A eleição de 2002 no Brasil é, sem dúvida, a mais decisiva para a consolidação efetiva da democracia na América Latina. Principalmente, numa época de total desrespeito aos povos militarmente menos organizados e socialmente mais espoliados. É um desprezo típico contra os projetos nacionais, cuja origem foi totalmente explicitada e sistematizada na cultura ficcional do ideário americano. Nela, acaba-se com qualquer resquício de soberania nacional alheia. Reduz-se, assim, toda a diplomacia mundial a um velho chavão de bang-bang: sempre sacar e atirar primeiro, para poder viver e se vangloriar depois. É, portanto, o alvorecer de uma Nova Era de Provocações e Conturbações Mundiais, visando um único fim: uma irrestrita dominação pelos estadunidenses sobre os demais povos. No primeiro nível, é dominação econômica; depois, militar; por fim, a anexação política dos povos mais fracos pelo Bloco Imperial. Quiçá, autodeterminação coercitiva. Ou seja, uma neocolonização. Simples assim. Como a única hiperpotência hegemônica restante, os Estados Unidos da América do Norte estendeu de tal forma o seu já sabidamente imbatível poderio militar, que sua própria retórica propagandística (particularmente naqueles filmes patrióticos, doutrinários e auto-referentes) acabou gradualmente se confundindo entre a ficção holliwoodiana e a realidade na Geopolítica Militar e Econômica Mundial. São militarmente imbatíveis porque nisso acreditam; mas o que é bem pior: nós também. Entretanto, seus alicerces hoje não parecem tão sólidos. Tal se pode verificar pela atual instabilidade econômica nas Américas, onde as ondas de especulação já começam a abalar o próprio Império. Isto sem falar daquela quase-tragicomédia da eleição de George W. Bush, por apenas um voto a mais na Corte Suprema da Flórida. Quer dizer, na terra governada pelo próprio mano Jeff Bush! Fora essa mitologia cinematográfica típica, chega a ser até bem mais intrigante se ver que aqui, no Brasil, publica-se em idioma nacional uma quantidade interminável de pautas e de editoriais pró-Bush. Tal como nas bandas lá do Texas, onde cresceu esta complacência da mídia conservadora estadunidense com o seu caipira-mor (bem ao contrário do tratamento que antes fora dado a Bill Clinton e suas barangas), aqui a coisa até parece bem mais do que "escancarada", quando se trata de defender teses americanófilas na nossa "própria" mídia de brasileiros "made in USA". Chega-se até ao cúmulo de editoriais de "O Globo" assumirem a tarefa explícita de defender cavalos-de-batalha de Bush. Defendeu-se até as soberanóicas Guerras nas Estrelas e Guerra Anti-Terror. Justificou-se, inclusive, a aversão estadunidense contra toda e qualquer Convenção Internacional, que os americanos habitualmente passaram a refutar! Controlar as emissões poluentes ao meio-ambiente? Para quê? Implantar um Tribunal Penal Internacional, capaz mesmo até de punir crimes contra a humanidade (tal como aquela famigerada Escola das Américas)? Nem pensar... É aí que essa comparação da mídia nacional hegemônica, tentando impor uma semelhança entre Ciro e Collor, chega a ser risível. Ainda mais fazendo isso para simplesmente desqualificar a surpreendente ascensão natural do primeiro, tendo feito justamente o contrário com o outro, que nada mais era que uma "criatura com níveis eleitorais artificialmente inflados". Pior, omite-se que foi a própria mídia que "coletivamente" criou aquela criatura. Hoje, a mídia simplesmente abomina e demoniza aquilo que tanto exaltou, sem a menor culpa na consciência! E quer se redimir do pecado a que deu origem, criando o mito do "clone". Tal comparação carece de interesse jornalístico. Ou, talvez, "interesse" seja mais em manipular do que de imparcialmente informar... Collor é mera criatura que rebelou-se contra seu deus: o conservadorismo liderado pela mídia hegemônica nacional. Ciro não tem paralelo nenhum com Collor. Primeiro, porque não tem a simpatia da mídia global, e só isto já desqualifica essa vã comparação (aproximando muito mais a primeira criatura com a sua nova versão tucana). Segundo, porque está muito mais afeito a compor uma coalizão ineditamente majoritária, com participação do centro e preponderância da esquerda. E esquerda, para os que ainda teimam em não aceitar tal divisão, são todos os grupos que ousam desafiar a hegemonia política pré-estabelecida de forças, perpetuando-se no controle social do estado e do capital. Tendem a romper com a exclusão do conservadorismo, que não quer repartir nada com ninguém. Na vã tentativa de influenciar o eleitorado brasileiro a "votar na continuidade sem continuísmo", tentam agora recriar as mazelas colloridas sem se sentirem minimamente responsáveis por aquela primeira manipulação eleitoral. Tudo para tirar um nordestino do caminho de um tucano ainda mais obcecado pelo poder do que Dom Fernando I e Dom Fernando II.
Gil Carlos Vieira de Rezende, Técnico Judiciário. End. Rua Haddock Lobo 447, ap. 705, Tijuca, Rio de Janeiro-RJ, CEP. 20260-132. ______________________________________________________________ O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos sistemas de assinatura digital e infraestrutura de chaves publicas. __________________________________________________ Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico http://www.votoseguro.org __________________________________________________