2010/6/5 Lucas Hagemaister <lucashagemais...@msn.com>
>
>  Hum... Entendi. Obrigado!
> O que mais ou menos o lema quer dizer é o seguinte:
> Sempre que termos m|a e n|a, onde mn|a, m e n serão primos entre si.
Tivermos, para não assassinar o português. E não, cuidado com a ordem
das implicações. A e B => C  não quer dizer que A e C => B!!!! Veja
bem, podemos ter
20 | 100
5 | 100
20*5 | 100
mas 20 e 5 não são primos entre si.

Muito cuidado com a ordem das coisas... Que nem aquela do "todo corvo
é preto, ora, minha ovelha é preta, logo minha ovelha é um corvo".

> O que eu fiz foi o contrário(ali no caso do 4 e 10):
O que você fez foi usar a conclusão de um teorema sem verificar as
hipóteses... Por exemplo, "todo ser vivo é mortal, logo os
computadores são mortais". Repare que falta o conectivo "ora, os
computadores são seres vivos". (que, por sinal, me parece falsa...)

> Sempre que termos m e n primos entre si, onde m|a e n|a, mn|a.
> Como vimos, no caso do 4 e  10 isso não ocorre.
Justamente, o problema do caso do 4 e do 10 que "faz falhar o
teorema", é que 4 e 10 não são primos entre si, e daí "sobram fatores
primos", que são "contados duas vezes".

Uma sugestão para entender o teorema de Gauss: tente demonstrar sem
essa hipótese. Veja o que falha. Tente corrigir essa primeira
demonstração, sem usar Bézout. A idéia é simplesmente partir da
observação "bom, 3 | x e 2 | x => 6 | x", e tentar generalizar essa
demonstração (que é meio "fácil") para o caso em que 2 e 3 são números
quaisquer. Depois de um certo tempo, acho que vem "naturalmente" a
hipótese certa que falta adicionar ao teorema (que os números são
primos entre si). Mas o grande problema é que agora é praticamente
impossível de generalizar a demonstração que você deu no caso 2,3 =>
6. E essa é uma das partes interessantes (e difíceis) da matemática:
quando você começa a tentar entender mais profundamente alguma coisa,
e depois de um monte de esforço consegue chegar num enunciado que você
acredita suficientemente (ou seja, você esgotou a sua fonte de
contra-exemplos para a situação em questão, e os evitou nas hipóteses,
que capturam a "essência" do que deve fazer funcionar), você descobre
que falta alguma coisa mais forte para demonstrar. Você podia ter
começado com números primos somente (e nesse caso eu acho que tem uma
prova bem simples), mas agora, você precisa usar algo muito mais
sofisticado. E é exatamente entendendo a sofisticação que você
introduz (Bézout é crucial, mesmo, para demonstrar, e você vê
exatamente como ele faz "tudo funcionar"), que você terá entendido o
porquê de duas coisas. A primeira, porque o teorema é verdade, dito
assim. E a segunda, mais importante ainda, é "porque as hipóteses do
teorema são essas aí, e não outras".

E uma outra sugestão. Se você estiver com uma dúvida, escreva sempre
as hipóteses *antes* da conclusão. Escreva [ Se A, B, C e D, Então X
]. Ajuda a evitar erros, e simplifica também bastante na hora de
escrever a contrapositiva, a negação, ... Escrever enunciados de forma
"contorcida" pode ser mais elegante poeticamente, mas é mais ou menos
como usar numerais romanos para fazer multiplicações. Você conseguirá,
mas o algoritmo é muito menos eficiente do que o dos algarismos
arábicos.

Abraços,
--
Bernardo Freitas Paulo da Costa

=========================================================================
Instruções para entrar na lista, sair da lista e usar a lista em
http://www.mat.puc-rio.br/~obmlistas/obm-l.html
=========================================================================

Responder a