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Nos arraiais situacionistas

Da redação


 Finalmente, o executivo "durão", "antipático mas competente", do "sul
maravilha", saiu da toca para dar combate aberto à "esperta e simpática
princesinha do sofrido e injustiçado nordeste". Daqui a junho, teremos
quatro meses de batalhas publicitárias entre José Serra e Roseana Sarney.

Evidentemente, as imagens criadas pelos respectivos marketeiros para seus
clientes não explicam as verdadeiras diferenças entre as duas candidaturas.
Aliás, não foram criadas com essa finalidade, mas, sim, com a de compor uma
novela destinada a manipular o voto de um enorme contingente eleitoral pouco
instruído e pouco interessado em política. Contudo, as diferenças entre eles
existem e se manifestaram desde os primeiros tempos do governo FHC, embora
nunca tenham ultrapassado os rígidos limites fixados pela comunidade
financeira internacional.

Serra expressa a estratégia de mudança do modelo econômico mais propícia aos
interesses dos industriais e empresários, enquanto Roseana favorece os
banqueiros.

Desejam os primeiros que o desmantelamento da economia da Era Vargas se
realize mais lentamente e mais diretamente monitorado pelo Estado, a fim de
que possam sobreviver e estar presentes na renovada e modernizada economia
com a qual sonham.

Já os segundos, como reclama reiteradamente o banqueiro Jorge Bornhausen,
presidente do PFL, em vez de mais tempo e mais Estado, querem mais
velocidade e mais mercado, a fim de definir logo quem vai sobreviver e quem
vai naufragar no processo de mudança.

Essa divergência esteve presente em todo o governo FHC desde os primeiros
tempos. É ela que explica os episódios de defenestração de Celso Lafer
(posteriormente reabilitado), dos irmãos Mendonça de Barros, de Alcides
Tápias e de outros de menor projeção.

No primeiro embate, Serra foi derrotado. Teve de deixar o comando da
economia nas mãos de Pedro Malan e contentar-se com o ministério da Saúde.
Agora, após um desempenho inegavelmente competente nesse difícil ministério,
vai tentar a revanche.

Contudo, não há que ter muita ilusão quanto à magnitude da discordância
entre "industrializantes" e "modernizantes". Serra não significa nenhuma
descontinuidade na política de FHC. Apenas que, se chegar ao governo, é de
prever-se uma resistência maior às pressões desnacionalizantes e
desindustrializantes do exterior. Isso evidentemente terá repercussões
econômicas e sociais diversas das que surgirão com a continuidade da
pilotagem do binômio Malan-Fraga. Mas não significará, em hipótese alguma, a
solução dos nossos gravíssimos problemas econômico-sociais.

Dificilmente o embate real chegará ao grande público, especialmente se não
houver, do lado das oposições, uma candidatura que provoque, clara e
insistentemente, a discussão sobre as questões nacionais. O "establishment"
não pode permitir que os processos eleitorais se convertam em uma reflexão
sobre os problemas nacionais, porque isto seria perigoso para sua
estabilidade. Muito mais seguro é organizá-lo, em clima de novela das oito,
como uma disputa entre as habilidades e sortilégios dos Duda Mendonça, Nizan
Guanais e Quejandos.

É importante assinalar ainda que a decisão de José Serra não significa a
estratificação definitiva da disputa sucessória no interior da coligação
governista. Nada disso. Daqui até junho - fim do prazo para registro de
candidaturas -, novas e surpreendentes alternativas poderão surgir nos
arraiais situacionistas. Não se deve esquecer que o verdadeiro problema para
eles não é a divergência de enfoques quanto à velocidade da mudança. Afinal,
conviveram muito bem com ela durante estes quase oito anos. Não se trata,
pois, de saber se a economia vai dar um passinho prá cá ou um passinho prá
lá. O que os situacionistas buscam angustiosamente é saber que figura de
candidato pode vencer o rechaço da população ao seu governo. E na busca
desesperada de um "produto" melhor para oferecer aos marketeiros, tudo pode
acontecer. Fernando Henrique Cardoso sabe disso.




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