Companheiros,

Veículo: GAZETA MERCANTIL

Caderno: INTERNET Data:01/08/2001 Edição:215

Assunto: Urnas eletrônicas 2002: a corrida contra o tempo 


     Com o estouro do escândalo do painel de votação do Senado há alguns
meses, a sociedade aprendeu
     que a informática é um instrumento que pode ser usado para o bem ou
para o mal, e que é possível
     projetar sistemas informatizados que possam ser subvertidos por
pessoas mal intencionadas, à revelia
     dos seus usuários (v. coluna de 23 de abril). O caso do painel foi
salutar, pois trouxe de volta à
     consciência nacional o assunto da segurança das urnas eletrônicas,
meio esquecido no meio da
     celebração da primeira eleição 100% eletrônica no País em outubro de
2000, logo antes da confusão
     da eleição presidencial nos Estados Unidos no mês seguinte. Há
semelhança imediata entre o caso do
     painel do Senado e das urnas eletrônicas: no caso de votação secreta
não há nenhuma maneira do
     votante ter certeza que seu voto foi dado de acordo com sua vontade. 

     A questão nos dois casos é função da absoluta ausência da auditoria do
seu voto pelo responsável. No
     painel, numa votação secreta só são mostrados os totais dos votos
contados. Na urna, é a mesma
     coisa. Em caso de dúvida, não seria possível ser realizada uma
recontagem dos votos. Têm razão os
     críticos deste projeto hermético adotado pelo Tribunal Superior
Eleitoral: não é cabível substituirmos o
     voto em papel por uso de uma caixa preta eletrônica, cujo
funcionamento é mantido secreto por seus
     projetistas e administradores. 

     A auditoria do voto foi uma das questões fundamentais examinadas pelo
Projeto de Tecnologia de
     Votação, criado pelas universidades tecnológicas norte-americanas MIT
e Caltech, para examinar a
     reforma da votação nos EUA depois do fiasco que foi a eleição
presidencial de 2000 nesse país
     (www.vote.caltech.edu). Este projeto, com o envolvimento de onze
cientistas de renome e coordenado
     pelos presidentes das duas universidades, já havia publicado em março
seu relatório preliminar sobre a
     eficácia de diferentes tecnologias de votação, e este relatório foi
discutida na nossa coluna de 2 de
     maio. Seu levantamento exaustivo do panorama norte-americano mostrou
que a tecnologia mais
     eficiente era a contagem de votos em papel, e que máquinas de votar,
inclusive as eletrônicas, tinha
     taxas maiores de votos em branco e nulos, o que era considerado
critério adequado de comparação. 

     Acaba de ser publicado em 16 de julho o relatório final deste projeto,
chamado "Voting - What is, what
     could be" (Votação - o que existe, o que poderia existir)
(www.vote.caltech.edu/Reports/index.html). Além
     de incluir e expandir o levantamento comparativo de tecnologias
incluído no relatório preliminar, o
     relatório final aponta caminhos. É generoso com a experiência
brasileira, louvando o esforço para
     melhorar o sistema eleitoral realizado ao longo da última década, e
sugerindo que os EUA adote
     também o modelo de investimento público em pesquisa em sistemas de
votação. Entretanto, a parte
     mais importante do relatório está contida nas páginas 58 a 64, onde se
propõe uma arquitetura modular
     de votação, que deva servir de base para o projeto de equipamentos de
votação. 

     Embora não seja essencial que os futuros equipamentos sejam
eletrônicos, isto será muito
     provavelmente o caso, e então a arquitetura proposta trata de evitar
os problemas conhecidos de
     segurança dos equipamentos eletrônicos atuais, tais como as urnas
brasileiras. Estes incluem, primeiro,
     a ausência de mecanismos de auditoria dos resultados, por não ser
produzida uma representação física
     de cada um dos votos dados. Em segundo lugar, concentrar toda a
funcionalidade em um único
     equipamento "monolítico" (integrado) implica num projeto complexo, e
complexidade excessiva tende a
     comprometer a segurança. 

     Portanto, a arquitetura proposta mantém claramente separados os dois
passos distintos seguidos pelo
     eleitor na votação tradicional e segura, na qual ele gera seu voto
marcando um papel, e registra este
     voto colocando-o numa urna. Na nova arquitetura, o eleitor primeiro
geraria seu voto com o auxílio de um
     equipamento eletrônico. Este equipamento, externamente semelhante à
urna atualmente usada nas
     eleições no País, permitiria escolher candidatos para todas as vagas
sendo contestadas. Porém, ele
     produziria uma representação física da vontade do eleitor, podendo ser
este impressa em papel, ou
     gravada em um cartão magnético. A segunda fase consistiria, primeiro,
em permitir o eleitor verificar
     que ele havia gerado corretamente seu voto. Caso tivesse sido impresso
em papel, esta verificação
     seria direto, pelo menos para o eleitor que não estivesse visualmente
deficiente, e depois o voto seria
     registrado, colocando o papel numa urna convencional, e os votos
seriam contados convencionalmente.
     Caso o eleitor discordasse com o voto gerado no papel, este papel
seria destruído, e o eleitor voltaria
     ao equipamento eletrônico para gerar o voto novamente. 

     Se tivesse sido usada a representação magnética, considerada a opção
mais provável no relatório,
     então o voto gerado seria verificado e registrado num segundo
equipamento, independente do primeiro.
     Este equipamento permitiria a leitura, mas não a modificação do cartão
magnético, e a visualização do
     voto gerado nele. Caso não estivesse satisfeito com seu voto, o
eleitor voltaria a fase de geração do
     voto, para corrigi-lo. Se estivesse satisfeito, então o voto seria
registrado eletronicamente, e o cartão
     seria selado fisicamente, para impedir futura modificação indevida, e
então guardado para possibilitar
     futura auditoria do voto. 

     Esta separação em dois equipamentos distintos torna a arquitetura mais
segura e mais flexível. É mais
     segura, porque a geração da representação física do voto permite a
auditoria independente do
     resultado da eleição. Adicionalmente, o equipamento crucial, do ponto
de vista da segurança do voto, é
     o segundo, que registra o voto, e ele teria um projeto muito mais
simples do que o primeiro, pois apenas
     trata de contar votos previamente gravados em formato padrão. Este
equipamento poderia ser
     projetado e implementado de forma publicamente aberta, e reutilizado
sem necessitar modificação da
     sua programação a cada eleição. Evidentemente o boletim de urna seria
fechado e assinado
     digitalmente, para autenticar seu conteúdo. A chave criptográfica da
urna seria fornecida, por exemplo
     num cartão inteligente, apenas quando usada numa eleição. A
flexibilidade da arquitetura proposta se
     deve aos poucos requisitos impostos no primeiro equipamento, cuja
segurança não é crítica ao sistema
     de votação, e que pudesse ser até um microcomputador pessoal qualquer,
desde que gerasse saída no
     formato padrão. Este projeto de arquitetura ideal poderá ser usado
como um padrão pelo qual podemos
     medir a adequação de soluções propostas para corrigir os defeitos
identificados nas urnas eletrônicas
     usadas no Brasil. Por enquanto, a única proposta em discussão pública
é o projeto do senador Roberto
     Requião, atualmente em pauta na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) do Senado. Embora tenha
     tido apressada a discussão na CCJ do projeto do senador Requião no
rastro do escândalo do painel de
     votação do Senado, seu progresso foi prejudicado pelo tumulto causado
no Senado pelas investigações
     posteriores dos senadores envolvidos com o painel, e mais recentemente
pelo afastamento do atual
     presidente do Senado. Apesar disto, no último dia 26 de julho o
senador Requião demonstrou no
     Senado uma implementação do seu projeto
     (http://www.senado.gov.br/agencia/noticias/2001/7/not263.asp). Também
esteve presente nesta
     demonstração o ex-governador Leonel Brizola, que mais tarde levou o
equipamento para o Tribunal
     Superior Eleitoral, onde foi também exibido para seu presidente, o
ministro Nelson Jobim

ministro Nelson Jobim

(www.mail-archive.com/voto-eletronico%40pipeline.iron.com.br/msg04918.html).
 O projeto do senador
     acopla uma impressora à urna atual, e, antes de registrar o voto do
eleitor, demonstra a este seu voto
     impresso em papel. Se o eleitor concordar com o voto impresso, ele o
confirma, o que o registra
     eletronicamente, como hoje, e ato contínuo guarda o papel impresso de
forma segura, para permitir
     auditoria do voto eletrônico. O projeto de lei do senador prevê que
uma amostra de 3% das urnas terá
     seus votos auditados, através da contagem dos votos em papel.
Evidentemente, esta proposta mantém
     semelhanças à arquitetura ideal concebida pela projeto MIT-Caltech, e
representaria um passo no
     sentido de dar maior segurança à eleição eletrônica. A legislação
eleitoral no País exige que mudanças
     nas eleições sejam aprovadas pelo menos um ano antes da realização do
pleito. Temos portanto pouco
     mais de dois meses para chegar a uma conclusão sobre a melhor forma de
dar segurança à votação
     nas eleições gerais de 2002. Com a palavra o Congresso Nacional e o
Tribunal Superior Eleitoral.
     Michael Stanton ([EMAIL PROTECTED]) que é professor titular de redes
do Instituto de Computação da
     Universidade Federal Fluminense 
Saudacoes PeTistas,

Evandro Oliveira
BHZ - MG

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