2010/7/26 Jorge Luis Rodrigues e Silva Luis <jorgelrs1...@hotmail.com>:
> Um pai, tentando convencer o filho a tornar-se tenista, oferece-lhe prêmio
> se ele vencer duas partidas seguidas numa série de três jogos. A única
> restrição é que o filho deve jogar alternadamente com o pai e o seu
> treinador; devendo escolher então entre uma das duas séries:
> pai-treinador-pai ou treinador-pai-treinador. O treinador joga melhor que o
> pai. Qual série o filho deve escolher?
Esse problema é bem interessante, porque tem dois aspectos. O
primeiro, é que parece ser estranho escolher TPT
(treinador-pai-treinador) em vez de PTP. Mas veja bem.

Sejam p e t as probabilidades de o filho vencer um jogo contra seu pai
e seu treinador, respectivamente.  No tênis, não há empate (mas o jogo
pode durar muuuuuuuuuuuuuuuuito tempo!), logo a probabilidade de ele
ganhar os dois primeiros jogos na configuração PTP é pt. Nesse caso,
ele já tem o prêmio. Se ele perder o primeiro jogo, com probabilidade
(1-p), ele deve ganhar os dois seguintes, logo com probabilidade tp.
Total : pt + (1-p)*tp. (Exercício: veja que essa probabilidade é
realmente menor do que 1, e que ela é máxima exatamente quando p=1, o
que parece bem razoável). Mas se a configuração for TPT, as
probabilidades passam a ser tp + (1-t)*pt. E como "o treinador joga
melhor do que o pai" quer dizer que a chance de perder contra o
treinador (que vale 1-t, lembre) é maior do que perder contra o pai.
Assim, o filho tem mais chances de ganhar se escolher a configuração
em que ele joga contra o treinador mais vezes. O que tem uma
explicação "intuitiva" simples. Em qualquer dos casos, o filho tem que
ganhar uma partida contra o treinador. Mais ainda, na configuração
PTP, ele é "obrigado" a ganhar contra o treinador, enquanto que na
configuração TPT, ele é obrigado a ganhar do pai (o que é mais fácil)
e ele tem "2 chances" para tentar ganhar do treinador. Fim de papo.

Mesmo ??? Se você fosse o filho, você escolheria isso ? Eu não...
enfim, depende. Se forem jogos realmente "independentes" (como a gente
tem mania de pensar por conta dos probleminhas de vestibular), a
dedução procede. Mas imagine que o pai não tem todo o tempo do mundo,
nem o filho, nem o treinador, e na verdade são três jogos
consecutivos. Pode ser um jogo cada dia, mas pode ser muito pior, por
exemplo, durante uma sessão de treinamento. Ou imagine que se trata de
ping-pong, por exemplo, em que os jogos são mais curtos. O raciocínio
acima não leva em consideração um fator muito importante: se você
ganhou um jogo contra alguém que é mais "forte" do que você, talvez
você tenha se cansado um bocado para tanto. E, de modo geral, para
ganhar uma partida contra um profissional, ou contra um
"café-com-leite", a história é bem diferente. Eu proponho, portanto, o
seguinte raciocínio.

Sejam dois jogos consecutivos J1 e J2. Imagine que você tem chance g1
de ganhar o primeiro jogo, e g2 o segundo, se eles fossem realmente
"fisicamente" independentes. Seja um parâmetro alfa < 1. Então você
tem chance somente de (1 - alfa*(1-g1))*g2 de ganhar o segundo. O
coeficiente na frente do g2 é bem simples, mas satisfaz o seguinte:
 - se alfa = 0, os jogos são independentes
 - para todo 0 < alfa < 1, os jogos são dependentes, e a chance de
ganhar o segundo decresce com alfa
 - para alfa fixo, a chance de ganhar o segundo diminui se você teve
que "se cansar mais" para ganhar o jogo anterior.
A função (1-g1) de "penalidade" é provavelmente simples demais. Se g1
fosse quase 1, talvez você devesse "descansar" mais. Acho que uma boa
função seria uma "tangente hiperbólica" com uma baita inflexão em g1 =
0.5. Mas deixa pra lá, já vai ficar complicado o suficiente. Aliás,
note que a probabilidade é a mesma independentemente do resultado do
jogo: ela corresponde ao "cansaço" de ter jogado contra um jogador de
"dificuldade" 1 - g1. É claro que isso complica ainda mais as coisas:
se você notar que você vai perder, talvez você desista. Eu vou supor
que não é o caso, porque afinal, se o pai notar que o filho "desistiu"
de ganhar, ele vai dizer: "não, você não jogou direito, um
profissional não desistiria assim". Ainda mais que os torneios da ATP
são sempre eliminatórios :).

Com o problema modificado para incorporar esse aspecto a mais, as
probabilidades se tornam:
p*(1 - alfa*(1-p))*t + (1-p)*(1 - alfa*(1-p))*t*(1 - alfa*(1 -
alfa*(1-p))*t)*p = pt( (1 - alfa*(1-p)) +  (1-p)*(1 - alfa*(1-p))*(1 -
alfa*(1 - alfa*(1-p))*t)) para a configuração PTP, e permutando p e t
para a configuração TPT.

A diferença PTP - TPT é, portanto (depois de dividir por p*t, que é
sempre positivo) :
dif = 
(3*t^2*p-3*p^2*t+p^3*t-t^3*p-t+p)*alfa^3+(2*p^2*t+2*t-2*t^2*p-2*p)*alfa^2+(-4*t+t^2+4*p-p^2)*alfa+t-p
Com um pouco de boa vontade (e um computador pra fazer as contas e ver
que vai dar certo), você vê que essa diferença dá pra dividir por p-t,
que é positivo. O que é mais ou menos natural visto a simetria do
problema. Portanto, o que nos interessa é, na verdade, o sinal de

(t^2*p-3*p*t+p^2*t+1)*alfa^3 + (2*p*t-2)*alfa^2 + (-t+4-p)*alfa - 1

O que já mostra que, se alfa = 0 (ou seja, os jogos são
independentes), PTP tem menos chances do que TPT. Como a gente tinha
visto. A segunda coisa legal é ver que em alfa = 1, isso dá

t^2 * p +p^2 * t - p*t - p - t + 2 =
pt(t + p - 1) - 1 (t + p - 1) + 1 =
(t + p - 1)*(pt - 1) + 1 =
(1 - p - t)*(1 - pt) + 1

e portanto se p+t <= 1, vale a pena mudar para TPT no caso de "muito
cansaço acumulado".

Mas tem mais: se p+t > 1, a gente pode mudar a conta na segunda linha :
t^2 * p +p^2 * t - p*t - p - t + 2 = pt(t+p - 1) + 2 - (p+t)
o que também vai ser positivo, já que p+t é menor do que 2, e agora o
primeiro fator é positivo.

Dá pra fazer mais, por exemplo, se você fizer um gráfico da
diferença/pt(p-t) você vê que isso é crescente com alfa.

> Afinal! Qual o absurdo na declaração "Metade dos alunos tiveram um
> desempenho abaixo da média"?
Ela é tautológica ?


-- 
Bernardo Freitas Paulo da Costa

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Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
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