Re: [Logica-l] a lógica /n|d/+as aulas de matemática

2023-12-27 Por tôpico Walter Carnielli
Olá João e. outra(o)s   interessados:

Dou aqui minha contribuição sobre a questão. Estudei matemática de
forma profissional na Unicamp  por 7 anos, bacharelado,  mestrado e
doutorado,e depois   pós-doutorado na Universidade de Califórnia e em
Münster, na Alemanha. Nunca.  ninguém usou coisas  elementares de
lógica em disciplinas e matemática, nem  no IMPA, na Unicamp, USP,
Berkeley, , Münster, etc, Mas todos  tinham. por trás  a. premissa
que os estudantes sabiam essas coisas. através do ensino médio.
(chamado "colegial". na. época, muito. melhor. nome).

E de fato durante meus 7 anos de "ginásio" e. "colégio"no Culto  à
Ciência os professores de  matemática, com  formação em Rio Claro e na
PUC na época, tinham uma boa noção de lógica, pelo menos intuitiva.
Não citavam a questão da completude,  ou compacidade,  mas
enfatizavam o seguinte:

1)  "Similaridade " (isomorfismo) ) entre  as operações lógicas e as
operações conjuntistas (no fundo,  uma versão intuitiva do Teorema de
Representação de  Stone.).
2) Falavam dos procedimentos  ds. prova. por redução ao absurdo,
baseado na. tabela da . implicação, em especial usos de equivalência
em demonstrações elementares  de  trigonometria
3) Mencionavam sempre as tabelas  usuais  da  conjunção, disjunção,
implicação, negação para. guiar  o raciocínio
4) Sempre se mencionavam rudimentos de. lógica  quantificada
(existencial, universal, etc)
5) Esclarecem o papel dos axiomas principalmente em geometria
6) Mostravam métodos heurísticos de solução de e problemas  com régua
e compassos (como o método de e Pappus de Alexandria, em "supor  um
problema resolvido para tentar a solução"  )
etc.

Tudo isso a gente já sabia quando entrava em um curso de matemática,
física, engenharia e computação.  Nao se vê  mais nada disso, Os
professores de ensino médio não têm a menor ideia.
Mas de fato, alguns expositores no YouTube, da velha escola, mencionam
 coisas assim.
Por tudo isso   acho fundamental voltar a  ensinar  essas coisas aos
nossos estudantes universitários,

Abs

Walter

Em ter., 26 de dez. de 2023 às 12:46, Joao Marcos  escreveu:
>
> PessoALL:
>
> Uma conversa com um colega estes dias me motivou a escrever a presente
> mensagem, que tem tanto um componente sociológico quanto um componente
> mais propriamente lógico (bem como um interesse de fundo pedagógico).
>
> %%%
>
> (A)
>
> Segundo meu colega, é bem comum nas aulas, nos vídeos e nos livros de
> Matemática pelo Brasil (talvez fora do Brasil também?) um uso mais ou
> menos relaxado[§] da Lógica para justificar certas passagens
> argumentativas.  Em particular, muitos professores de Matemática
> presumivelmente acenariam para a possibilidade de justificar
> estratégias de demonstração (digamos, o raciocínio por contraposição)
> usando *tabelas de verdade*, o que também explicaria a razão pela qual
> vários livros de "matemática elementar" ---usados a nível de
> graduação, vejam bem---, bem como vários vídeos no YouTube também
> falariam de tabelas de verdade como um procedimento matematicamente
> relevante para esclarecer ou fundamentar a lógica subjacente a um
> determinado argumento matemático.
>
> [§] O adjetivo "relaxado", acima, aponta para usos absolutamente
> informais de tautologias como justificativas para certas passagens,
> através de rabiscos feitos ao lado da demonstração principal, no
> quadro, supostamente para "explicar por que a coisa funciona".
> Note-se, em particular, que em tais usos nunca há qualquer menção a
> resultados de completude, digamos, conectando tabelas e demonstrações
> formais (ou semi-formais).
>
> As primeiras perguntas que me vêm à mente sobre aquilo que foi relatado acima:
> (A1) Quais as opiniões de vocês ---seja como discentes, seja como
> docentes--- acerca das situações suprarreferidas, a partir de suas
> experiências em sala de aula?
> (A2) Quais destes procedimentos ---tabelas de verdade? argumentos
> dedutivos? estratégias de demonstração?--- poderiam (ou deveriam) ser
> trazidos para mais cedo, para o ensino pré-universitário, com alguma
> vantagem para os alunos?
>
> (A minha impressão inicial sobre A2 seria de que não há nada no
> procedimento das tabelas de verdade, em particular, possivelmente
> usadas para ensinar "raciocínio lógico" ---resolver charadas, por
> exemplo---, que precise ou deva esperar até além do Ensino Médio.  Mas
> também não estou seguro de o quanto isto tudo ajudaria quando a
> "matemática de verdade" ---vejam o item B, abaixo--- chega, no Ensino
> Superior.)
>
> %%%
>
> (B)
>
> Esta segunda parte é talvez mais opiniosa (opiniática?), da minha parte.
>
> Mesmo ciente de que muitos livros de "matemática elementar" têm seus
> capítulos sobre lógica proposicional, incluindo tabelas de verdade, e
> mesmo ciente de que vários colegas gastam boas aulas sobre este
> assunto (e não estou falando de aulas sobre Circuitos Lógicos), por
> exemplo, em um curso inicial de Matemática Discreta, de Topologia, ou
> de Análise, parece-me algo surpreendente que a

Re: [Logica-l] a lógica /n|d/+as aulas de matemática

2023-12-27 Por tôpico Joao Marcos
> Obrigado pela reação, Alfredo!

Corrigindo (mais uma vez): ADOLFO!

[]s, JM

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Re: [Logica-l] a lógica /n|d/+as aulas de matemática

2023-12-27 Por tôpico Joao Marcos
> Desculpa, mas parei no (A).
> Teria algum exemplo concreto de (A)?
> Não acompanho estes livros nem estes canais no YouTube (apesar de eu ter um 
> canal no YouTube, bem pequeno, por sinal, não costumo ver vídeos no YouTube).

Obrigado pela reação, Alfredo!  Não tenho exemplos concretos a listar,
infelizmente, pois me recusei a ver os ditos vídeos, por puro mau
feitio... 8-/  Mas ele me garantiu que o dito procedimento é
comuníssimo na comunidade matemática (brasileira?), e que "não é
possível que eu não tenha visto isso centenas de vezes em sala de
aula, na graduação".

Posso de todo modo pedir para o meu colega fazer uma listinha.  O
único exemplo específico que eu me lembro de ele ter citado na nossa
conversa foi uma justificação da estratégia dedutiva de
*contraposição* através da verificação de uma tabela de verdade
envolvendo implicação e negação.

Abraços, Joao Marcos

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Re: [Logica-l] a lógica /n|d/+as aulas de matemática

2023-12-27 Por tôpico Adolfo Neto
Desculpa, mas parei no (A).
Teria algum exemplo concreto de (A)?
Não acompanho estes livros nem estes canais no YouTube (apesar de eu ter um
canal no YouTube, bem pequeno, por sinal, não costumo ver vídeos no
YouTube).

On Tue, Dec 26, 2023, 12:46 PM Joao Marcos  wrote:

> PessoALL:
>
> Uma conversa com um colega estes dias me motivou a escrever a presente
> mensagem, que tem tanto um componente sociológico quanto um componente
> mais propriamente lógico (bem como um interesse de fundo pedagógico).
>
> %%%
>
> (A)
>
> Segundo meu colega, é bem comum nas aulas, nos vídeos e nos livros de
> Matemática pelo Brasil (talvez fora do Brasil também?) um uso mais ou
> menos relaxado[§] da Lógica para justificar certas passagens
> argumentativas.  Em particular, muitos professores de Matemática
> presumivelmente acenariam para a possibilidade de justificar
> estratégias de demonstração (digamos, o raciocínio por contraposição)
> usando *tabelas de verdade*, o que também explicaria a razão pela qual
> vários livros de "matemática elementar" ---usados a nível de
> graduação, vejam bem---, bem como vários vídeos no YouTube também
> falariam de tabelas de verdade como um procedimento matematicamente
> relevante para esclarecer ou fundamentar a lógica subjacente a um
> determinado argumento matemático.
>
> [§] O adjetivo "relaxado", acima, aponta para usos absolutamente
> informais de tautologias como justificativas para certas passagens,
> através de rabiscos feitos ao lado da demonstração principal, no
> quadro, supostamente para "explicar por que a coisa funciona".
> Note-se, em particular, que em tais usos nunca há qualquer menção a
> resultados de completude, digamos, conectando tabelas e demonstrações
> formais (ou semi-formais).
>
> As primeiras perguntas que me vêm à mente sobre aquilo que foi relatado
> acima:
> (A1) Quais as opiniões de vocês ---seja como discentes, seja como
> docentes--- acerca das situações suprarreferidas, a partir de suas
> experiências em sala de aula?
> (A2) Quais destes procedimentos ---tabelas de verdade? argumentos
> dedutivos? estratégias de demonstração?--- poderiam (ou deveriam) ser
> trazidos para mais cedo, para o ensino pré-universitário, com alguma
> vantagem para os alunos?
>
> (A minha impressão inicial sobre A2 seria de que não há nada no
> procedimento das tabelas de verdade, em particular, possivelmente
> usadas para ensinar "raciocínio lógico" ---resolver charadas, por
> exemplo---, que precise ou deva esperar até além do Ensino Médio.  Mas
> também não estou seguro de o quanto isto tudo ajudaria quando a
> "matemática de verdade" ---vejam o item B, abaixo--- chega, no Ensino
> Superior.)
>
> %%%
>
> (B)
>
> Esta segunda parte é talvez mais opiniosa (opiniática?), da minha parte.
>
> Mesmo ciente de que muitos livros de "matemática elementar" têm seus
> capítulos sobre lógica proposicional, incluindo tabelas de verdade, e
> mesmo ciente de que vários colegas gastam boas aulas sobre este
> assunto (e não estou falando de aulas sobre Circuitos Lógicos), por
> exemplo, em um curso inicial de Matemática Discreta, de Topologia, ou
> de Análise, parece-me algo surpreendente que as *tabelas de verdade*
> tenham um papel muito relevante para justificar argumentações
> matemáticas mais sofisticadas.  Com efeito, se é fácil imaginar como
> usar tabelas de verdade para procedimentos _refutativos_, por exemplo,
> usar a tabela de verdade da implicação para justificar porque a
> sentença A-implica-B é falsa quando A é verdadeira e B falsa, ou como
> usar a tabela de verdade da disjunção para justificar a falsidade de
> uma sentença da forma A-ou-B dada a falsidade de ambos e B, parece-me
> no mínimo desafiante usar diretamente as tabelas da implicação ou da
> disjunção para justificar, digamos, uma demonstração por _raciocínio
> hipotético_ ou uma demonstração por _raciocínio por casos_ (e eu
> provavelmente estenderia a minha perplexidade de modo a cobrir
> praticamente qualquer outra estratégia matemática clássica de
> argumentação).
>
> As primeiras perguntas que me vêm à mente, neste caso, são:
>
> (B1) Será mesmo o caso que é útil recorrer a tabelas de verdade (ou
> lógica proposicional) para justificar estratégias matemáticas mais
> sofisticadas (e absolutamente comuns)?  Se pensamos em um curso de
> Análise Real, por exemplo, os passos argumentativos de mais interesse,
> logo nas primeiras aulas, envolvem quantificadores aninhados.  Se
> pensamos em um curso de Matemática Discreta, conceitos como
> divisibilidade, congruência-módulo, supremos e ínfimos pressupõem que
> entendemos como lidar com expressões quantificadas.  As equivalências
> lógicas que poderiam "facilitar a vida", nestes casos, geralmente
> envolvem mais do que conectivos proposicionais --- e quer me parecer
> que nem mesmo os fragmentos proposicionais das ditas equivalências, no
> fundo, _precisam_ ser justificados via tabelas de verdade.
>
> (B2) Consideremos um teorema "típico" de livro-texto, em Matemática: