MÔNICA E EDUARDO
**************************

Esse mail é comprido, mas trata-se de uma análise  comportamental
e  crítica sobre "Eduardo e Mônica" (aquela música que todo mundo
tem obrigação de tocar em  churrascos,  ao  lado de Wish You Were
Here, Stairway to Heaven, etc.)


De uma olhadinha que vale a pena !

     xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

A música Eduardo e Monica  da  banda Legião Urbana esconderia uma
implicância com  o  sexo  masculino?   É  o  que  garante  Adolar
Gangorra, nosso polêmico colaborador humorista.  Leia e confira.

O falecido Renato Russo  era,  sem  dúvida,  um ótimo músico e um
excelente letrista.  Escreveu verdadeiras obras de arte cheias de
originalidade e  sentimento.   Como  artista  engajado  que  era,
defendia  veementemente  seus  pontos  de  vista  nas  letras que
criava.  E por isso mesmo,  talvez algumas delas excedam a lógica
e o bom senso.

Como no caso da música Eduardo  e  Monica,  do  álbum  "Dois"  da
Legião  Urbana,  de  1986,  onde  a  figura masculina (Eduardo) é
tratada sempre como alienada  e  inconsciente enquanto a feminina
(Monica) é a portadora de uma  sabedoria  e  um  estilo  de  vida
evoluidíssimos.

Analisemos o que diz a  letra.   Logo na segunda estrofe, o autor
insinua que Eduardo seja preguiçoso e indolente (Eduardo abriu os
olhos mas não quis se levantar; Ficou deitado  e  viu  que  horas
eram) ao mesmo tempo que tentar dar uma imagem forte e charmosa à
Monica (enquanto Monica tomava um conhaque noutro canto da cidade
como  eles  disseram.).   Ora,  se  esta cena tiver se passado de
manhã como é provável, Eduardo  só estaria fazendo sua obrigação:
acordar.  Já Monica  revelaria-se  uma  cachaceira  profissional,
pois  virar  um  conhaque  antes do almoço é só para quem conhece
muito bem o ofício.

Mais à frente, vemos  Russo desenhar injustamente a personalidade
de Eduardo de maneira frágil e imatura (Festa estranha, com gente
esquisita...).  Bom, "Festa estranha" significa  uma  reunião  de
porra-loucas  atrás  de  qualquer  bagulho  para poderem fugir da
realidade com a desculpa esfarrapada de que são contra o sistema.
"Gente esquisita" é basicamente, um  bando  de sujeitos que têm o
hábito gozado de dar a bunda  após  cinco  minutos  de  conversa.
Também são as garotas mais horrorosas da Via-Láctea.  Enfim, esta
era  a  tal  "festa legal" em que Eduardo estava.  O que mais ele
podia  fazer?   Teve  que  encher  a  cara  pra  agüentar  aquele
pesadelo, como veremos a seguir.

Assim temos ( - Eu não tô  legal.   Não  agüento  mais  birita.).
Percebe-se  que  o  jovem  Eduardo  não  está familiarizado com a
rotina traiçoeira do álcool.  É um  garoto puro e inocente, com a
mente e o corpo sadios.  Bem ao contrário de Monica, uma  notória
bêbada sem-vergonha do underground.

Adiante,  ficamos   conhecendo   o   momento   em   que  os  dois
protagonistas se encontraram (E a Monica  riu  e  quis  saber  um
pouco mais Sobre o boyzinho que tentava impressionar).  Vamos por
partes:    em   "E   a   Monica   riu"  nota-se  uma  atitude  de
pseudo-superioridade desumana de Monica para com Eduardo.  Ela ri
de um bêbado inexperiente!

Mais à frente, é bom  esclarecer  o que o autor preferiu maquiar.
Onde lê-se "quis saber um pouco mais" leia-se "quis dar para"!  É
muita hipocrisia tentar passar  uma  imagem  sofisticada  da  tal
Monica.   A  verdade  é  que  ela se sentiu bastante atraída pelo
"boyzinho" que tentava impressionar"!   É o máximo do preconceito
leviano se referir ao singelo Eduardo como  "boyzinho"..   Não  é
verdade.   Caso  fosse realmente um playboy, ele não teria ido se
encontrar com Monica de bicicleta,  como consta na quarta estrofe
(Se encontraram então no parque da cidade A Monica de  moto  e  o
Eduardo  de  camelo.).   Se  alguém  aí  age como boy, esta seria
Monica, que vai ao encontro pilotando uma ameaçadora motocicleta.

Como é sabido, aos 16  (Ela  era  de  Leão e ele tinha dezesseis)
todo boyzinho já costuma roubar o carro  do  pai,  principalmente
para  impressionar  uma  maria-gasolina como Monica.  E tem mais:
se Eduardo fosse mesmo um playboy, teria penetrado com sua galera
na tal festa, quebraria tudo e  ia encher de porrada o esquisitão
mais fraquinho de todos na frente de todo mundo, valeu?

Na  ocasião  do  seu  primeiro  encontro, vemos Monica impor suas
preferências, uma constante durante  toda  a letra, em oposição a
uma humilde proposta do afável Eduardo  (O  Eduardo  sugeriu  uma
lanchonete  Mas a Monica queria ver o filme do Godard.).  Atitude
esta, nada  democrática  para  quem  se  julga  uma  liberal.  Na
verdade, Monica é o  que  se  convencionou  chamar  de  P.I.M.B.A
(Pseudo  Intelectual  Metido  à  Besta  e  Associados,  ou  seja,
intelectuerdas,  alternativos,  cabeças  e  viadinhos vestidos de
preto em geral), que acham  que  todo  filme americano é ruim e o
que é bom mesmo é filme europeu, de preferência francês, preto  e
branco,   arrastado   para   caralho  e  com  bastante  cenas  de
baitolagem.

Em seguida Russo  utiliza  o  eufemismo  "menina" para se referir
suavemente à Monica  (O  Eduardo  achou  estranho  e  melhor  não
comentar Mas a menina tinha tinta no cabelo.).  Menina?  Pudim de
cachaça  seria  mais  adequado.   À  pouco  vimos Monica virar um
Dreher na goela logo no  café  da  manhã  e  ele ainda a chama de
menina?  Além disto, se Monica pinta o  cabelo  é  porque  é  uma
balzaca  querendo fisgar um garotão viril ou porque é uma baranga
escrota mesmo.

O autor insiste em retratar Monica  como uma gênia sem par.  (Ela
fazia  Medicina  e  falava  alemão)  e  Eduardo  como  um  idiota
retardado  (E  ele  ainda  nas  aulinhas  de  inglês.).   Note  a
comparação de intelecto entre  o  casal:   ela  domina  o  idioma
germânico,  sabidamente de difícil aprendizado, já tendo superado
o   vestibular   altamente   concorrido   para   medicina.   Ele,
miseravelmente, tem que tomar aulas para poder balbuciar  "iéis",
"nou"  e  "mai  neime  is  Eduardo"!  Incomoda como são usadas as
palavras "ainda" e  "aulinhas",  para  refletir  idéias de atraso
intelectual e  coisa  sem  valor,  respectivamente.   Coitado  do
Eduardo, é um jumento mesmo...

Na seqüência, ficamos a par das opções culturais  dos  dois  (Ela
gostava  do Bandeira e do Bauhaus, De Van Gogh e dos Mutantes, De
Caetano e de Rimbaud).   Temos  nesta  lista um desfile de ícones
dos P.I.M.B.As, muito usados por quem acha  que  pertence  a  uma
falsa  elite  cultural.   Por  exemplo,  é  tamanha  uma pretensa
intimidade com o poeta  Manuel  de Souza Carneiro Bandeira Filho,
que usou-se a expressão "do Bandeira".  Francamente, "Bandeira" é
aquele juiz que fica apitando impedimento na lateral do campo.  O
sujeito mais normal dessa moçada aí, cortou a orelha por causa de
uma sirigaita qualquer.  Já viu o nível, né?  Só  porra-louca  de
primeira.   Tem um outro peroba aí que tem coragem de rimar "Êta"
com "Tiêta" e neguinho ainda diz que ele é gênio!

Mais  uma vez insinua-se que Eduardo seja um imbecil acéfalo (E o
Eduardo gostava de novela) e  crianção (E jogava futebol de botão
com seu avô).  A bem da  verdade,  Eduardo  é  um  exemplo.   Que
adolescente  de hoje costuma dar atenção a um idoso?  Ele poderia
estar jogando videogame  com  garotos  de  sua  idade ou tentando
espiar a empregada tomar banho pelo buraco da fechadura, mas não.
Preferia a companhia do avô em um prosaico jogo de botões!  É  de
tocar o coração.  E como esse gesto magnânimo foi usado na letra?
Foi  só  para  passar  a  imagem  de  Eduardo  como  um  paspalho
energúmeno.   É  óbvio,  para  o autor, o homem não sabe de nada.
Mulher sim, é maturidade pura.

Continuando,  temos  (Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia  e  meditação.).   Falava  merda,  isso sim!  Nesses
assuntos esotéricos é onde se escondem os  maiores  picaretas  do
mundo.   Qualquer  chimpanzé  lobotomizado  pode grunhir qualquer
absurdo que ninguém vai contestar.   Por que?  Porque não se pode
provar absolutamente nada..  Vale tudo!  É  o  samba  do  crioulo
doido.   E  quem  foi cair nessa conversa mole jogada por Monica?
Eduardo é claro, o  bem  intencionado  de plantão.  E ainda temos
mais um achincalhe ao garoto (E o Eduardo ainda estava no esquema
"escola - cinema - clube -  televisão".).   O  que  o  Sr.  Russo
queria?   Que  o  esquema  fosse  "bar  da  esquina - terreiro de
macumba - sauna gay - delegacia"?  E qual é o problema de se ir a
escola, caralho?!?

Em  seguida,  já  se  nota que Eduardo está dominado pela cultura
imposta por Monica (Eduardo e Monica fizeram natação, fotografia,
teatro, artesanato e foram viajar.).  Por ordem:

    1) Teatro e artesanato não costumam pagar muito imposto.
    2) Teatro e artesanato não são lá as  coisas  mais  úteis  do
       mundo.
    3) Quer saber?  Teatro e artesanato é coisa de viado!!!

Agora  temos  os  versos  mais cretinos de toda a letra (A Monica
explicava pro Eduardo Coisas sobre  o  céu,  a  terra, a água e o
ar.).  Mais uma vez, aquela lengalenga esotérica que não  leva  a
lugar algum.  Vejamos:

    - Monica trabalha na previsão do tempo?  Não.
    - Monica é geóloga? Não.
    - Monica é professora de química?  Não.
    - Monica é alguma aviadora? Também não.

Então que diabos  uma  motoqueira  transviada  pode ensinar sobre
céu, terra, água e ar que uma  muriçoca  não  saiba?   Novamente,
Eduardo  é  retratado  como  um debilóide pueril capaz de comprar
alegremente a  Torre  Eiffel  após  ser  convencido  deste grande
negócio pelo caô mais furado do mundo.  Santa inocência...

Ainda  em, (Ele aprendeu a beber,), não precisa ser muito esperto
pra sacar com quem... é claro, com Monica, a campeã do alambique!
Eduardo poderia ter  aprendido  coisas  mais  úteis como o código
morse ou as capitais da Europa, mas não.  Acharam melhor  ensinar
para  o  rapaz  como  encher a cara de pinga.  Muito bem, Monica!
Grande contribuição!

Depois, temos (deixou o cabelo crescer).  Pobre Eduardo.   Àquela
altura, estava crente que deixar crescer o cabelo o diferenciaria
dos  outros na sociedade.  Isso sim é que é ativismo pessoal.  Já
dá pra ver aí o estrago  causado  por Monica na cabeça do iludido
Eduardo.

Sempre à frente em tudo, Monica se forma quando Eduardo, o eterno
micróbio, consegue entrar  na  universidade  (E  ela se formou no
mesmo mês em que ele passou no  vestibular.).   Por  esse  ritmo,
quando  Eduardo conseguir o diploma, Monica deverá estar ganhando
o seu oitavo prêmio Nobel.

Outra  prova da parcialidade do autor está em ("porque o filhinho
do Eduardo tá de  recuperação".).   É  interessante notar que é o
filho do Eduardo e não de Monica, que ficou de segunda época.  Em
suma, puxou ao pai e é burro que nem uma porta.

O que realmente impressiona nesta letra é a presença constante de
um sexismo estereotipado.  O homem  é  retratado  como  sendo  um
simplório  alienado  que  só  é  salvo  de  uma  vida  medíocre e
previsível graças a uma mulher naturalmente evoluída e oriunda de
uma cultura alternativa redentora.   Nesta  visão está incutida a
idéia absurda que o feminino é superior e o masculino,  inferior.
Bem típico de algum recalque homossexual do autor, talvez magoado
com a natureza masculina.  É sabido que em todas culturas e povos
existentes,  o  homem  sempre  oprimiu a mulher.  Porém, isso não
significa, em hipótese alguma,  que  estas  sejam melhores que os
homens.  São apenas diferentes.  Se desde o começo dos  tempos  o
sexo  feminino  fosse  o  dominador e o masculino o subjugado, os
mesmos erros teriam sido cometidos de uma maneira ou de outra.

Por que?  Ora, porque tanto homens, mulheres e colunistas sociais
fazem parte da famigerada raça humana.  E é aí que sempre morou o
perigo.  Não importa que seja Eduardo, Monica ou até...  Renato!

* Adolar Gangorra tem 71  anos, é editor do periódico humorístico
"Os Reis da Gambiarra" e  não  perde  um  show  sequer  dos  "The
Fevers".





---------------------------------------------------------------------
Você tem email?? Que tal mudar gratuitamente para [EMAIL PROTECTED]?
Visite http://www.email.com.br e faça seu pedido. Esse email é seu!
---------------------------------------------------------------------

Responder a