[obm-l] Convergência

2011-02-08 Por tôpico Henrique Rennó
Na sequência 1/1, 3/2, 7/5, 17/12, 41/29, ..., o denominador de cada
termo a partir do segundo é a soma do numerador mais denominador
anterior e o numerador é a soma de duas vezes o denominador mais
numerador anterior. Essa sequência converge para raíz_quadrada(2).
Como isso pode ser demonstrado?

-- 
Henrique

=
Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
=


[obm-l] Re: [obm-l] Convergência

2011-02-08 Por tôpico Bernardo Freitas Paulo da Costa
2011/2/8 Henrique Rennó henrique.re...@gmail.com:
 Na sequência 1/1, 3/2, 7/5, 17/12, 41/29, ..., o denominador de cada
 termo a partir do segundo é a soma do numerador mais denominador
 anterior e o numerador é a soma de duas vezes o denominador mais
 numerador anterior. Essa sequência converge para raíz_quadrada(2).
 Como isso pode ser demonstrado?
Oi Henrique. Uma das coisas importantes nesse tipo de problemas é dar
nome aos burros. Assim, seja x_n a seqüência dos denominadores, y_n a
dos numeradores. Você quer calcular o limite y_n/x_n. Agora, veja que
você tem uma recorrência de x_n e y_n em função deles mesmos. Veja que
dá

x_{n+1} = x_n + y_n
y_{n+1} = 2*x_n + y_n

Mas o que você quer é o quociente. Vejamos o que dá pra fazer com y_n+1/x_n+1:

y_{n+1}/x_{n+1} = ( 2*x_n + y_n ) / (x_n + y_n ) = 1 + x_n / (x_n +
y_n ) = 1 + 1/(1 + y_n/x_n)

Agora, *se* existir um limite L para y_n/x_n, será o mesmo que para
y_{n+1}/x_{n+1}. Isso dá uma equação do segundo grau em L, você
resolve, e pronto.

Mas isso ainda não prova que converge ! Para provar a convergência, é preciso
1/ Fazer as contas com épsilons e n = N, e ver que dá certo pra todo
épsilon, ou
2/ Tentar mostrar uma propriedade que faça a convergência ficar clara.

Eu deixo você provar usando o método 1 (não é tão difícil assim: uma
vez que você sabe qual é o limite, é mais uma questão de estimar o
erro na etapa n, e tentar calcular como ele vai diminuir quando você
fizer a próxima operação! Dica: estime (y_n/x_n)^2 - 2 a cada vez,
você vai ver que o erro divide por mais do que 3).

O método 2 é o seguinte: veja que a seqüência é limitada: 0  x_n 
y_n  2*x_n (veja que y_{n+1} = 2x_n + y_n  2(x_n + y_n) =
2*x_{n+1}), o que quer dizer que y_n/x_n está sempre entre 1 e 2. Bom,
a idéia é tentar provar que a seqüência é monótona (a gente não tem
tanto teorema assim que ajuda a provar a convergência das coisas...).
Mas nem vale a pena tentar: 1/1=1, 3/2=1,5, 7/5 = 1,4, e o outro 17/12
é muito chato pra fazer de cabeça. Mas você pode tentar outra coisa...
ela pode ficar oscilando em volta do limite.

Vamos calcular y_{n+2}/x_{n+2} (nunca perca a coragem, e até agora as
contas foram poucas!)
Isso dá (4 x_n + 3 y_n)/(3 x_n + 2 y_n). Fatorando y_n/x_n (afinal, é
com o quê a gente quer comparar), obtemos  y_{n+2}/x_{n+2} = (y_n/x_n)
* (3 + 4 x_n/y_n) / (3 + 2 y_n/x_n). O que dá um fator multiplicativo
(3 + 4/a) / (3 + 2a), onde a = y_n/x_n. Suponha que a  raiz(2). Neste
caso, a*a  2, logo 2a  4/a, o que faz um fator menor do que 1. Por
outro lado, se a  raiz(2), o fator é maior do que 1.

O que quer dizer que temos quase tudo para ter uma seqüência que fica
oscilando entre o limite raiz(2).

Falta só provar que o y_{n+2}/x_{n+2} continua menor do que raiz(2),
mesmo depois de aumentar, se y_n/x_n for menor do que raiz(2), e
reciprocamente no outro caso. Isso é fácil de ver assim : suponha que
y_n/x_n  raiz(2). Vejamos o que acontece com y_{n+1}/x_{n+1} = 1 +
1/(1 + y_n/x_n)  1 + 1/(1 + raiz(2)) = 1 + (raiz(2) - 1)/(2-1) =
raiz(2). Oba! E como mudando y_n/x_n  raiz(2) a desigualdade na
recorrência muda de sinal, a gente provou:
1/ A seqüência fica alternadamente maior / menor do que raiz(2)
2/ A cada duas etapas (ou seja, quando o sinal volta a ser o mesmo),
está mais perto
3/ Agora, pegue o limite de cada uma das seqüências (a crescente e a
decrescente, par / ímpar se você prefere), que existe porque é
limitado e monótono (O teorema), eles satisfazem a mesma equação L =
L(3 + 4/L)/(3 + 2L), ou seja 3 + 4/L = 3 + 2L, ou seja L^2 = 2, e são
ambos positivos. Fim!


Depois de escrever isso tudo, eu acho que o método 1 foi o mais
fácil... (ok, precisa da idéia dos quadrados, mas é bastante razoável,
né?). A vantagem do método 2 é que ele funciona em muitos casos em que
é difícil obter uma estimativa da convergência!

Abraços,
-- 
Bernardo Freitas Paulo da Costa

=
Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
=


[obm-l] Re: [obm-l] Re: [obm-l] Convergência

2011-02-08 Por tôpico Henrique Rennó
Na verdade, gostaria de saber como pode ser encontrado que

x_{n+1} = x_n + y_n
y_{n+1} = 2*x_n + y_n

são as fórmulas recursivas de modo que a sequência possa convergir
para raíz_quadrada(2). Se ao invés de raíz_quadrada(2) fosse
raíz_quadrada(3), qual seria a recorrência?

2011/2/8 Bernardo Freitas Paulo da Costa bernardo...@gmail.com:
 2011/2/8 Henrique Rennó henrique.re...@gmail.com:
 Na sequência 1/1, 3/2, 7/5, 17/12, 41/29, ..., o denominador de cada
 termo a partir do segundo é a soma do numerador mais denominador
 anterior e o numerador é a soma de duas vezes o denominador mais
 numerador anterior. Essa sequência converge para raíz_quadrada(2).
 Como isso pode ser demonstrado?
 Oi Henrique. Uma das coisas importantes nesse tipo de problemas é dar
 nome aos burros. Assim, seja x_n a seqüência dos denominadores, y_n a
 dos numeradores. Você quer calcular o limite y_n/x_n. Agora, veja que
 você tem uma recorrência de x_n e y_n em função deles mesmos. Veja que
 dá

 x_{n+1} = x_n + y_n
 y_{n+1} = 2*x_n + y_n

 Mas o que você quer é o quociente. Vejamos o que dá pra fazer com y_n+1/x_n+1:

 y_{n+1}/x_{n+1} = ( 2*x_n + y_n ) / (x_n + y_n ) = 1 + x_n / (x_n +
 y_n ) = 1 + 1/(1 + y_n/x_n)

 Agora, *se* existir um limite L para y_n/x_n, será o mesmo que para
 y_{n+1}/x_{n+1}. Isso dá uma equação do segundo grau em L, você
 resolve, e pronto.

 Mas isso ainda não prova que converge ! Para provar a convergência, é preciso
 1/ Fazer as contas com épsilons e n = N, e ver que dá certo pra todo
 épsilon, ou
 2/ Tentar mostrar uma propriedade que faça a convergência ficar clara.

 Eu deixo você provar usando o método 1 (não é tão difícil assim: uma
 vez que você sabe qual é o limite, é mais uma questão de estimar o
 erro na etapa n, e tentar calcular como ele vai diminuir quando você
 fizer a próxima operação! Dica: estime (y_n/x_n)^2 - 2 a cada vez,
 você vai ver que o erro divide por mais do que 3).

 O método 2 é o seguinte: veja que a seqüência é limitada: 0  x_n 
 y_n  2*x_n (veja que y_{n+1} = 2x_n + y_n  2(x_n + y_n) =
 2*x_{n+1}), o que quer dizer que y_n/x_n está sempre entre 1 e 2. Bom,
 a idéia é tentar provar que a seqüência é monótona (a gente não tem
 tanto teorema assim que ajuda a provar a convergência das coisas...).
 Mas nem vale a pena tentar: 1/1=1, 3/2=1,5, 7/5 = 1,4, e o outro 17/12
 é muito chato pra fazer de cabeça. Mas você pode tentar outra coisa...
 ela pode ficar oscilando em volta do limite.

 Vamos calcular y_{n+2}/x_{n+2} (nunca perca a coragem, e até agora as
 contas foram poucas!)
 Isso dá (4 x_n + 3 y_n)/(3 x_n + 2 y_n). Fatorando y_n/x_n (afinal, é
 com o quê a gente quer comparar), obtemos  y_{n+2}/x_{n+2} = (y_n/x_n)
 * (3 + 4 x_n/y_n) / (3 + 2 y_n/x_n). O que dá um fator multiplicativo
 (3 + 4/a) / (3 + 2a), onde a = y_n/x_n. Suponha que a  raiz(2). Neste
 caso, a*a  2, logo 2a  4/a, o que faz um fator menor do que 1. Por
 outro lado, se a  raiz(2), o fator é maior do que 1.

 O que quer dizer que temos quase tudo para ter uma seqüência que fica
 oscilando entre o limite raiz(2).

 Falta só provar que o y_{n+2}/x_{n+2} continua menor do que raiz(2),
 mesmo depois de aumentar, se y_n/x_n for menor do que raiz(2), e
 reciprocamente no outro caso. Isso é fácil de ver assim : suponha que
 y_n/x_n  raiz(2). Vejamos o que acontece com y_{n+1}/x_{n+1} = 1 +
 1/(1 + y_n/x_n)  1 + 1/(1 + raiz(2)) = 1 + (raiz(2) - 1)/(2-1) =
 raiz(2). Oba! E como mudando y_n/x_n  raiz(2) a desigualdade na
 recorrência muda de sinal, a gente provou:
 1/ A seqüência fica alternadamente maior / menor do que raiz(2)
 2/ A cada duas etapas (ou seja, quando o sinal volta a ser o mesmo),
 está mais perto
 3/ Agora, pegue o limite de cada uma das seqüências (a crescente e a
 decrescente, par / ímpar se você prefere), que existe porque é
 limitado e monótono (O teorema), eles satisfazem a mesma equação L =
 L(3 + 4/L)/(3 + 2L), ou seja 3 + 4/L = 3 + 2L, ou seja L^2 = 2, e são
 ambos positivos. Fim!


 Depois de escrever isso tudo, eu acho que o método 1 foi o mais
 fácil... (ok, precisa da idéia dos quadrados, mas é bastante razoável,
 né?). A vantagem do método 2 é que ele funciona em muitos casos em que
 é difícil obter uma estimativa da convergência!

 Abraços,
 --
 Bernardo Freitas Paulo da Costa

 =
 Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
 http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
 =




-- 
Henrique

=
Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
=


[obm-l] RE: [obm-l] Re: [obm-l] Convergência

2011-02-08 Por tôpico Luís Lopes

Sauda,c~oes, 

Obrigado Bernardo por tal solução. Devemos reconhecer 
e apreciar a colaboração (muitas) de membros como você. 

Eu procederia da seguinte maneira: seja o sistema 

x_{n+1} = x_n + y_n
y_{n+1} = 2*x_n + y_n

Resolvendo o sistema acima (alguém sabe como fazer isso?) 
obtemos x_n e y_n e daí a_n =  y_n/x_n. 

Então tendo a_n usamos um daqueles testes manjados para 
testar a convergência de séries (positivas). Será que daria certo? 

[]'s 
Luís 




 Date: Tue, 8 Feb 2011 16:54:04 +0100
 Subject: [obm-l] Re: [obm-l] Convergência
 From: bernardo...@gmail.com
 To: obm-l@mat.puc-rio.br
 
 2011/2/8 Henrique Rennó henrique.re...@gmail.com:
  Na sequência 1/1, 3/2, 7/5, 17/12, 41/29, ..., o denominador de cada
  termo a partir do segundo é a soma do numerador mais denominador
  anterior e o numerador é a soma de duas vezes o denominador mais
  numerador anterior. Essa sequência converge para raíz_quadrada(2).
  Como isso pode ser demonstrado?
 Oi Henrique. Uma das coisas importantes nesse tipo de problemas é dar
 nome aos burros. Assim, seja x_n a seqüência dos denominadores, y_n a
 dos numeradores. Você quer calcular o limite y_n/x_n. Agora, veja que
 você tem uma recorrência de x_n e y_n em função deles mesmos. Veja que
 dá
 
 x_{n+1} = x_n + y_n
 y_{n+1} = 2*x_n + y_n
 
 Mas o que você quer é o quociente. Vejamos o que dá pra fazer com y_n+1/x_n+1:
 
 y_{n+1}/x_{n+1} = ( 2*x_n + y_n ) / (x_n + y_n ) = 1 + x_n / (x_n +
 y_n ) = 1 + 1/(1 + y_n/x_n)
 
 Agora, *se* existir um limite L para y_n/x_n, será o mesmo que para
 y_{n+1}/x_{n+1}. Isso dá uma equação do segundo grau em L, você
 resolve, e pronto.
 
 Mas isso ainda não prova que converge ! Para provar a convergência, é preciso
 1/ Fazer as contas com épsilons e n = N, e ver que dá certo pra todo
 épsilon, ou
 2/ Tentar mostrar uma propriedade que faça a convergência ficar clara.
 
 Eu deixo você provar usando o método 1 (não é tão difícil assim: uma
 vez que você sabe qual é o limite, é mais uma questão de estimar o
 erro na etapa n, e tentar calcular como ele vai diminuir quando você
 fizer a próxima operação! Dica: estime (y_n/x_n)^2 - 2 a cada vez,
 você vai ver que o erro divide por mais do que 3).
 
 O método 2 é o seguinte: veja que a seqüência é limitada: 0  x_n 
 y_n  2*x_n (veja que y_{n+1} = 2x_n + y_n  2(x_n + y_n) =
 2*x_{n+1}), o que quer dizer que y_n/x_n está sempre entre 1 e 2. Bom,
 a idéia é tentar provar que a seqüência é monótona (a gente não tem
 tanto teorema assim que ajuda a provar a convergência das coisas...).
 Mas nem vale a pena tentar: 1/1=1, 3/2=1,5, 7/5 = 1,4, e o outro 17/12
 é muito chato pra fazer de cabeça. Mas você pode tentar outra coisa...
 ela pode ficar oscilando em volta do limite.
 
 Vamos calcular y_{n+2}/x_{n+2} (nunca perca a coragem, e até agora as
 contas foram poucas!)
 Isso dá (4 x_n + 3 y_n)/(3 x_n + 2 y_n). Fatorando y_n/x_n (afinal, é
 com o quê a gente quer comparar), obtemos  y_{n+2}/x_{n+2} = (y_n/x_n)
 * (3 + 4 x_n/y_n) / (3 + 2 y_n/x_n). O que dá um fator multiplicativo
 (3 + 4/a) / (3 + 2a), onde a = y_n/x_n. Suponha que a  raiz(2). Neste
 caso, a*a  2, logo 2a  4/a, o que faz um fator menor do que 1. Por
 outro lado, se a  raiz(2), o fator é maior do que 1.
 
 O que quer dizer que temos quase tudo para ter uma seqüência que fica
 oscilando entre o limite raiz(2).
 
 Falta só provar que o y_{n+2}/x_{n+2} continua menor do que raiz(2),
 mesmo depois de aumentar, se y_n/x_n for menor do que raiz(2), e
 reciprocamente no outro caso. Isso é fácil de ver assim : suponha que
 y_n/x_n  raiz(2). Vejamos o que acontece com y_{n+1}/x_{n+1} = 1 +
 1/(1 + y_n/x_n)  1 + 1/(1 + raiz(2)) = 1 + (raiz(2) - 1)/(2-1) =
 raiz(2). Oba! E como mudando y_n/x_n  raiz(2) a desigualdade na
 recorrência muda de sinal, a gente provou:
 1/ A seqüência fica alternadamente maior / menor do que raiz(2)
 2/ A cada duas etapas (ou seja, quando o sinal volta a ser o mesmo),
 está mais perto
 3/ Agora, pegue o limite de cada uma das seqüências (a crescente e a
 decrescente, par / ímpar se você prefere), que existe porque é
 limitado e monótono (O teorema), eles satisfazem a mesma equação L =
 L(3 + 4/L)/(3 + 2L), ou seja 3 + 4/L = 3 + 2L, ou seja L^2 = 2, e são
 ambos positivos. Fim!
 
 
 Depois de escrever isso tudo, eu acho que o método 1 foi o mais
 fácil... (ok, precisa da idéia dos quadrados, mas é bastante razoável,
 né?). A vantagem do método 2 é que ele funciona em muitos casos em que
 é difícil obter uma estimativa da convergência!
 
 Abraços,
 -- 
 Bernardo Freitas Paulo da Costa
 
 =
 Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
 http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
 =