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From: Osvaldo
Maneschy
Cc: Daniela Schubnel ; Maria Rosa Pecorelli ; [EMAIL PROTECTED] ; Pedro.Castilho ; Aziz Filho
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Maneschy ; O Fluminense ; Osvaldo
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Paulo ; Extra ; On Line ; Mario Xavier ; Bernardo
Maneschy
Sent: Saturday, June 08, 2002 1:54 PM
Subject: Tim e Cristina Cezar, ontem (7/6) eu contei essa historia da
Cristina Guimaraes que
escrevi no email, ao vivo e a cores, nas escadarias da Cinelandia, numa manifestação puxada pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio, em solidariedade ao Tim - "Onde está o Tim?" Estavam lá uns 200 ou 250 jornalistas, cheguei um pouco atrasado, tipo meio dia e trinta, estava marcado para meio dia, e logo em seguida falou o Schoreder, o atual chefao geral da Globo que está no lugar do Evandro Carlos de Andrade. Ele fez um discurso agua-com-açucar do tipo "o momento é de união", precisamos nos juntar pelo Tim Lopes, etc etc. Lah na Globo, desde terça, todo mundo sabe que Tim está morto e seu corpo foi queimado no "microondas" dos traficantes. Os traficas desfilaram o Tim no morro no domingo a noite antes de o espancarem muito - depois que o descobriram com uma micro-camera dentro da pochete. E o mataram com crueldade, como fazem sempre. Todo mundo no Alemao, no domingo, ficou sabendo que os 'homis' tinham pego um reporter da Globo e morto o cara. Eles nao esconderam da comunidade que o cara era um reporter, e da Globo e a equipe de plantao na redaçao, de domingo para a segunda, nao fez absolutamente nada - mesmo depois do motorista do Tim comunicar que ele nao tinha saido do morro, na hora combinada, no domingo. Tipo avisar imediatamente a polícia, o que seria mais do que natural. Simples questao de bom senso. Parece os plantonistas nem ligaram para a cúpula no domingo para que esta, por sua vez, acordasse secretário, governador, presidente da república, o cambau a quatro. Uma senhora ineficiencia, total. Pelo que soube, aGlobo só comunicou a policia que o Tim havia sumido dentro do morro no final da manha de segunda-feira. E soh a tarde, como está no email da Daniela Schubnel me enviou, a emissora comunicou ao pessoal que o Tim estava sumido desde a noite de domingo no morro. O email da Globo, este, é de cinco e meia, mais ou menos. /// Um descaso com a vida do Tim, na minha suspeita opiniao de brizolista./ Dá para compreender que só no final da tarde de segunda é que as pessoas da maior empresa jornalistica do país - nesses dias de tempo real, comunicaçao instantanea, email, fax, telefone celular e o cacete a quatro - tenham oficialmente sabido que Tim estava sumido no morro? E logo qual, Vila Cruzeiro, que faz parte do Complexo do Alemao - onde Tim, em agosto, fizera a materia "Feira das Drogas". Tim nunca deveria ter subido lá para a materia do baile funk! Bom, mas a gente conhece o Tim, sabe que por uma boa materia ele topa qualquer coisa. Até expor a sua vida do jeito que expos, indo na toca do lobo, nessa materia do baile funk, tres vezes. Na quarta os caras o pegaram. Segundo a "Tribuna da Imprensa", em materia anteontem de primeira pagina, devido a uma denuncia de um PM informante do tráfico, do 16º BPM. Soube que a matéria é quente, é verdadeira. Até porque o chefe de reportagem da "Tribuna", Cezar, é o nosso amigo Antonio José Libório, o Tomzé da faculdade, que hoje também é - como eu - conselheiro da ABI. Um cara sério e competente, que nao ia botar essa informaçao de g'raça, na primeira página do jornal, se nao tivesse certeza de que ela é verdadeira. Mas jornal algum aqui do Rio, fora a Tribuna, a deu.// Aliás, voltando a inhanha ontem da Cinelandia, o Ali Kamel disse que cabe a nós, jornalistas, saber exatamente o que aconteceu lá no Alemão - para localizar o Tim. E disse que a Globo não vai "descansar" enquanto o tráfico não for varrido e desafiou o tra'fico a promover, neste final de semana, outro baile funk. Muito corajoso - com a pele dos outros. Soube por um amigo da Globo - que um chefete lá, por conta dsses tiros que a bandidagem anda dando em delegacia aqui no Rio, propos que uma equipe ficasse de plantao dentro de uma delegacia para gravar os bandidos atirando na delegacia. E que os bagrinhos ficaram revoltados porque, já que tinham que gravar, tinham que ficar na linha de fogo dos caras também!!!! Óbvio!!! E empombaram lá dentro, fazendo o "iluminado" desistir da 'brilhante' ideia.... Numa guerra, botar os outros na linha de tiro, é mole... //// Bom, com essa demora toda da Globo correr atrás da polícia no episodio Tim, deu mais do que tempo para os safados matarem Tim. Na terça de manha, li no DIA que o Tim tinha desaparecido no Alemão, materia que o JB também publicou - e nem sei se o Globo deu a noticia, vou checar. É bom a gente dar uma checada nisto, porque me parece que eles quiseram esconder a noticia no primeiro momento - tanto é que só escancararam o assunto, ou melhor, noticiaram, acho que na terça a noite - quando não havia mais o que esconder porque o Dia, o JB, etc já tinham escancarado o desaparecimento. /// Bem, ontem na manifestaçao na Cinelandia, pedi a palavra quando vi aquela falaçao água com açucar do Schoreder. E na minha vez, questionei o nosso papel de jornalista nesta historia toda, onde nossos patroes acham que a informaçao é uma mercadoria, quando ela na verdade, é um dos direitos universais - consignado na Declaraçao da ONU. Porque quando as coisas viram mercadoria, Cézar, tudo é descartável - até a gente. Citei email de uma reporter do Dia que recebi, em resposta aquela primeira coisa que escrevi, questionando exatamente tudo isto, "o que estou fazendo aqui", no meio de um tiroteio numa porta de favela, entre policia e bandido. Pois nohs, jornalistas, precisamos parar de cumprir ordens pura e simplesmente e prestar mais a atençao neste Brasil varonil onde 40 mil pessoas são mortas por ano, de forma violenta, na guerra social que vivemos. Vivemos em um país em guerra social e nossos patroes ignoram essa pauta porque nao há dinheiro a ganhar, noticiando isto, questionando isto, indo fundo nisto. Que eles ignorem, a gente entende, mas que façamos a mesma coisa - nós que somos instrumentos deles - é um absurdo. Porque nessa guerra social, eles estao em suas salas refrigeradas e protegidas - e nós, jornalistas, estamos no meio da rua - como aquela reporter do Dia que citei aí atrás, pensando no que estava fazendo, dentro de uma vala, na boca de um morro, com tiro comendo por todos os lados. Nós, Cezar, estamos começando a ser vitimas dessa guerra social. O que ganha um jovem reporter, como o seu filho Rodrigo ou o meu Max, no meio de um tiroteio entre traficantes e bandidos - um pé de página de qualquer noticiario de cidade em qualquer jornal no Brasil? Experiencia? Porque grana, mesmo, estagiario nem vê cheiro - é obrigado a trabalhar de graça. Coisa que nem aviaozinho do trafico faz. E para que? Porque nao ir fundo na pauta guerra social e tentar, através da luz que a gente pode jogar nesse assunto que está na escuridao (porque isso interessa aos patroes) e começar a procurar soluçoes? Nao é este papel da imprensa, mostrar a realidade e propor soluçoes? Cezar, nao existe cidadania sem informaçao. Como o cara pode exercer os seus direitos se nem sabe deles? Entao qual é o papel da imprensa? Ontem, na Cinelandia, fiquei emocionado com o depoimento de uma senhora, anunciada como "personagem de materia do Tim Lopes". Ela, de viva voz como eu, pediu Justiça Para o filho dela, sequestrado e morto por um juiz de Angra dos Reis. Ela disse o nome completo e a vara em esse juiz trabalha que, segundo ela, matou e sumiu com o corpo do seu filho. Exatamente como aconteceu com Tim, unico a dar voz a ela, numa materia. Ela disse que, hoje, depois da barbaridade que esse homem fez com o filho dela, só conta com sua disposiçao de mae e sua voz, para clamar por justiça. Ela disse que contava com nós, jornalistas, para levar adiante a sua denuncia, como Tim tinha feito, porque não via outra coisa a fazer a não ser gritar. Cara, fiquei emocionado com a senhora e vi que nao sou só eu que reclamo da midia, por suas omissões. Espero que os coleguinhas tenham anotado a pauta Vi que nao sou eu só que me queixo da omissao da midia. Voce é testemunha, Cézar, da minha luta junto aos coleguinhas para que a verdade - nesta historia da urna eletronica - apareça. Po, cara, como é dificil! As materias sobre esse assunto são sempre vetadas pelas chefias. Como o Evandro fez com a materia do Azenha e da Cristina Guimaraes do ano passado, contando a fraude nas urnas de Teresópolis. Cezar, estou convencido de que ou a gente parte para dentro nestas coisas ou vamos ver o nosso país mergulhar, cada vez, na barbarie. Vamos virar Colombia rapidinho. Barbarie que poe de repente, lado a lado, os bandidos que trucidaram Tim e o juiz que trucidou o filho daquela mulher, que nao gravei o nome, que falou ontem na Cinelandia. // Voltando ao que falei lá, que nem me lembro direito porque na hora fiquei muito emocionado, contei toda a historia da Cristina Guimaraes, essa que escrevi no email, tim-tim por tim-tim. E pedi, no final, mais uma vez, que nos, jornalistas, pensassemos no nosso papel nessa injusta sociedade brasileira porque informaçao é direito - nao é mercadoria. // Pois logo em seguida, nao sei se imediatamente, falou o Cezar Seabra, com quem sempre tive uma excelente relaçao pessoal, para dizer em nome dele, imagino, que o momento não era para essas coisas, era de união, de concordia, etc etc. Pô, se 200 ou 250 jornalistas, pê da vida com o que aconteceu, não é momento da gente falar, qual vai ser? Logo depois o Ali Kamel, hoje um dos graúdos da Globo, pediu a palavra. E contestou o que eu tinha dito sobre Cristina. Disse que a a historia da Cristina Guimaraes nao era como eu relatara, que a direçao da emissora soubera das ameaças a ela através do comunicado do juiz trabalhista, que ele nem ninguem na emissora sabia que ela estava sendo ameaçada (portanto, uma mau carater por ter recorrido primeiro a justiça, entendi) e que o papel dela, na materia "Feira das Drogas" fora pequeno e secundário. Portanto, a desqualificou. Cara, cheguei a passar mal de indignaçao. E só nao o interrompi por educaçao. Ninguem contestou o que ele disse, ficou por isso mesmo, a manifestaçao terminou com alguns rezando. Bom, amigo, é isto aí. Espero que os coleguinhas presentes tenham "filmado" tudo e reportem tudo direitinho. E avaliem com quem está a razão. Cristina ou Kamel. /// Bom, Cezar, se dei alguma contribuiçao nisso foi a de desentocar os caras. Porque a direçao da emisssora estava muda - apenas falando, via materias nos seus noticiarios, o que a interessava. Companheiro combativo desentoquei os caras - como desentocamos o Jobim,na semana passada, quando foi obrigado a sair com o Laudo da Unicamp embaixo do braço, para contestar as
verdades que dissemos no seminario do voto eletronico - que a tevê camara exibiu ontem em grande estilo, como voce tinha dito que ia acontecer. Aconteceu e eu fiquei feliz da vida - está começando a brilhar a luz da verdade nesse assunto, luz que o TSE quer manter apagada. Abraço grande, tudo de bom para voce, Nelia e o Henrique. ps. Quanto a Globo aceitar Cristina na sucursal de
Brasília,
companheiro, é obvio que deveriam ter feito isto no ano passado, quando rolou a primeira ameaça a ela. Ou mesmo no momento em que sequestraram o Beto, do Esporte Espetacular, querendo saber quem tinha feito a materia "Feira das Drogas" na Rocinha. Se naquela epoca nao fizeram nada pela Cristina, acho , muito menos farão agora - com toda essa confa no meio da rua. ps 2 - Acabei de ler a materia do "Globo" sobre o ato de ontem na
Cinelandia. Nao saiu uma linha sobre Cristina Guimaraes. Nem contra, nem a
favor. Ignoraram. Fazem de conta - como sempre - que não é com eles. Detalhe, os
jornalistas reportados, da manifestaçao, foram o Schoreder e o Ali Kamel. Para
não pegar absolutamente mal, também deram meia frase para o presidente da ABI,
Fernando Segismundo, e um espaçozinho para o André Luiz - o cunhado do Tim que,
emocionado, falou que as forças armadas deveriam ocupar todos os morros do
Brasil. Êta jornalismozinho ruim, sô.
Cezar Moura da Motta gravada: > Maneschy,,
> > A Cristina já se desligou formalmente da Globo?? Por que não se > transferir pra outra praça, por questões de segurança?? Aqui em Brasília, o > chefe da sucursal da Globo é o Franklyn Martins, um camarada sério, que > acredito que não se recusaria a recebê-la. |
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