FÓRUM SOCIAL REGIONAL DE JUIZ DE FORA – ENCONTRO PREPARATÓRIO
Laerte Braga
A Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, MG, entidades comunitárias,
movimento popular e partidos políticos, vão promover um Fórum Social
Regional dividido em duas etapas, julho e dezembro, com o objetivo de um
amplo debate sobre temas que insiram-se na idéia de “um outro mundo é
possível”, ponto de partida do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, já
em sua segunda edição. O evento em Juiz de Fora serve também de
preliminar para o III FSM, em janeiro de 2003, na capital gaúcha.
A primeira etapa do Fórum Regional Social acontece nos dias 19, 20 e 21
de julho corrente e constará de oficinas, seminários, apresentações de
artistas populares, além de vários estandes de todos os participantes.
Nesses estandes serão expostos materiais os mais diversos, além de
produtos da terra, por parte do MST e lançamento de livros com presença
de alguns autores.
Essa primeira etapa, chamada de encontro preparatório ocorrerá em
volta, praticamente, da Praça Antônio Carlos, totalmente refeita e que
será reinaugurada nos próximos dias, com características de Praça das
Artes durante os três dias do Fórum Social Regional. São várias as
escolas próximas que cederam salas para todos os encontros.
Participam setores voltados para a Saúde, Educação, Cidadania,
Assistência Social, tanto comunitários como públicos, como entidades
voltadas para culturas e defesa das chamadas minorias, Movimento Negro,
Ciganos, Gays e Lésbicas, Mulheres, partidos como o PMDB, PPS, PT, PSTU
e PC do B, além de movimentos populares como o MST. A Universidade
Federal de Juiz de Fora participa através da Escola de Cidadania, uma
experiência voltada para a formação cidadã de grupos em toda a cidade e
região.
SEM RESTRIÇÕES
Desde os primeiros momentos o prefeito de Juiz de Fora, Tarcísio
Delgado, do PMDB (declarou-se dissidente do partido com a adesão deste
à candidatura de José Serra), deixou claro que o fórum não serviria de
palanque para o seu governo, ou o seu partido, mas deveria ser um evento
marcado pelo debate mais amplo possível, sem qualquer restrição de ordem
política, partidária ou ideológica. Mesmo assim, alguns movimentos,
sobretudo sindicatos, preferiram manter-se à margem do Fórum.
Oficinas propostas pelo Núcleo de Amigos do MST na cidade e Zona da Mata
Mineira, de temas como ALCA - Aliança de Livre Comércio das Américas –,
Reforma Agrária, Dívida Externa, Voto Eletrônico, o Desmanche e a
Privatização do Estado – Judiciário e Legislativo –, ou propostas
formuladas por alunos do curso de História da UFJF, a História como Fio
Condutor da Humanidade, a questão das águas, dos transgênicos, todos
esses temas de natureza política serão amplamente debatidos.
Saúde e Educação, Assistência Social, Cidadania, Defesa dos Direitos do
Consumidor e outros, além de questões específicas, terão debates de
natureza política, sobretudo como parte da idéia de subsídios para o III
FSM e o ideal de “um outro mundo é possível”.
Temas como segurança estarão presentes
O Movimento Negro Unificado, o Grupo de Gays e Lésbicas, os Ciganos, as
Mulheres, a Juventude, Excluídos, chamados impropriamente de minorias
(a soma deles forma a imensa maioria de brasileiros) estarão presentes e
promovendo debates específicos e voltados para problemas de cada grupo,
mas propostas políticas de ação unificada.
O grande vilão para os participantes do Fórum Social Regional, Encontro
Preparatório, será o neo liberalismo e suas conseqüências predatórias.
O Fórum está sendo organizado pela Diretoria de Políticas Sociais da
Prefeitura, a Diretoria Institucional e todo um conjunto de entidades e
órgãos públicos.
PRESENÇAS
Várias personalidades estarão presentes ao evento, dentre eles o editor
César Benjamin, que fala na primeira oficina, dia 19, às 16 horas, sobre
o tema ALCA. O jornalista Flávio Tavares, que esteve preso em Juiz de
Fora nos idos de março de 64 e é um dos grandes nomes do jornalismo de
resistência do Brasil, vai estar na cidade de Juiz de Fora durante os
três dias do Fórum Regional, participando da oficina “A Informação no
Mundo Globalizado”, proposta pelo MST e pela Rede Práxis. Essa mesma
oficina foi levada a efeito ano passado tanto no Fórum Regional do Rio
de Janeiro, em setembro, como no II FSM, em janeiro, em Porto Alegre.
Demerson Dias, um dos coordenadores da FENAJUFE – Federação Nacional dos
Servidores do Judiciário Federal – e do Sindicato dos Trabalhadores do
Judiciário Federal no Estado de São Paulo será também uma das presenças.
Flávio Tavares vai autografar exemplares de seu livro “Memórias do
Esquecimento”, lançado pela Editora Globo e um dos carros chefes das
publicações daquela casa.
Professores, jornalistas, líderes comunitários, sindicais e de
movimentos populares estarão presentes, participando de seminários e
oficinas previstos para o Fórum Regional, nessa primeira fase, o
Encontro Preparatório.
O Diretor de Políticas Sociais da Prefeitura, o médico Celso Matias,
disse, desde os primeiros momentos, que as duas etapas tinham como
objetivo proporcionar um debate aberto, amplo e acima de tudo
descaracterizar qualquer tentativa de partidarização num ano eleitoral.
A mesma posição foi reiterada pelo assessor da Diretoria Institucional,
Paulo Gutierrez.
COMO SERÁ
O Fórum Social Regional de Juiz de Fora – Encontro Preparatório começa
no dia 19 de julho, às 15 horas com ato de abertura do qual participarão
o prefeito Tarcísio Delgado, autoridades e integrantes dos vários
grupos, movimentos e partidos que participam.
Já no dia 19 algumas oficinas serão realizadas, a primeira delas às 16
horas, sobre o tema ALCA, com o editor César Benjamin, um dos líderes da
marcha de camponeses e trabalhadores no período de junho a setembro de
1999, além de ser um dos coordenadores nacionais do movimento Consulta
Popular.
No dia 20, nas várias escolas que cederam instalações para os seminários
e oficinas o movimento será intenso, a partir das 9 horas da manhã. As
escolas são o Instituto Granbery, centenária instituição da Igreja
Metodista Brasileira. O Colégio e Curso Meta, além de instalações do
Espaço Mascarenhas, mistura de mercado popular, biblioteca, espaço
teatral, para artes de um modo geral. O Espaço Mascarenhas, onde
funcionou uma das primeiras tecelagens do Brasil (a primeira cujos
teares foram movidos por energia elétrica em toda a América Latina)
estará integrado à Praça Antônio Carlos, num complexo a ser transformado
no mais amplo espaço de debates e apresentações de artistas populares e
grupos escolares (teatro, danças, etc), além dos estandes expositores,
durante os três dias do Fórum.
Para o encerramento está sendo organizada uma Marcha para a Paz. Será
no dia 21, às 19 horas.
INTERESSE É GRANDE
Setores de várias cidades vizinhas e mesmo de outras regiões do Estado
de Minas participarão do Fórum, como o sociólogo Sidartha Sória e Silva,
que ao lado da professora Darcilene Gomes, ambos da Universidade Federal
de Uberlândia, estarão debatendo o tema “Reestruturação Produtiva, Crise
Econômica e os Rumos do Sindicalismo no Brasil, objeto de monografia
vencedora de concurso nacional da Fundação Mílton Campos e de autoria de
um dos participantes, Sidartha Sória e Silva.
Outra personalidade será o consultor das Nações Unidas para eleições,
Evandro Oliveira que, no dia 21, falará sobre o controvertido voto
eletrônico. Em recente fórum sobre o assunto na cidade de Porto Alegre e
em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, o consultor da ONU,
integrantes da Rede Práxis, denunciou a possibilidade de fraude nas
eleições deste ano.
Prefeitos, vereadores, grupos e movimentos de cidades vizinhas deverão
estar em Juiz de Fora, calculando-se um público de cinco mil pessoas
para os dias do evento.
A cidade, paralelamente, abrigará o XIII Festival Internacional de
Música Sacra e Barroca, com grupos de todo o mundo e apresentações em
praças públicas, teatros e igrejas, promoção do Centro Cultural Pró
Música e um dos maiores eventos desse gênero no mundo, além do III Curso
para Formação de Dirigentes do MST, em convênio com a Universidade
Federal de Juiz de Fora. Cerca de 100 dirigentes do movimento estarão na
cidade do dia 19 até o dia 8 de agosto participando do referido curso.
Uma das presenças durante o curso, será a do líder nacional do MST, João
Pedro Stédile (durante os dias 26, 27 e 28 de julho).
A cidade dispõe de rede hoteleira e restaurantes de ótimo nível e a
preços acessíveis e toda uma infra-estrutura está sendo cuidadosamente
preparada para que a primeira etapa do Fórum Social Regional alcance
seus objetivos.
Terminada essa etapa, começa a organização da de dezembro, já
incorporando todo o acervo de debates, painéis, palestras, etc, do
Encontro Preparatório.
MST
O Núcleo dos Amigos do MST de Juiz de Fora e Região coordenará, ao lado
da Rede Práxis, as oficinas sobre ALCA, Reforma Agrária, Dívida Externa,
Desmanche de Privatização do Estado (do Judiciário e do Legislativo), a
Ditadura Neo Liberal, Informação no Mundo Globalizado, além de
participar das oficinas sobre Águas e Transgênicos, promovidas pela
comissão de Meio Ambiente.
No dia 20, no Centro Cultural Pró-Idoso, o movimento realizará, a partir
das 22 horas, uma seresta/sarau de confraternização, com a presença do
artista José Pinto, ligado ao MST. O cantor e compositor tem CDs
gravados e trata de temas ligados à luta pela reforma agrária e à luta
popular de um modo geral. O teatro da Escola Municipal União da Betânia,
do bairro Granjas Betânia, na cidade, também irá apresentar-se a convite
do MST. O Pró-Idoso é administrado pela AMAC – Associação Municipal de
Apoio Comunitário – e foi cedido pelo seu diretor, o engenheiro José
Sotter Figueiroa.
Um estande do movimento estará apresentando aos participantes produtos
da terra, como doces, compotas, geléias, todos de assentamentos no Sul
do País e o vinho “Veritas” (denominação sugerida pelo recém falecido
publicitário Carlito Maia), também do MST e com premiação recente em
Paris, no Salão do Vinho.
Várias lideranças estarão presentes, dentre elas o coordenador do
movimento em Minas, Ênio Bonenbergue e o coordenador Pedagógico, Huli
Marcos Zang.
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