Silvio Meira,

Li com atenção seu artigo no meira.com sobre as urnas eletrônicas. Parece-
me que tanto você quanto eu sofremos do mesmo mal: a síndrome da velhinha 
de Taubaté. Eu teimo em acreditar que a urna eletrônica é segura, que 
ninguém está querendo me passar a perna, que posso confiar cegamente nos 
analistas e programadores do TSE, ou nos funcionários das empresas - 
nacionais e estrangeiras - contratados para desenvolver e operar as 
milagrosas engenhocas. E me parece que você tem este mesmo encanto.

Só que ultimamente eu ando pensando como serão as coisas daqui alguns anos, 
quando os funcionários honestíssimos do TSE e das empresas contratadas já 
estiverem aposentados, quando o Ministro Nelson Jobim (puxa, como ele fala 
bonito, hein, Silvio?) estiver em outra função, quando todo mundo 
considerar que estas urnas são tão banais quanto uma calculadora de bolso, 
que dá o resultado que precisamos sem que desconfiemos de que há um gênio 
do mal dentro dela. Ou quando eu finalmente me convencer de que o total de 
zero voto que meu candidato recebeu na minha seção embora eu tenha votado 
nele só pode ser burrice minha. Porque a urna não erra. Nem teria como. 
Programador não erra. E qualquer partido pode conferi-lo, já que o TSE dá 
cinco dias para isso. Aliás, falando nisso, Silvio, você viu que 
incompetência da Unicamp? Mais de seis meses para conferir os programas da 
urna, e nem conferiram tudo! Claro, o TSE não vai abrir todos os programas, 
porque iria demorar demais ou porque tem uns problemas de direitos autorais 
de umas empresas americanas que não podem ser violados. Mas, no fundo, só 
representam uns 10% de todo o código. E está na cara que se tiver alguma 
possibilidade de fraude, o fraudador não iria querer violar os direitos 
autorais dos americanos, não é verdade? E você bem explicou: os programas 
serão compilados e colocados nas 400 e poucas mil urnas na frente dos 
fiscais dos partidos. E, é claro, terminada a eleição, todos os partidos 
irão checar as 400 e poucas mil urnas para ver se a chave de segurança de 
cada uma está intacta.

Aliás, achei legal você discutir os modelos de criptografia que podem ser 
usados na urna. Tanto você quanto eu sabemos que não tem nada a ver, mas 
assim cala a boca daqueles desocupados do Fórum do Voto Eletrônico que 
reclamam de tudo, até de que o sorteio das urnas com impressão paralela 
feito na véspera é um absurdo. Os caras querem tudo! Primeiro tem que 
imprimir o voto para poder recontar. Depois tem que sortear as urnas a 
serem recontadas DEPOIS da eleição! Essa história de recontar os votos é 
tão maluca, você não acha? Você lembrou bem: os babacas dos americanos da 
Flórida quiseram recontar os votos e no que deu? Seis meses depois 
descobriram que Bush não tinha ganho. Ainda bem que tem gente de bom senso 
e encobriu esta história toda.

Você sabia que essa história de imprimir o voto foi idéia deles? Não basta 
o dinheiro que já gastamos nesta urna, ainda vamos ter que acoplar uma 
impressora. Conseguiram convencer alguns senadores e deputados e fizeram 
isso virar lei. Você não acha isso retrógado? Em pleno século XXI ainda 
imprimindo voto! Pois outro dia me perguntaram se eu aceitaria depositar 
meu dinheiro num caixa eletrônico se não fosse impresso o comprovante. Olha 
a audácia da comparação! O que eu estaria depositando é DINHEIRO, é claro 
que tem que ter comprovante!

-- 
Roger Chadel

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