O BRINCAR E O JOGAR DA CRIANÇA AO ADULTO - UMA VISÃO PSICOPEDAGÓGICA
  Marina S. Rodrigues Almeida 
  “O HOMEM BRINCA E ELE SOMENTE É UM HOMEM NO SENTIDO TOTAL DO MUNDO, QUANDO 
BRINCA”. (Schiller)
  INTRODUÇÃO
Foi pensando em minha experiência clínica e institucional, como psicóloga, 
pedagoga, e posteriormente psicopedagoga, que despertou-me o desejo de 
investigar mais de perto as relações do “Brincar Infantil”.
Observamos nos últimos anos, que nunca se deu tanto destaque ao brinquedo, como 
se vem dando ultimamente. As indústrias investem nesta área, desenvolvem toda 
sorte de brinquedos eletrônicos, jogos, fazem comerciais, propagandas, brindes 
em supermercado, até as lojinhas de um e noventa e nove atacaram também, (com 
brinquedos muitas vezes sem qualidade , sem fiscalização e controle do IMETRO. 
Evidentemente  tudo isto tem um fim: o consumo perverso. Descobriram uma fatia 
do mercado, as crianças e os jovens, que são consumidores em  potencial, 
manipulados, seduzidos, ingênuos. Porém, constatamos que há  o lado bom deste 
estímulo, mas não encontramos nossas crianças brincando com espontaneidade e 
espírito criador. Logo o brinquedo é descartado e querem outro, ou brincam um 
pouquinho e depois vão mexer no que não deve. Por  que será?
Notamos vários teóricos pesquisando e escrevendo a respeito, como o brinquedo 
sendo um instrumento enriquecedor , possibilitando a aprendizagem de várias 
habilidades.
No dia-a-dia, é comum ouvirmos comentários sobre o brincar, num tom queixoso e 
esvaziado de significado: os pais comentam “Hoje meu filho não foi para a 
escolinha, também não perdeu nada, só vai para brincar!”;  ou os  professores 
falam “Aquela menina não tem feito nada, só pensa em brincar!”. Portanto, o 
brincar parece estar associado à uma ação irrelevante, ou pelo menos nada que 
tenha alguma importância para a vida humana.
Os pais valorizam mais as atividades como: “Meu filho faz, natação, inglês, 
ginástica, faz conservatório musical, teatro, computação, etc....”. Estas 
atividades são importantes e necessárias, mas está sobrando pouco tempo para a 
espontaneidade, para o brincar em conjunto, para a fantasia.
A Psicopedagogia tem se constituído no espaço privilegiado para pensar as 
questões relativas à aprendizagem. Sendo assim, está intimamente ligada ao ato 
de brincar, como fonte de conhecimento.
Podemos dizer que,  a capacidade de brincar faz parte de um processo de 
desenvolvimento, sendo imprescindível para a sobrevivência psíquica e para o 
avanço social do homem. Notamos isto na própria história antropológica humana.
Sabemos pela maneira que uma criança, adolescente, adulto, brinca como algo 
revelador de suas estruturas mentais, pensamentos, sentimentos, interações, ou 
seja seus níveis de maturidade cognitiva, afetiva – emocional e social.
Faço então uma pergunta: “O que acontece com o brincar; pois ora é tão valioso 
ora é tão desvalorizado?”
   
   
  O BRINCAR E O JOGAR DA CRIANÇA AO ADULTO
Vejamos a origem das palavras:
  ? Jogar: do latim “jocare”: entregar-se ao; ou tomar parte no jogo de; 
executar as diversas combinações de um jogo; aventurar-se ou arriscar-se ao 
jogo; perder no jogo; dizer ou fazer brincadeira; harmonizar-se.
  ? Brincar: “de brinco+ar”; divertir-se infantilmente; entreter-se em jogos de 
criança; recrear-se; distrair-se;saltar; pular; dançar, (...) (Dicionário da 
Língua Portuguesa – Aurélio, 1986, pp. 286-98)
  Percebemos que há uma dificuldade em definir os termos “jogar” e “brincar”, 
pois ambos tem uma fronteira comum, indicando um grau de subjetividade, em que 
estas atividades estão implícitas.
Segundo, BOMTEMPO (1987 p.13) “a atividade do brincar, geralmente é vista como 
uma situação livre de conflitos e tensões, havendo sempre um elemento de 
prazer. Também é uma atividade com um fim em si mesma, pois não há resultado 
biológico imediato que altere a existência do indivíduo.”
O brincar da criança não é equivalente ao jogo para o adulto, pois não é uma 
simples recreação, o adulto que brinca/joga afasta-se da realidade, enquanto a 
criança  ao brincar/jogar avança para novas etapas de domínio do mundo que a 
cerca.
Precisamos saber que o  brincar da criança é uma forma infantil da capacidade 
humana de experimentar, criar situações, modelos e como dominar a realidade, 
experimentando e prevendo os acontecimentos.
Quando induzimos a criança a brincar com jogos educativos, chega um momento em 
que ela interrompe dizendo: -“Bem agora, vamos brincar, tá?”. Portanto a 
criança não estava brincando no verdadeiro sentido do verbo, quando percebe o 
objetivo e intenção pedagógica que a cansou, interrompe, pois o brincar é 
destituído de qualquer objetivo externo e determinado, brincar requer 
espontaniedade, criatividade, liberdade com limites.
A brincadeira a partir dos 2 aos 4 anos, desenvolve-se com base nas 
organizações mentais, ou seja a simbolização. Diferencia o “eu” do outro, 
fantasia de realidade.
No início apresenta características de “pensamento mágico pré conceitual”, ou 
seja a a criança dá vida aos objetos, atribui sensações e emoções, conversa com 
eles. É também uma brincadeira solitária, na qual vive diferentes papéis. Pouco 
a pouco, ensaia um simbolismo coletivo, exigindo dela esforço e 
descentralização para acrescentar o outro e poder continuar brincando.
A partir dos 4 anos, a brincadeira vai adquirindo um aspecto mais social 
surgindo as brincadeiras com regras, onde o combinado deve ser respeitado.
Na compreensão da brincadeira simbólica a criança revela situações carregadas 
de emoções e afetos, as organizações lógicas : classificações, seriações, 
quantidades, cores, cenário onde aparece seus medos, dificuldades, tensões, 
inversão de papéis, etc...
HUIZINGA (1980), filósofo da história em 1938, escreveu seu livro “HOMO LUDENS” 
no qual argumenta que o jogo é uma categoria absolutamente primária da vida, 
tão essencial quando o raciocínio (HOMO SAPIENS) e a fabricação de objetos 
(HOMO FABER), então a denominação HOMO LUDENS, é cujo elemento lúdico está na 
base do surgimento e desenvolvimento da civilização.
O autor define jogo como: “uma atividade voluntária exercida dentro de certos e 
determinados limites de tempo e espaço, segundo regras livremente consentidas, 
mas absolutamente obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um 
sentimento de tensão e alegria e de uma consciência de ser diferente de vida 
cotidiana.”
Em seu livro Huizinga nos conta que:
? Nas sociedades antigas, não havia destinação entre jogos infantis e adultos, 
eram coletivos.
? O jogo era considerado como um vínculo entre as pessoas, grupos, classes e 
gerações, entre passado e futuro. Gradualmente este caráter foi sendo perdido 
ao longo da história, transformando-o mais individual.
? A influência educacional, religiosa e social altera os valores morais, 
considerava a criança como, um ser não maduro para convívio com adulto, sendo  
que deveria ser submetida a um “regime especial”.
? Os jogos e divertimentos coletivos foram abandonados e o ato de brincar 
desvalorizado, por não ter função aparente.
  Com o surgimento do capitalismo esta idéia teve mais força, pois não podia 
ser associado a produção e trabalho, se tornou algo inútil.
O importante no brincar não é tanto como a criança, o jovem ou o adulto brinca, 
 mas sim como ela se envolve, lidando de forma cada vez mais criativa e 
interativa com seu mundo interno e externo.
O fato de uma criança jogar xadrez, onde há presença de regras explícitas, pode 
ser considerado também  por ela como uma brincadeira, ou o fato de brincar de 
boneca  aparentemente sem regras explicitas, possa ser uma  reprodução de 
papéis sociais, pré estabelecidos por ela.
Os pais e educadores devem levar em consideração os seguintes aspectos ao 
observar a criança ou o jovem brincando:
  ? Ela tem brincado ultimamente? Quanto tempo fica nesta atividade? O que faz 
com aquela brincadeira?
? Brinca sozinha? Brinca com alguém? Brinca em grupo? 
? O que ela está expressando?
? Quais as regras?
? Como está brincando?
? Criou novas regras?
? Permaneceu em regras impostas?
? Qual sua reação?
? O que aparece neste jogo?
? Para que serve este jogo ou brincadeira?
? Como cuida dos brinquedos?
? Quais os brinquedos prefere?
  Na verdade não existem delimitações claras sobre o ato de brincar e jogar e 
sim uma fusão entre as duas atividades. Quando uma criança não brinca, não se 
desenvolve, não se aventura em algo novo, desconhecido, isto é muito 
preocupante. Se a criança brinca está revelando ter aceito o desafio do 
crescimento, de ter a possibilidade de errar, de tentar a arriscar para 
progredir e evoluir.
Enquanto pais, educadores  e profissionais afins, precisamos ser mais 
tolerantes com as atividades do cotidiano e criarmos um espaço para o lúdico, 
para nós também podermos sonhar, fantasiar, brincar.
   
   
  BRINQUEDOS COM SUCATA
Objetivos: 
-Montar uma brinquedoteca na escola ou na sala de aula com brinquedos 
confeccionado pelos alunos.
-Perceber a importância das regras nas brincadeiras
-Criar brinquedos, brincadeiras e jogos para serem usados nos recreios e  em 
classe.
  Procedimentos Didáticos: 
Antes de iniciar a confecção dos jogos , brinquedos, dos fantoches e do 
quebra-cabeça, o professor deve despertar no aluno o interesse pela preservação 
da natureza e a problemática do lixo. 
Isso pode ser mostrado através de um passeio pela cidade, pela escola, 
coletando material, separando, classificando em tambores /caixas previamente 
separados para este fim. Etiquetar e colar um desenho em cada recipiente: 
material plástico, metal, papelão.
Após esta etapa o professor divide a sala em grupos, apresenta idéias sobre o 
que é possível fazer com o lixo reciclado e solicita que cada grupo desenvolva 
uma das idéias.
Na aula seguinte cada grupo deverá trazer suas próprias idéias de materiais 
feitos a partir de lixo reciclado e expor seu trabalho para a classe.
Começando com a higienização do lixo, classificando o material que será 
utilizado pelo aluno ou grupo de alunos em seu projeto para a brinquedoteca ou 
sala de aula. 
  Quebra-Cabeça

Objetivo: Desenvolver a discriminação visual e perceptiva. 
  Material: 
Cinco ou mais caixas de creme dental do mesmo tamanho 
Quatro figuras do tamanho correspondente ao conjunto das faces das caixas 
Cola, régua ou tesoura
 
Confecção: 
Encontrar quatro gravuras do tamanho correspondente às faces das caixas que 
serão a base do quebra-cabeça. 
Medir as caixas escolhidas, passar as medidas para a gravura e cortar 
exatamente na linha marcada. 
Colocar cada tira na ordem certa ou seja de modo que forme a figura em cada uma 
das faces. 
  Obs. É preciso tomar certo cuidado com a faixa etária para a qual o brinquedo 
será oferecido, de modo a que não seja fácil demais a ponto de não oferecer 
desafio e nem tampouco difícil demais, causando desinteresse. 
  Como Jogar: 
Escolher uma das faces e montar a figura desejada 
  Bola na Caçapa
  Objetivo: 
Exercitar a coordenação motora, equilíbrio e habilidade manual. 
  Material: 
Garrafa plástica 
Meia velha 
1 colher de sopa de areia ou sal 
Durex colorido ou retalho de pano 
Tesoura 
Agulha e linha 
  Confecção: 
Garrafa – cortar as garrafas mais ou menos na proporção de 1/3 tomando cuidado 
para não deixar rebarbas. Arrematar, colocando uma tira de durex colorido ou 
retalho de pano em volta da parte recortada da garrafa. 
Bola – pegue uma meia comprida, coloque uma colher de sopa de areia ou sal no 
fundo desta meia  
Torcer e desviar o cano da perna da meia várias vezes, recobrindo a bola. 
Arrematar costurando
  Como Jogar: 
Um dos participantes arremessa a bola para o companheiro usando funil. O outro 
participante deve apanhar a bola com seu funil. O número de participantes pode 
variar de acordo com o número de funis que forem feitos. 
  Fantoches de Caixas 

Objetivos: Treinar e melhorar a linguagem oral; coordenação manual Aprender a 
se localizar e a dramatizar
   
Material: 
Caixas de gelatina ou remédios em geral 
Fita crepe 
Papéis variados 
Cola e tesoura 
  Confecção: 
Pegar duas caixas de gelatina ou remédio 
Colocar as abas da caixa somente de um lado para dentro 
Sobrepor as duas caixas e uni-las pela abertura das abas com fita crepe (da 
base interior da caixa de cima para o topo interior da caixa que está abaixo) 
Com os mais diversos tipos de papéis, a criança pode formar o bicho que ela 
escolher, como nas imagens: um cachorro ou um jacaré. 
  Como Brincar: 
Colocar o polegar na abertura da caixa de baixo e os demais dedos na caixa que 
está em cima, simulando a abertura da boca do animal criado. Inventar ou 
reescrever uma história 
  Bilboquê 

Objetivo: Exercitar a coordenação motora. 
  Material: 
2 garrafas de 1,5 litros de água mineral Minalba 
bolinhas de gude 
Durex transparente e durex colorido 
Tesoura ou estilete 
  Confecção: 
Pegue uma das garrafas e corte no intervalo do segundo gomo, contado de baixo 
para cima 
Da mesma garrafa, corte a parte superior no vão formado pelo primeiro gomo 
Pegue as duas partes cortadas e coloque a parte de cima dentro da parte de 
baixo com o gargalo para cima, como se estivesse encurtando a garrafa. Una 
estas duas partes com durex de modo que fique bem firme 
Coloque dentro desta peça aproximadamente 8 bolas de gude 
Corte a segunda garrafa no vão formado pelo quinto gomo, contado de baixo para 
cima 
Encaixe esta nova parte na outra peça, de modo que a garrafa que foi encurtada 
(primeira peça) fique fechada pela nova peça cortada, como se fosse uma tampa 
Fixe este encaixe com durex de modo que fique bem firme 
Dê um arremate final com durex colorido 
  Como Brincar: 
Como se a garrafa estivesse em pé, deixe as bolas de gude fora da base da 
garrafa. O objetivo da brincadeira é passar as bolas de gude pelo gargalo da 
garrada. 
  Vem e Vai 
Obetivo: Exercitar as habilidades motoras e visuais 
  Material: 
2 garrafas de plástico de refrigerante ou água 
Barbante 
4 tampinhas de garrafa de refrigerante 
Fita crepe, tesoura 
Vela e chave de fenda de pequeno calibre 
  Confecção: 
Cortar as duas garrafas a mais ou menos 15 cm contados do gargalo para a base 
da garrafa 
Encaixar as duas garrafas nas partes onde foram cortadas 
Fixar com fita crepe, de modo que fique bem firme 
Cortar dois pedaços de barbante com mais ou menos 1,5 metros cada 
Passar os dois pedaços de barbante pelo gargalo das duas garrafas, de modo que 
sobre duas pontas de cada lado da peça (em cada gargalo) 
Acenda a vela, esquente a chave de fenda pequena e fure as quatro tampinhas de 
refrigerante no centro 
Passe cada ponta dos barbantes por uma tampinha furada e dê vários nós na 
extremidade deste barbante, de modo que não passe pelo orifício da tampinha 
  Obs. O processo de esquentar a chave de fenda, com a vela acesa, não deve ser 
executado por crianças.
  Como Brincar: 
São necessários dois jogadores. Cada um pega em duas pontas dos barbantes pelas 
tampinhas, que deverão estar juntas. Os jogadores devem se afastar de modo que 
os barbantes fiquem esticados. Aquele que estiver com a peça de plástico mais 
perto de si deve abrir com força, separando os barbantes; este movimento acaba 
arremessando a peça plástica, que desliza pelo barbante, para o outro jogador. 
  Avaliação 
Durante a confecção dos brinquedos poderão ser trabalhados conceitos de cores, 
linhas, proporção, volume e outros que sujam a partir de questionamentos e 
hipóteses. 
As dificuldades poderão ser utilizadas na busca de novas soluções ou de novos 
brinquedos. 
  BIBLIOGRAFIA
BOMTEMPO, E. aprendizagem e brinquedo em WITTER, G.P. e Romeraco, T.F. 
“Psicologia da Aprendizagem” Ed. EPU.
ERIKSON, E.H. Infância e Sociedade” Ed. Zahar
HUIZINGA,J. “Homo Ludens – O Jogo como elemento da Cultura” Ed. Perspectiva
LEBOVICI E DIATKINE, R. “Significado e Função do Brinquedo na Criança” Ed. 
Artes Médicas
OLIVEIRA, P. S. “O que é brinquedo ?” Ed. Brasiliense
BENJAMIN, N. “Reflexões: A criança, o brinquedo e a educação” Ed. Summus
OLIVEIRA, V.B. “O símbolo e o brinquedo” 
E “Avaliação Psicopedagógica da Criança de 0 a 6 anos” Ed. Vozes
PIAGET, J. “A Formação do Símbolo na Criança” Ed. Guanabara Koogam
FERNANDES, A. “Inteligência Aprisionada” Ed. Artes Médicas
  Publicado em 24/08/2007 17:49:00
    
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  Marina S. Rodrigues Almeida - PSICÓLOGA, PSICOPEDAGOGA E PEDAGOGA. Consultora 
em Educação Inclusiva Instituto Inclusão Brasil
  Fonte: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=962
   
  Abraços.
  Eliana
   


Abraços.
Eliana

       
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