A BRINCADEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: CONCEITO, PERSPECTIVA HISTÓRICA E 
POSSIBILIDADES QUE ELA OFERECE
  Heloisa Stoppa Menezes Robles 
  Há muito tempo discute-se a questão dos jogos e brincadeiras e sua 
importância no desenvolvimento da criança. Atualmente, vários pesquisadores 
mostram preocupação em compreender este fenômeno buscando, principalmente, 
responder questões como: a função que estas atividades exercem sobre o 
desenvolvimento infantil; motivos pelos quais a criança deve brincar; o que a 
brincadeira proporciona à criança no que diz respeito à aprendizagem etc. A fim 
de discutir estas e outras questões relacionadas ao tema “brincadeira” e 
considerando que o brincar tem uma importância característica para a criança, o 
presente artigo pretende apresentar uma definição de brincadeira, relatar um 
breve histórico da brincadeira e sua relevância na educação e, por fim, 
analisar as possíveis contribuições que a brincadeira proporciona ao 
desenvolvimento infantil devendo ser valorizada e privilegiada no contexto 
educacional.
  A criança joga e brinca dentro da mais perfeita seriedade, que a justo título 
podemos considerar sagrada. Mas sabe perfeitamente que o que está fazendo é um 
jogo.
J. Huizinga 
  Há muito tempo discute-se a questão dos jogos e brincadeiras e sua 
importância no desenvolvimento da criança. Mas será que está clara a função que 
estas atividades exercem sobre o desenvolvimento infantil? Por que a criança 
deve brincar? O que a brincadeira lhe proporciona? A fim de discutir estas 
questões o presente artigo terá como principais objetivos apresentar uma 
definição de brincadeira, relatar um breve histórico da brincadeira e sua 
relevância na educação e, por fim, analisar as possíveis contribuições que a 
brincadeira proporciona ao desenvolvimento infantil devendo ser valorizada no 
contexto educacional.
O que é brincadeira? Definir a brincadeira não é tarefa fácil. De acordo com 
Kishimoto (1997), uma criança atirando com um arco e flecha pode ser uma 
brincadeira ou pode ser uma criança que está se preparando para a arte da caça 
(como pode ocorrer num contexto indígena). Como diferenciar?  
Vários autores têm caracterizado a brincadeira como a atividade ou ação própria 
da criança, voluntária, espontânea, delimitada no tempo e no espaço, prazerosa, 
constituída por reforçadores positivos intrínsecos, com um fim em si mesma e 
tendo uma relação íntima com a criança (Bomtempo, 1987; Brougère, 1997; De Rose 
e Gil, 1998; Kishimoto, 1997; Piaget, 1978; Santos, 1998; Wajskop, 1995). A 
partir destas informações, é importante ressaltar que o brincar faz parte da 
infância, porém, em várias ocasiões, os adultos (pais ou professores) propõem 
determinadas atividades para as crianças que parecem não cumprir os critérios 
acima discutidos, mas que são chamadas de “brincadeiras” pelos próprios 
adultos.  Atenção! Se a atividade é imposta ou se parece desagradável para a 
criança, tudo indica que não se trata de uma brincadeira, mas de qualquer outra 
atividade. Retomando o que foi discutido no início do artigo, uma mesma 
atividade pode ser considerada uma brincadeira para uma
 criança mas não para outra, o que torna o trabalho do educador ainda mais 
complexo.
São várias as dificuldades que existem com relação à definição e caracterização 
da brincadeira, entretanto, é certo que a brincadeira assume um papel 
fundamental na infância; numa concepção sociocultural, a brincadeira mostra 
como a criança interpreta e assimila o mundo, os objetos, a cultura, as 
relações e os afetos das pessoas, sendo um espaço característico da infância 
(Wajskop, 1995). 
Mas desde quando a brincadeira foi alvo de discussão? Partindo-se de uma 
perspectiva histórica, desde a Antiguidade as crianças participavam de diversas 
brincadeiras como forma de diversão e recreação (Wajskop, 1995). Jogos de 
demolir e construir, rolar aros, cirandas, pular obstáculos são exemplos de 
brincadeiras existentes desde a Antiguidade (Fundação Roberto Marinho, 1992). 
Por outro lado, vale a pena ressaltar que apenas na era do Romantismo que a 
brincadeira passou a ser vista como expressão da criança e a infância a ser 
compreendida como um período de desenvolvimento específico e com 
características próprias. Neste período as principais brincadeiras eram: piões, 
cavalinhos de pau, bola etc. (Kishimoto, 1990).
A partir deste período, vários pesquisadores surgiram desenvolvendo propostas 
pedagógicas com a utilização de brinquedos e jogos, como por exemplo: Froebel 
(educação baseada no brincar), Decroly (que elaborou materiais para educação de 
crianças deficientes com a finalidade de desenvolver a percepção, motricidade e 
raciocínio) e Montessori (que desenvolveu uma metodologia de forma a 
implementar a educação sensorial (Kishimoto, 1990). 
Já no século XX, outros pesquisadores começaram a discutir a questão das 
brincadeiras, entre eles, Piaget (1978), afirmando que a partir da brincadeira 
a criança pode demonstrar o nível cognitivo que se encontra além de permitir a 
construção de conhecimentos e Vygotsky, que compreendeu a brincadeira (como 
qualquer outro comportamento humano) como resultado de influências sociais que 
a criança recebe ao longo do tempo. Vale a pena ressaltar que o brinquedo cria 
na criança uma zona de desenvolvimento proximal e através dele que a criança 
obtém as suas maiores aquisições (Vygotski, 1984)
As diferentes abordagens pedagógicas baseadas no brincar bem como os estudos de 
psicologia infantil direcionados ao lúdico, permitiram a constituição da 
criança como um ser brincante (Wajskop, 1995) e a brincadeira deveria ser 
utilizada como uma atividade essencial e significativa para a educação 
infantil. 
Sem dúvida, foi necessário um longo período até se chegar nestas conclusões e a 
brincadeira ser levada como algo “sério”. Hoje, esta importância e seriedade em 
relação ao tema podem ser expressas através do advento das brinquedotecas, dos 
congressos cujo tema central é a brincadeira infantil, do crescente número de 
artigos e trabalhos científicos com base no estudo das brincadeiras etc. Na 
educação, não podemos deixar de nos referir ao Referencial Curricular Nacional 
para a Educação Infantil (1998) que ressalta a importância da brincadeira 
quando afirma que educar significa “propiciar situações de cuidados, 
brincadeiras e aprendizagens orientadas” (p.23).
Mas como a brincadeira permite o desenvolvimento e a aprendizagem? Vamos neste 
momento discutir as inúmeras possibilidades que o brincar proporciona à criança 
a partir de diferentes referenciais teóricos permitindo ao educador um maior 
embasamento a respeito do tema.
Pense no desenvolvimento social. Como criar oportunidades lúdicas para a 
criança incrementar o seu repertório social bem como desenvolver relações 
inter-pessoais? Quando a criança brinca de faz de conta, por exemplo, ela deve 
supor o que o outro pensa, tentar coordenar seu comportamento com o de seu 
parceiro, procurar regular seu comportamento de acordo com regras sociais e 
culturais. Além disso, para Vygotsky (1984), a criança, ao brincar de faz de 
conta, cria uma situação imaginária podendo assumir diferentes papéis, como o 
papel de um adulto. A criança passa a se comportar como se ela fosse realmente 
mais velha, seguindo as regras que esta situação propõe. Nesse sentido, a 
brincadeira pode ser considerada um recurso utilizado pela criança, podendo 
favorecer tanto os processos que estão em formação ou que serão completados.
Outros autores que estudam a ampliação das interações sociais a partir da 
brincadeira afirmam que a criança, enquanto brinca, se constitui como indivíduo 
diferente dos demais, entra em contato com diferentes papéis sociais e evolui 
quanto à diferenciação eu - outro (Almeida, 1995; Carvalho, 1981; Carvalho, 
1989; Oliveira e Rossetti-Ferreira; 1993; Pedrosa e Carvalho, 1995).
Certamente não é apenas o desenvolvimento social que é enriquecido durante uma 
brincadeira. Podemos pensar na criança envolvida numa atividade que exige um 
certo raciocínio necessitando levantar hipóteses e solucionar problemas; ou 
ainda numa brincadeira qualquer na qual ela tenha possibilidade de construir 
conhecimentos e enriquecer o desenvolvimento intelectual (Piaget, 1978).
Por fim, não podemos deixar de mencionar as situações que a criança revive 
enquanto ela brinca; por exemplo: situações que lhe causaram alegria, 
ansiedade, medo e raiva podem ser revividas em forma de brincadeira o que 
favorece uma maior compreensão de seus conflitos e emoções. 
Diante destas informações, a brincadeira pode e deve ser privilegiada no 
contexto educacional (não apenas na Educação Infantil mas no Ensino Fundamental 
também). A escola, atenta aos inúmeros benefícios que a brincadeira traz, bem 
como nas possibilidades que elas criam de se trabalhar diferentes conteúdos em 
forma lúdica, deve “lutar” sempre pra que tais atividades sejam privilegiadas e 
bem aceitas pelas crianças e pelos adultos responsáveis.
Vale lembrar que não são necessários espaços muito estruturados ou objetos 
complexos para que ocorra uma brincadeira. Espaços simples, com objetos fáceis 
de serem encontrados e manipulados podem se transformar em grandes aliados do 
educador. 
Pense um instante: o que as brincadeiras como esconde-esconde, pega-pega, 
passa-anel, bingo, boliche, morto - vivo; queimada, pular corda, corre cutia 
favorecem? Várias habilidades e conhecimentos, não é mesmo? Todas elas 
propiciam cooperação, estabelecimento e cumprimento de regras, aprendizagem de 
se colocar no lugar do outro etc. 
Poderíamos citar várias, desde aquelas que podem ser realizadas com bebês até 
aquelas que exigem certo nível de conhecimento. Alguns exemplos incluem: 
brincadeiras com móbiles e fantoches (para a criança explorar), bonecas e 
carrinhos (para a criança dramatizar), blocos de construção (favorecendo a 
descoberta de conceitos como tamanho, forma, quantidade, relações espaciais, 
seriação, noção de espaço e causalidade, além da imaginação e criatividade), 
quebra-cabeça (para estimular o raciocínio, a concentração e o desenvolvimento 
psicomotor além da cooperação e socialização); brincadeiras na água e na areia 
(que permitem a exploração, o exercício motor e a socialização); brincadeiras 
tradicionais (como amarelinha, pião, pipa, as quais possibilitam a compreensão 
de elementos folclóricos e remete a criança a determinados períodos históricos) 
e, por fim, as brincadeiras de faz de conta, que, como já discutidas 
anteriormente, favorecem a imaginação, imitação, possibilitam o
 desenvolvimento social, afetivo e os processos de raciocínio (Bomtempo, 1987; 
Kishimoto, 1997; Fundação Roberto Marinho, 1992; Oliveira et al, 1992; 
Oliveira, 200)
Estas idéias servem para ilustrar alguns exemplos de brincadeiras que podem ser 
utilizadas na escola e o que elas proporcionam em termos de aprendizagem e 
desenvolvimento mostrando a importância de cada uma delas. Sugere-se que, a 
partir desta leitura, cada educador desenvolva e crie atividades adequadas aos 
seus alunos potencializando o desenvolvimento de cada um deles. De acordo com 
Brougère (1997), o brincar exige uma aprendizagem; sendo assim o professor terá 
este papel fundamental de inserir a criança na brincadeira, criando espaços, 
oportunidades e interagindo com ela.
  REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BOMTEMPO, E. Aprendizagem e brinquedo. In: G.P.Witter e J.F.B. Lomônaco (orgs). 
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MEC/SEF, 1998
BROUGÉRE, G. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez Editora, 1997.
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SANTOS, S.M.P. Brinquedoteca. O lúdico em diferentes contextos. Petrópolis: 
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VYGOTSKI, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984
WAJSKOP, G. O Brincar na Educação Infantil. Cadernos de Pesquisa, 92, 62-69, 
1995
  Publicado em 16/05/2007 14:52:00
    
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  Heloisa Stoppa Menezes Robles - Graduação em psicologia e mestrado em 
Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Professora 
no Centro Universitário Central Paulista (UNICEP- São Carlos) e Centro de 
Formação Profissional (CEFORP – Ribeirão Preto) e atua como psicóloga em 
consultório particular no atendimento de crianças e adultos. 
  Fonte: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=943
   
  Abraços.
  Eliana

       
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