Acho que um dos problemas mais comuns quando as pessoas pensam em "infinito" é achar que, se algo vale para todo N, então deve valer para "N=Infinito", seja lá o que isto for, como se "Infinito" fosse um número natural... Acho que ambos as "contradições" que você cita caem nesta categoria:
1) É verdade que qualquer conjunto com N pontos tem dimensão 0, qualquer que seja N natural, por maior que seja N. Mas isto NÃO implica que qualquer conjunto de pontos tenha dimensão 0. É perfeitamente razoável que um conjunto INFINITO de pontos tenha dimensão maior que 0. Por que haveria problema? :) 2) A "área sob a curva" numa integral é feita de uma infinidade de "segmentos de reta" de área 0. É verdade que a área da união de N conjuntos de área 0 dá sempre um total de 0, qualquer que seja N natural, não interessa quão grande N seja. Mas isto não significa que a área da união de **infinitos** segmentos de reta de área 0 tenha que dar 0. Note que (com a definição usual de integral dada nos cursos de cálculo 1) uma integral não é **definida** como um somatório infinito de áreas zero; é um LIMITE quando N->+Inf de um somatório finito (com N termos) de várias áreas, cada uma variando com N. É verdade que CADA área tende a 0 quando N cresce, mas a QUANTIDADE delas aumenta com N, então é possível que a integral dê um número positivo! Por exemplo: -- Uma coisa é somar N parcelas todas iguais a 1/N e depois tomar N->+Inf (a resposta é 1); -- Outra coisa é tomar 1/N quando N->+Inf (que dá 0) e depois somar N vezes (que não faz muito sentido porque você já tinha tomado N->+Inf, mas alguns diriam que dá 0). A ordem é importante! Os processos acima são simplesmente coisas diferentes, não tem que ser iguais, não há contradição alguma. No caso da integral, note a diferença entre: -- SOMAR N ÁREAS RETANGULARES (que dependem de N), VER QUANTO DÁ (em função de N), e DEPOIS tomar N->+Inf (a integral é uma coisa assim); -- PEGAR CADA ÁREA, TOMAR N->+Inf, E DEPOIS SOMAR TODAS (o que não faz sentido, já que serão infinitas áreas e eu não sei somar infinitos números, ainda mais números que não param quietos; se você arrumar um jeito de somar infinitos números, pode ser que isto dê 0 mesmo, dependendo de como você somar... mas isto definitivamente NÃO é a definição de integral do cálculo 1) Vou inventar outros exemplos deste tipo (os raciocínios a seguir são FALSOS). 3) Como 1/N é positivo para todo N, então tomando N=+Inf concluímos que 0 é positivo! 4) Como 0,99999...9<1 (onde ali tem N noves), então 0,9999....<1 (com infinitos noves)! 5) Como a soma finita de N parcelas não depende da ordem das parcelas, então a soma de uma série infinita também não! (Por exemplo, é possível mostrar que 1-1/2+1/3-1/4+1/5-1/6+1/7-1/8+...=ln(2); mas 1+1/3-1/2+1/5+1/7-1/4+1/9+1/11-1/6+...=3.ln(2)/2) Todos estas "aparentes" contradições são explicadas com o mesmo "mantra": "SÓ PORQUE VALE PARA TODO N NATURAL, NÃO SIGNIFICA QUE VALE PARA "N=INFINITO"" Abraço, Ralph 2012/4/27 luiz silva <luizfelipec...@yahoo.com.br>: > Prezados, > > Como a matemática lida com as seguintes questões : > > 1 - como pode algo sem dimensão dar origem a algo dimensional (ponto - > curva) > > 2 - como pode um somatório infinito de áreas zero ter como resultado algo > diferente de zero, como ocorre nas integrais ? > > Abs > Felipe ========================================================================= Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html =========================================================================