Carlos Alberto Funcia gravada:
Repasso exatamente como recebi.
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Wednesday, February 27, 2002 7:45 AMSubject: Fwd: Extremamente interessante!
O NOME DELA É ROSEANA, MAS PODE CHAMAR DE SARNEYpor
Palmério Dória A HISTÓRIA SE REPETE31 de janeiro
de 1966. Numa São Luís secular e suja, onde mendigos perambulam,
bairros carecem de saneamento básico, esgotos a céu aberto,
ratos e urubus dividem a paisagem, um jovem e fogoso deputado federal toma
posse no governo do Estado do Maranhão. Ele acabava de derrotar
a mais torpe das oligarquias, especialmente truculenta, comandada pelo
senador Vitorino Freire, um cacique pessedista imortalizado por Rubem Fonseca
como o "senador Vítor Freitas", o homossexual violento do romance
Agosto. Num discurso histórico, denunciando a miséria, o
abandono da população, a violência e a corrupção,
José Sarney anuncia uma "ruptura", uma "democracia de oportunidades"
e enterra a era vitorinista com caixão de segunda classe. Mesmo
sendo da UDN, ele teve o decisivo apoio da esquerda. O fato de o PSP de
Adhemar de Barros e da empreiteira Mendes Jr. terem irrigado sua campanha
não diminui a importância histórica de sua vitória.
Entusiasmado, o já famoso cineasta Glauber Rocha filma toda a solenidade.
O documentário ganharia o nome de Maranhão 66 e chocaria
pelo final: o belo discurso de José Sarney, denunciando as mazelas
de seu Estado e o sofrimento de sua gente era reproduzido em off, enquanto
cenas da miséria explícita dos maranhenses eram mostradas.
Encerrando, grandiloqüente, a fala do novo governador, em que ele
"jurava" acabar com a política vigente, um turberculoso agonizava
em público. 31 de janeiro de 2002. Numa São Luís
secular e suja, onde mendigos perambulam, bairros carecem de saneamento
básico, esgotos a céu aberto, ratos e urubus dividem a paisagem,
uma não tão jovem governadora aparece em rede nacional de
televisão, querendo ser presidente da República. Tal qual
um Glauber da direita, as formas roliças de um antipático,
mas competente, Nizan Guanaes conseguiram transformar em princesa cobiçada
uma administradora falida. Ela exerce o seu segundo mandato no Palácio
Henrique de La Rocque. Ela é a herdeira de uma oligarquia não
menos torpe do que a do velho senador Vitorino Freire, mas, seguramente,
muito mais corrupta e bem-sucedida. Ela é filha dileta do homem
que jurou sepultar o atraso e a oligarquia há exatos 36 anos. Ela
é a continuadora de um sistema político-eleitoral que humilha
o seu povo com índices sociais tenebrosos. As maiores taxas de analfabetismo
e de mortalidade infantil do país. As menores taxas de desenvol-vimento
em todos os setores. O menor PIB do Brasil per capita, num sistema em que
os amigos e correligionários não pagam o fisco estadual.
Ela entregou a administração do Estado ao marido, que já
foi preso por improbidade. Ela é Roseana. Roseana Sarney. Fruto
do marketing, do desconhecimento e da irresponsabilidade política.
Ela é um projeto muito semelhante ao de Fernando Collor de Mello.
Ela é, mesmo, o Collor de saias. O DNA DE ROSEANA Quando
seu pai foi eleito governador, Roseana tinha 12 anos de idade e vivia no
Rio de Janeiro. Sua chegada à província foi o prenúncio
do que a vida lhe reservava no Maranhão: declaradamente a preferida
do pai, mimada, cercada de atenções e de carinho. Isso talvez
sirva para explicar melhor uma faceta ainda obscura de sua personalidade:
ela é profundamente mandona, irritadiça, temperamental e,
não raro, protagoniza memoráveis escândalos e faniquitos
comentados à meia voz nos corredores palacianos e na alta-roda de
sua terra.Após acompanhar papai em sua campanha para o Senado em
1970, foi estudar na Suíça. Teria ido fazer pós-graduação
de um curso de ciências sociais. O deputado estadual Aderson Lago,
um tucano que se especializou em não dar trégua à
governadora, não consegue esconder o sorriso irônico: "Não
se conhece nenhum colega de turma da Roseana, e, pior ainda, apesar dessa
passagem pela Suíça, ela não fala qualquer outro idioma
e mal domina o português".Em 1981, Roseana tornou-se funcionária
do gabinete de seu pai no Senado Federal. Nessa época residia no
Rio de Janeiro, o que nunca a impediu de receber integral e pontualmente
o salário. Em 1988, por obra de uma lei muito bem-vinda, ela foi
efetivada como funcionária do Senado, onde vai se aposentar com
todos os benefícios. A isso irá somar sua aposentadoria de
governadora. Depois de eleita, ela enviou um projeto "moralizador" à
Assembléia Legislativa. Cortava uma série de vantagens do
funcionalismo público estadual, além de reduzir a polpuda
pensão dos ex-governadores, atingindo até o próprio
pai. A primeira parte, a dos barnabés e bedéis, foi votada
sem emendas pelo rolo compressor da maioria esmagadora que a obedece no
Legislativo estadual. Bem, já a segunda parte, até hoje não
mereceu mais que o fundo de uma gaveta qualquer...Quando seu pai, por obra
das bactérias do Hospital de Base de Brasília, viu-se guindado
à presidência da República, Roseana ganhou sala ao
lado no próprio Palácio do Planalto. Sem contar que, junto
ao marido, Jorge Murad, foi morar no Palácio da Alvorada. O
SENHOR MEU MARIDOTudo parecia um sonho na vida da bela Roseana. Os humoristas
de O Planeta Diário, que hoje formam a Casseta & Planeta, a
celebrizaram como "a estonteante Roseana Sarney". Sua filha adotiva, Rafaela,
tinha como babá não menos que um tenente do glorioso Exército
brasileiro. E os deslocamentos da família eram feitos em jatinhos
da FAB, ou de 1966, ou Aníbal Crosara, da goiana EMSA.Já
o maridão, o discreto, sisudo e antipatizado Jorge Murad, freqüentava
com certa insistência a crônica política, que dava conta
de atividades empresariais no submundo do governo Sarney. Hoje, Jorge é
o homem forte do governo Roseana. Gerente de Planejamento, o equivalente
a secretário, é quem manda e desmanda. Pagamentos? É
com ele. Obras? Só com ele. Nomeações? Com Jorge Murad,
o.k.? Ele trabalha ao lado da governadora, mas passa boa parte do tempo
na avenida Colares Moreira, quadra 121, número 1, Edifício
Adriano, no bairro Renascença. É lá que atende amigos
empresários e administra seus negócios. No mesmo endereço
está o advogado de Roseana, Vinicius de Berredo Martins. Ele também
é o defensor de duas empreiteiras cujos nomes se confundem com a
própria gestão da governadora: a EIT e a Planor. A EIT é
a responsável por um dos maiores escândalos do governo, a
"construção" de uma estrada ligando Arame a Paulo Ramos,
de 127 quilômetros de extensão, ao custo de 33 milhões
de dólares, entre 1995 e 1996. A Planor, que seria de propriedade
de Fernando Sarney, embora registrada em nome de humildes "laranjas", é
a sócia da EIT na empreitada e com ela dividiu os lucros. O único
problema é que a estrada não existe. Vou repetir: a estrada
não existe. Ela jamais foi construída. Existe, sim, uma picada
de terra batida, por onde desfilam, solenes, jegues e galinhas-d'angola.
Os poucos automóveis que se arriscam na aventura terminam em alguma
oficina mecânica, trocando a suspensão, os amortecedores ou
até, quem sabe, retificando o motor que fundiu. E, como tudo no
Maranhão, a oficina ou conces-sionário deverá ser
de propriedade de algum membro da família Sarney. (Em tempo:
todas as ações sobre a estrada-fantasma foram arquivadas.
Em todas as instâncias. Até o doutor Geraldo Brindeiro, aquele
da gaveta, arquivou também a representação do deputado
Aderson Lago, o denunciante da milionária maracutaia.) Jorge
Murad, o marido da candidata a presidente da República, não
desperta amores. Dona Marly, a sogra, segundo se comenta, já gostou
mais dele. Os cunhados não gostam muito. Mas José Sarney
sempre o defendeu com uma frase lapidar: "O Jorginho não é
casado com a Roseana. Ele é casado comigo". Em fins do ano passado,
quando sua mulher despontava nas paradas de sucesso, Murad contou com a
declarada proteção do sogro. Sarney telefonou ao dono de
um importante jornal de São Paulo pedindo que evitasse a publicação
de uma matéria no mínimo embaraçosa para o genro.
Conseguiu. Da história, além da influência do velho
cacique, restou a explicação dada à redação:
"Isso é pura sacanagem. Só porque ele é casado com
a Roseana, isso agora aparece. Além do mais, essa matéria
é puro machismo contra ela", sapecou a editora. As a história
é triste, reveladora e lamentável.Em meados dos anos 70,
a fábrica de óleo de babaçu do empresário Duailibe
Murad foi à bancarrota. Um sobrinho, escolhido pela Justiça,
foi nomeado fiel depositário de toda a instalação
industrial. O rapaz, entusiasmado e revelando o seu caráter, não
se fez de rogado: encostou dois imensos caminhões FNM, embarcou
toda a maquinaria e a levou até a cidade de Teresina, no vizinho
Piauí, vendendo-a a conhecido empresário local. Foi preso
dias depois como depositário infiel. Teve direito a algemas, nota
em jornal e cela comum. Um escândalo. O jovem em questão chama-se
Jorge Murad. MINHA FILHA, MEU TESOUROO pai, fascinado pela herdeira,
nunca deixou de escutar seus conselhos políticos. E ela, vaidosa,
sempre se acreditou uma expert no assunto. Ministros foram feitos por sua
vontade. Dante de Oliveira, um deputado mato-grossense famoso por sua emenda
das Diretas Já (contra a qual José Sarney tanto lutou), teve
a sorte de trocar a prefeitura de Cuiabá, onde enfrentava índices
assombrosos de desaprovação, por um inócuo Ministério
da Reforma Agrária. Arthur Virgílio Neto, deputado amazonense,
disputou o governo de sua terra contra a poderosa máquina de Gilberto
Mestrinho e Amazonino Mendes. Quase ganhou. Talvez tenha vencido, sendo
vítima de uma proverbial técnica de apuração
de votos onde o derrotado ganha. Mas o fato é que a boa retaguarda
financeira de sua campanha foi oferecida por uma amiga íntima: Roseana. Flávio
Jussiani Ramos, um rapaz com então pouco mais de 30 anos, sósia
de Bill Clinton, chegou pelas mãos de Roseana a diretor da Caixa
Econômica Federal. Antes, no Planalto, era conhecido pelo curioso
apelido de "assessor da assessora", já que carregava a pasta da
amiga Roseana. Um belo dia, ao se sentir excluído de um "esquema"
organizado pelo presidente da CEF, Paulo Mandarino, Jussiani recusou-se
a assinar a ata de uma reunião de diretoria. Com isso, centenas
de processos seriam paralisados, empresas tiveram prejuízos, mutuários
seriam penalizados. Mandarino, muito amigo do presidente da República,
exigiu a demissão do moço. Dias depois, foi ele, Mandarino,
quem caiu. Flávio ficou e hoje é um homem rico.Mas a união
com Murad, iniciada em 1976, estava indo muito mal. Os comentários
tanto sobre as incursões do marido no mundo dos negócios
como a respeito das desavenças conjugais eram a cada dia mais freqüentes.
"Jorginho" era figura fácil na noite brasiliense, sempre acompanhado
nas mesas alegres do extinto restaurante Florentino. Fotos registram essa
fase boêmia. Ele já tinha sido submetido à humilhação
de ser drasticamente interrogado pelos senadores José Ignácio
e Itamar Franco, na emblemática CPI da Corrupção.
Foi, como sempre, frio, monossilábico e evasivo. Mas deixou uma
péssima impressão e não conseguiu provar sua inocência
em nenhuma das várias acusações que lhe eram imputadas.
Roseana, chocada, se distanciou ainda mais.Logo após, quando o governo
do pai já fazia água e os sucessivos pacotes econômicos
afundavam um a um, ela resolveu partir. Na verdade, a saúde não
estava boa, o casamento tinha acabado e ela havia reencontrado um grande
amor da adolescência. Embora hoje, de todas as maneiras, seus assessores
e companheiros de partido tentem omitir, Roseana viveu com Carlos Henrique
Abreu Mendes. Generosa, conseguiu com o então governador carioca
Wellington Moreira Franco a nomeação de Mendes para secretário
de Meio Ambiente do Estado. O casamento durou até fins dos anos
80.Em 1990, com o pai buscando um mandato de senador no distante Amapá,
Roseana conquista uma cadeira na Câmara dos Deputados, na mais cara
campanha já vista no Maranhão. Foi a campeã de votos.
Deixou para trás o seu irmão, Sarney Filho, o "Zequinha",
um bom sujeito, que morre de medo do mau gênio da irmã.Em
São Luís, sentado numa mesa do Hotel Vila Rica, um dos empresários
mais respeitados do Estado e eleitor de Roseana conta a história
que todo o Estado comenta: num dia de fúria, a governadora buscou
pelo irmão ministro do Meio Ambiente. Cobrava mais atenção,
apesar de o mano ter enviado para os cofres do Maranhão mais da
metade das verbas disponíveis em sua pasta. Mas ela, como sempre,
queria mais. Queria porque queria e pronto. Assim é Roseana. Zequinha,
sabendo da cobrança iminente, escafedeu-se. Foi encontrado por uma
irmã transtornada, que se ajoelhou no jardim da casa dele e arremessou
uma pedra que espatifou a porta de Blindex em milhares de pedacinhos."Essa
moça é muito raivosa. E só tem duas amigas: a rainha
de copas e a viúva Clicquot", disse um dia o ex-governador Epitácio
Cafeteira, o mais popular dos adversários políticos e inimigos
pessoais dos Sarney. Foi ele, em 1994, que, por apenas 1 por cento dos
votos, não tomou de Roseana o governo do Estado. Ganhou folgado
o primeiro turno e por um triz perdeu o segundo, embora existam denúncias
impressionantes e documentadas de uma fraude grosseira nas apurações.
O colunista Márcio Moreira Alves, por exemplo, no jornal O Globo,
chegou a denunciar que o próprio Cafeteira teria recebido uma fortuna
para ficar quieto, aceitar a derrota e fazer corpo mole em seu recurso
junto ao TSE. Jamais qualquer uma das partes respondeu a gravíssima
afirmação de Marcito. Já na reeleição,
em 1998, até o PC do B engrossou a coligação que deu,
de lavada, um segundo mandato para a governadora. UM CARTÃO
TIROU O CRÉDITOAo contrário do que diz o desafeto, porém,
Roseana tem muitos amigos. Ela, na verdade, é uma sedutora. Elegante,
simpática, bem-humorada, cativa as pessoas e mantém um diálogo
inteligente, descontraído e agradável. Em geral, deixa uma
impressão muito melhor que os indicadores sociais de seu Estado
e o resultado alcançado depois de sete longos anos de reinado absoluto,
sem contar os outros 29 sob a batuta de papai.Os humildes são cativados
pelo sorriso bonito. Embora se pareça muito com o pai, no rosto
ovalado e até na voz, é um mulher muito sensual. Os eleitores
gostavam de pegar nos seus cabelos na campanha de 1994, quando ela soltava,
de propósito, as então longas melenas. Toca (mal) um violão,
canta com alguma afinação e desfila na escola Flor do Samba,
que neste Carnaval teve José Sarney como tema do samba-enredo.Roseana
tem amigos, sim. Alguns que impressionam pela fidelidade que lhe devotam
e outros pela generosidade com que ela os trata. Michael Gartenkrault,
por exemplo, um técnico com tumultuada passagem pelo governo de
Sarney, hoje é o reitor do ITA, o Instituto Tecnológico da
Aeronáutica, uma das melhores instituições de ensino
do país. Soldado de Jorge Murad, tem se dado ao trabalho de ir todos
os fins de semana até a casa do amigo, em São Luís,
onde ministra impensáveis aulas de Brasil e de conhecimentos gerais
à candidata presidencial do PFL! É uma espécie de
"intensivão", um pré-vestibular surreal sobre o país,
seu povinho e seus problemões. Magnânima, madame contratou
seu mentor intelectual para elaborar um pitoresco Plano de Diretrizes para
Oportunizar Negócios para o Maranhão (sic). Custo da farra:
3,5 milhões de reais! Afinal, uma mão lava a outra!Candidata,
Roseana se hospeda toda vez que vai a São Paulo na mansão
do banqueiro e mecenas Edemar Cid Ferreira. Uma amizade que vem de muito
longe. Márcia, a senhora Edemar, é filha do falecido senador
biônico Alexandre Costa, um violento coronel da cidade de Caxias,
e amiga de infância. Quando Roseana deixou o Planalto e reencontrou
Carlos Henrique, estava deprimida e desgastada. Resolveu viajar, correr
o mundo, divertir-se.E lá se foi para alguns dos lugares que ela
mais ama: Monte Carlo, Atlantic City e Las Vegas. É que ela é
jogadora compulsiva, apaixonada, incontrolável. Diante do pano verde,
seus belos olhos verdes se integram numa simbiose perfeita. O girar da
roleta, o tilintar das fichas, a voz do crupiê, a emoção
da aposta suprem qualquer deficiência emocional da candidata do PFL
à presidência do Brasil. E esse fato, sobejamente conhecido
no Maranhão, é um trauma para a família, especialmente
para o velho pai, que num discurso, em 1993, chegou às lágrimas
na tribuna do Senado respondendo uma nota da colunista Danuza Leão,
que tratava das peripécias da moça por centros internacionais
de carteado.Esse dolce far niente foi bancado por um expediente que impressiona.
Um cartão de crédito internacional, ilimitado, emitido por
um banco de Miami, o Schroder, segundo denúncia do Jornal do Brasil
e da revista Exame. Dono da conta responsável pelo débito
mensal do cartão da felicidade: Edemar Cid Ferreira. O mesmo Edemar,
segundo o JB, seria sócio de Murad num banco no Caribe, o Claymoore
Bank, que seria o destino de centenas de milhões de dólares
que teriam sido alcançados em excelentes negócios realizados
à sombra do governo do sogro e amigo José Sarney.Em 1994,
Roseana e Jorge voltaram a dividir o mesmo teto. Ela era candidata ao governo
do Maranhão. Ele, o tesoureiro da campanha. Nos anos de separação,
havia se envolvido com a belíssima empresária Carmem Ruete,
herdeira de uma usina de açúcar em São Paulo. Tiveram
uma filha, hoje com 9 anos. Carmem teve de ir à Justiça para
conseguir que Murad reconhecesse a paternidade da menina, a quem não
visita e paga uma pequena pensão alimentícia."Essa criança
e a minha candidatura ao Senado foram a causa do novo casamento do meu
irmão com a Roseana. Eles poderiam ter, simplesmente, anulado a
separação, mas preferiram casar-se novamente, e com separação
de bens. Evitaram que a filha dele herde a espetacular fortuna dos Sarney
e impediram a eleição do maior inimigo que eles têm,
que sou eu, que fiquei inelegível por ser cunhado da governadora",
diz o ex-deputado Ricardo Murad, do PSB do Maranhão, atual secretário
de Educação do município de Coroatá. Ele é
um dos mais temidos adversários da oligarquia. E sua presença
no cenário político maranhense é quase um flagelo
para os Sarney: seu irmão Jorge é o marido de Roseana, sua
irmã Teresa é a mulher de Fernando, o filho-empresário
de dona Marli e do senador José Sarney.Ricardo, PhD na família
Sarney, é curto e grosso sobre a cunhada: "Faz um governo corrupto,
é uma despreparada e vai quebrar o Brasil". GLOBO E ROSEANA:
TUDO A VERSe Roseana chegar ao Planalto, cai a profecia de Millôr
Fernandes, que se dedicou a desconstruir com rara aplicação
a obra literária e o governo de José Sarney. Assim que o
ex-presidente deixou o cargo, o humorista disse que só dali a cem
anos um outro maranhense seria novamente presidente do Brasil.Mesmo com
números francamente favoráveis, não falta quem não
vislumbre futuro na pré-candidatura de Roseana. O presidente do
IBOPE, Carlos Augusto Montenegro, em entrevista à revista Época,
apostou todas as fichas num segundo turno entre Lula e José Serra,
explicando por a + b como a bola de Roseana iria murchar. No mesmo dia
em que a revista chegou à bancas, Roseana teve outro dissabor, o
jornal O Estado de S. Paulo circulou com um artigo demolidor de Mauro Chaves,
"Roseana, o charme da miséria". Nele, o jornalista faz um contraponto
do levantamento do IBGE que aponta o Maranhão como líder
na pobreza e nas diferenças sociais do país com os casos
de corrupção que pipocam naquele Estado. O charme fica por
conta das medidas cosméticas e dos efeitos especiais que a governadora
usa para edulcorar a dura realidade de sua terra. "Cachaça et circensis",
na impagável definição do articulista.Esse levantamento
do IBGE também foi o mote do documento da CNBB maranhense amplamente
divulgado na véspera. Dom Affonso Felippe Gregory, presidente da
entidade no Maranhão, vaticinou que tais números poderiam
afundar a candidata. Vendo a ofensiva, o alarme vermelho acendeu no crânio
do velho acadêmico, que saiu em defesa da filha no mesmo dia. Abandonou
o distanciamento que vinha adotando até então. "Em relação
a mim, eu posso compreender as injustiças, mas em relação
à minha filha não vou ter a mesma atitude", ameaçou
na porta de sua mansão brasiliense, ao lado de FHC, que fora ali
para dar plena garantia de que não haveria mais agressões
a Roseana.Esta reportagem começou nesse clima. Uma avaliação
mais realista só pôde ser feita quando desembarquei em São
Luís.De um radinho de pilha dependurado numa das tendas-padrão
do Projeto Reviver, ecoa a voz potente do radialista Roberto Nunes, da
Rádio Educadora, comentando a reação intempestiva
do pai: "Parece que se tocar na Roseana ela quebra! Parece que é
de vento". Parece, mesmo.O Projeto Reviver, um dos redutos da boêmia
e do turismo na ilha, é uma das jóias da bela coroa. Seus
preservados casarões coloniais serviram como uma luva para os quatro
dias consecutivos de merchandising do turismo nativo na novela O Clone,
na semana seguinte ao esperneio de Sarney. O próprio clone, Léo,
pintou na telinha da Rede Globo pela primeira vez nos paradisíacos
Lençóis Maranhenses. Uma operação desse tipo
não saiu por menos de 1 milhão de reais para o erário
maranhense, sem contar toda a infra-estrutura proporcionada pelo governo,
segundo especialista do mercado publicitário.Nos intervalos, inserções
de trinta segundos da propaganda política do PFL, Roseana, embalada
num de seus corretos terninhos, pontificava: "Um presidente não
pode ser presidente de São Paulo, da República da CUT, da
República do MST". E, de quebra, imagens da baderna e do quebra-quebra
recente na Argentina. José Serra não acusou o golpe, nem
na insossa cerimônia de lançamento de sua pré-candidatura
presidencial, seguindo conselho de FHC. Mas o PT, enfim, abandonou a postura
olímpica ("A Roseana é problema do PSDB", costumava dizer
Lula) e escalou José Dirceu, o presidente do partido: "Tudo o que
ela está falando da Argentina aconteceu aqui, no fim do governo
Sarney, do qual ela participou... Só não houve renúncia
porque se construiu uma saída, quando eles se omitiram e deixaram
o Collor de herança".Sobre o festival maranhense na novela das 8,
de inestimável apelo popular, nada. O PT, sem perceber, se omitiu
na denúncia de que a Globo, como na edição fraudulenta
do debate entre Collor x Lula, em 1989, misturou dramaturgia e propaganda
política subliminar, numa operação casada, clara e
evidente, que atenta contra a lei e deixa à mostra uma relação
comercial e promíscua entre o clã Sarney e o império
dos Marinho.A educação no Maranhão, que apresenta
índices vergonhosos, é um capítulo que a Globo, com
certeza, jamais passará. Nem a imaginação fértil
de dona Glória Perez, no seu folhetim eletrônico e medíocre,
poderia contar, por exemplo, que em sete anos de governo dona Roseana não
construiu uma única sala de aula. Muito menos, que a educação
de 2¼ grau, à qual 400.000 jovens maranhenses não
têm acesso por absoluta impossibilidade, foi substituída por
um incrível contrato com a Fundação Roberto Marinho,
no valor de 102 milhões de reais!>>Quando o deputado estadual Aderson
Lago (PSDB) denunciou a trama, a governadora resolveu baixar a cifra para
92 milhões de reais. E o Ministério Público se deu
por satisfeito com esse "desconto" de 10 milhões na sangria. Escândalo
que se amplia quando se lê a contundente ação da Federação
dos Trabalhadores na Educação junto ao Ministério
Público, denunciando que os professores serão substituídos
por aparelhos de televisão e fitas cassetes da Globo, e que os candidatos
selecionados no concurso público aberto (o primeiro em sete anos
de governo Roseana!), na verdade, irão funcionar como bedéis,
sem ministrar aula alguma, atendendo pelo pomposo apelido de "orientadores
de aprendizado".Como se tudo isso fosse pouco, os 92 milhões de
reais são apenas para as fitas. As apostilas dos alunos são
por fora. Mais a bagatela de 16 milhões de reais, somente na primeira
compra. Editadas por quem? Ganha uma passagem só de ida para a ilha
de Curupu, com escala na sofisticada mansão da praia do Calhau,
quem respondeu Editora Globo...Neste mês de fevereiro teremos a primeira
turma de formandos do "tele-ensino", batizado pelo povo do Maranhão
de "tele-engano". São 124.000 adolescentes. Educadores e pedagogos
locais prenunciam um baixíssimo nível de aproveitamento e
uma péssima base educacional: "Será um exército de
semi-analfabetos. A vantagem é que já sabem, pelo menos,
desenhar o próprio nome". Irônico, o professor Paulo Rios,
líder dos professores, constata, impiedoso: "Eu conhecia o método
Paulo Freire. A Roseana aplicou o método Roberto Marinho".UM JEITO
ROSEANA DE GOVERNARAlguns exemplos, dos muitos que poderíamos oferecer
aos leitores, de feitos da gestão de Roseana Sarney à frente
dos destinos do Maranhão. Nenhum deles, com certeza, será
exibido em O Clone...Projeto Salangô - Num ambicioso projeto de culturas
de arroz e de limão irrigadas, sumiram 53 milhões de reais
de verbas federais. Nenhum hectare de arroz, nenhum pé de limão
foram plantados. O Tribunal de Contas da União, após pareceres
de auditores técnicos que visitaram o local, recomendou ao governo
federal que não dê mais um real ao projeto.Pólo de
confecções de Rosário - O chinês de Taiwan Chao
Kwo Cheng, amigo íntimo de Jorge Murad, arrancou recursos do Banco
do Nordeste e do governo estadual e montou um pólo de confecções
na região metropolitana de São Luís com a promessa
de milhares de empregos. O projeto, inaugurado por FHC, não passou
de um barracão rústico com algumas máquinas de costura
e milhares de costureiras frustradas. Fugitivo, com os financiamentos no
bolso, Chao acabou preso pela Polícia Federal por estelionato e
formação de quadrilha. Solto por obra de um habeas corpus,
jamais devolveu um único real dos milhões que conseguiu alavancar
com o apoio da governadora.Lagoa do Jansen - Inaugurado em 30 de dezembro
passado, com festa, discurso e foguetório, o Parque Ambiental da
Lagoa do Jansen, em São Luís, não resistiu à
primeira chuva, duas semanas depois. Tendo custado 70 milhões de
reais, enviados pelo mano Zequinha, ministro do Meio Ambiente, o lago artificial
de pouco mais de 1 metro de profundidade transbordou, invadindo condomínios
de classe média alta e casebres paupérrimos que o rodeiam.
Dejetos, matéria vegetal não retirada e sujeira desmoralizaram
o que Roseana havia chamado dias antes de "a nossa lagoa Rodrigo de Freitas".
A despoluição, item mais caro do dinheiro gasto, simplesmente
não foi feita.Favorecimento à OAS - O jornalista Walter Rodrigues
calcula em quase meio bilhão de reais as obras entregues por Roseana
à notória empreiteira baiana OAS, sem falar nas denúncias
de ligação com Antônio Carlos Magalhães. O projeto
Italuís, de duplicação da adutora do rio Itapicuru,
no montante de 300 milhões de reais, além do projeto da lagoa
do Jansen, entre outros, são executados pela OAS. Em todos, irregularidades
constatadas pelo Tribunal de Contas da União.Caminhando pelas ruas
do centro histórico de São Luís, o jornalista Walter
Rodrigues é alvo da curiosidade, da admiração e de
muitos cumprimentos. Mal chegado aos 50 anos, paraense de nascimento, ele
é o homem que mais conhece, enfrenta e combate a oligarquia local.
Sério, comedido, bem-humorado e com uma coragem pessoal absoluta
("Esse tem colhões", observou um deputado governista), Walter é
colunista de um diário cinqüentenário, o destemido Jornal
Pequeno (www.jornalpequeno.net), único órgão de oposição
na imprensa maranhense. Ele sabe muito. Sabe tudo de Sarney e de sua turma.
Mas ele é só perguntas para mim: "Será que o Brasil
não aprendeu com Collor?" "Como é que um homem de origem
modesta pode ser um empresário riquíssimo, dono de rádios,
televisões, jornal, imóveis, como é o Sarney hoje?"
"A memória nacional se esqueceu do que foi o fracasso de seu governo,
com 80 por cento de inflação ao mês e casos de corrupção
piores que os da era Collor?" "O governo de Roseana é um desastre.
Com os indicadores sociais que temos, segundo a revista Veja, se o Maranhão
fosse um país, seria o segundo mais miserável das Américas,
perdendo só para o Haiti."O jornaleiro da rua do Egito escuta. Calça
uma sandália havaiana. Sua camiseta rota traz a propaganda do jornal
Estado do Maranhão, propriedade da família Sarney. "Ela quer
fazer no Brasil o que não consegue fazer no Maranhão", diz,
tomando coragem. Sua boca mostra um sorriso triste. Só tem um dente.
A distância que nos separa da posse de José Sarney, em 31
de janeiro de 1966, é de exatos 36 anos. Mas parece ser de poucos
dias. Quem sabe, até, se esse jornaleiro não é o filho
daquele tuberculoso. O do filme de Glauber Rocha. Mas isso pouco importa.
Nizan Guanaes não irá mostrá-lo nos intervalos de
O Clone.
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