. 

Quero agradecer imensamente ao Richard Stallman e à FSF por ter dado o alerta e 
ter avisado ao Mundo sobre a "microsoftização" da Canonical. E se você não se 
importa com isso, obrigado por ter lido até aqui, mas volte para sua Matrix. Se 
você se importa, deixe de usar Ubuntu, quem sabe eles aprendem a fazer as 
coisas do jeito certo e não ceder a esse tipo mesquinho, feio, pobre, burro e 
principalmente, desonesto de fazer dinheiro. 

A provocação do amigo Júlio Neves nunca foi tão verdadeira: o Ubuntu é o 
verdadeiro Linux Vista! 

Saudações Livres! 

-- 
Anahuac de Paula Gil 

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