O Fiasco da
Inteligênciahttp://scienceblogs.com.br/100nexos/2010/04/o_fiasco_da_inteligncia.php
[image: toy2r-emilio-garcia-jumping-brain-toy]
[image: rb2_large_gray1] Em um futuro distante, a humanidade finalmente
descobre sinais de uma civilização alienígena no planeta Quinta próximo de
*Beta Harpiae*, e uma ambiciosa missão é enviada para estabelecer contato.
Mas este é um romance de *Stanislaw Lem*,
*Fiascohttp://en.wikipedia.org/wiki/Fiasco_%28novel%29
* (1987), e a história é muito diferente dos lugares comuns da ficção
científica.
Depois de vencer as enormes distâncias, a missão se depara com um pequeno
problema: os alienígenas não estão minimamente interessados em estabelecer
contato. Descobre-se que, de certa forma, pior do que encontrar uma
civilização alienígena hostil é encontrar uma civilização alienígena
completamente indiferente à existência da humanidade. O oposto do amor não é
o ódio, é a indiferença.
Com o orgulho mais do que ferido, os humanos da missão não se contentarão
até cumprir o objetivo tão simples de estabelecer contato. Tomarão medidas
cada vez mais drásticas para chamar a atenção dos Quintanos, completamente
alheios ao fato de que os Quintanos, como alienígenas, simplesmente pensam
de forma alienígena.
O final do romance é o fiasco do título, enquanto o protagonista finalmente
descobre por que os ETs não receberam os humanos de braços abertos, no tão
almejado e presumivelmente simples contato.
Provocador como possa ser, e leitura mais do que recomendada, não é preciso
viajar até *Beta Harpiae* para encontrar inteligências diferentes da nossa.
Cérebros de Passarinho
Incrivelmente, uma destas inteligências superiores é a dos pombos. Em um
trabalho publicado recentemente, *Walter Hebranson* e *Julia
Schroder*demonstraram como pombas comuns (
*Columba livia*) podem aprender a melhor tática para o problema de Monty
Hall muito mais rapidamente que os tais orgulhosos seres humanos, que de
fato podem jamais adotar a melhor estratégia.
Isso ocorre porque o problema de Monty Hall é literalmente uma pegadinha
com um resultado contra-intuitivo. Já escrevi sobre o tema em um texto
anteriorhttp://www.ceticismoaberto.com/ciencia/2096/a-porta-dos-desesperados-ou-o-problema-de-monty-hall,
mas basicamente envolve três portas, uma das quais tem um prêmio. Você
escolhe uma porta, e então uma das outras duas portas, que não contém o
prêmio, é aberta. Finalmente vem a pergunta que testará se sua inteligência
é superior à de um pombo: é vantajoso trocar a porta que você escolheu
inicialmente pela porta que restou?
[image: monty-hall-problem-doors]
A maioria das pessoas utilizará parte de seus 100 bilhões de neurônios e
concluirá que, restando duas portas, apenas uma das quais tem o prêmio, as
chances de que qualquer uma delas seja a premiada é de 50%. Não faria
diferença trocar ou não de porta.
E é aqui que pombos, com seus cérebros menores que uma noz, o humilharão.
Treinados no experimento de Hebranson e Schroder, onde o prêmio era algo tão
simples como alpiste, eles ajustaram sua estratégia para a melhor resposta,
que é
*trocar*. Porque no problema de Monty Hall, ao trocar você terá o
dobro de chances de levar o prêmio. Se permanecer com a escolha inicial,
terá apenas 1/3 de chances de ganhar. Se isto lhe parece absurdo, confira o
textohttp://www.ceticismoaberto.com/ciencia/2096/a-porta-dos-desesperados-ou-o-problema-de-monty-hall,
ou experimente simular o problema milhares de vezes
aquihttp://people.hofstra.edu/steven_r_costenoble/MontyHall/MontyHallSim.html,
aqui http://math.ucsd.edu/%7Ecrypto/Monty/monty.html ou
aquihttp://www.userpages.de/monty_hall_problem/,
porque este é um resultado tão matematicamente certo quanto 1+1=2.
Pombos não são, claro, realmente mais inteligentes que eu ou você, esta foi
apenas uma provocação. Porém neste caso específico, apesar ou exatamente por
causa de sua inteligência limitada, foram capazes de perceber após muitas e
muitas tentativas que trocar é a melhor estratégia. Um ser humano é capaz de
dar uma resposta errada antes mesmo de qualquer tentativa, simplesmente
porque é capaz de modelar o problema mentalmente e aplicar raciocínios
lógicos. Ainda que incorretos.
A lição fabulosa está neste trecho do sumário do trabalho:
A replicação do procedimento com participantes humanos mostrou que os
humanos falharam em adotar estratégia ótimas, mesmo com extenso
treinamento.
Isto é, presos à modelagem mental de que somos capazes com nosso fabuloso
cérebro mesmo antes de uma única tentativa, podemos deixar de perceber que
ela está incorreta mesmo após inúmeras tentativas reais que deveriam deixar
isto claro. A pesquisa ainda indicou algo fascinante: participantes
humanos mais jovens se saíram melhor que os mais velhos, talvez mais
propensos a observar os resultados do experimento do que confiar em seu
julgamento prévio.
Alguns poderiam dizer que jovens têm um cérebro mais parecido com o de um
passarinho, ao que um jovem poderia