Eleição do CGI.br está em Andamento. E o que você sabe sobre isso?

Everton dos Santos Rodrigues,
Movimento de Inclusão Digital e Software Livre


O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) está em processo eleitoral.

Desde sua criação pela Portaria Interministerial Número 147, de 31 de maio de 1995, pelo Ministro de Estado das Comunicações e o Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia, esta é a segunda eleição, onde a sociedade civil poderá participar do processo eleitoral, através de suas representações jurídicas.

O primeiro mandato foi nomeado pelo Governo Federal e o segundo mandato foi o primeiro a ser através do voto, onde entidades puderam votar.

Nesse segundo mandato, as avaliações dos representantes do terceiro setor no CGi.br e sua atuação, são mais positivas que negativas.

Evidentemente que um processo novo como esse, tem que ser ajustado. Devemos trabalhar com a idéia de que não construiremos nossos processos sociais do “dia para a noite”, e que todos os processos em nossa sociedade requerem muito trabalho e debate coletivo.

Nesse sentido, é importante dizer que é positiva a própria criação do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), porque, simplesmente a rede mundial de computadores, a cada dia que passa, influencia nossa vida, seja na cultura, na economia ou na política. As relações sociais no Brasil e no Mundo estão em plena transformação, com grande velocidade, como nunca vimos antes, pela influência da internet. E nosso país se destaca mundialmente neste processo.

Toda essa transformação, provocada por uma sociedade cada vez mais em rede, exige que o debate sobre a internet seja feito de forma mais aberta, e que nós devemos partir da experiência já existente, neste e em outros setores, sem desconsiderar o acúmulo do CGI.br, mas também sem achar que o processo está pronto e acabado.

A internet foi criada de forma completamente aberta e de forma colaborativa. Isso foi determinante para o sucesso da sua criação e devemos lutar para que assim permaneça.

Nesse sentido, é interessante salientar, e nós devemos levar em consideração que o segundo ponto positivo é o fato do CGI.br ser um praticante no uso do "software" livre (SL). E é verdade que nós podemos avaliar essa condição como não sendo suficiente, pois poderia ser ainda melhor.

De fato, sempre podemos fazer mais, mas fazer algo como utilizar o SL, já é um bom começo e devemos ver isso como ponto positivo, como parte de um processo que busca sempre avançar.

A atual gestão do CGI.br criou sua personalidade jurídica NIC.BR (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br) que é uma entidade civil, sem fins lucrativos.

Também foi criado o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil (CERT.br) que é responsável por receber, analisar e responder a incidentes de segurança envolvendo redes conectadas à Internet no Brasil.

Além de ter criado o Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação - CETIC.br, que é responsável pela produção de indicadores e estatísticas sobre a disponibilidade e uso da Internet no Brasil, divulgando análises e informações periódicas sobre o desenvolvimento da rede no país.

Mas, para pensar em avançar nesse processo de gestão da internet no Brasil, quero destacar dois objetivos do CGIbr que são: “o estabelecimento de diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e ao desenvolvimento da internet no Brasil;” e “Fomentar a produção de conteúdos digitais de qualidade em língua portuguesa” .

Esses dois objetivos são amplos e, a partir deles, podemos pensar em inúmeras idéias. Mas quero me concentrar, nesse momento, na participação popular direta.

A partir desses dois (2) objetivos, é possível fazermos muitos debates e elaborar propostas concretas. Mas para que possamos elaborar proposições que possam beneficiar o conjunto da diversidade na sociedade que a internet está contemplando, nós necessariamente precisamos que esse debate seja feito de forma democrática e colaborativa, assim como, a internet foi criada. Essa idéia de construir os processos de forma colaborativa é um pressuposto do qual não podemos abrir mão.

Nesse sentido, é preciso dizer que os temas do CGI.br ainda são assuntos desconhecidos da grande maioria da sociedade, mesmo para os usuários da própria rede, e, infelizmente, para a maioria das entidades que participaram do primeiro e único processo eleitoral, já que, agora, vamos para o segundo.

Essa falta de conhecimento sobre o CGI.br pelas próprias entidades que participaram do primeiro processo e pela sociedade em geral, se dá porque não existe instrumentos de publicação e disseminação aberta das discussões que lá acontecem e muito menos ferramentas de participação das entidades que se cadastram para o processo eleitoral, e/ou, até mesmo, maneiras da sociedade em geral participar.

Diante disso é fundamental que nesse segundo mandato se construa instrumentos mais participativos, tanto da sociedade em geral, como das entidades que se dispuseram a dedicar-se a esse tema de grande relevância.

Para isso, é importante que dois instrumentos sejam criados o mais rápido possível: Um portal, onde todas os debates polêmicos ou não estejam publicados, e que esse portal seja completamente aberto à participação da sociedade. Aliado a isso, o outro instrumento é a criação de fóruns presenciais, que podem ser debates, seminários ou plenárias, onde a sociedade civil e os movimentos sociais possam encaminhar ao CGI.br suas contribuições.

Outro tema que já começa aparecer é a própria eleição do Comitê Gestor. O atual formato eleitoral permite que apenas personalidades jurídicas possam participar do processo eleitoral, e devemos verificar se essa é a melhor forma.

Será que os usuários da internet em geral não poderiam participar do processo eleitoral do CGI.br? Será que ao misturar experiências eleitorais dos conselhos em geral com a experiência do CGI.br, podemos criar um processo mais democrático?

Para cumprir o segundo objetivo que destaco, que é fomentar a produção de conteúdo, o CGI.br tem que propor projetos que democratizem o acesso à banda larga em nosso país.

Esses projetos de banda larga precisam levar em consideração os movimentos sociais e suas experiências de comunicação comunitária já existentes, como rádios comunitárias, tv's comunitárias e rádios livres.

Para facilitar esse fomento, o CGI.br tem que pensar na intersetorialidade de projetos como, por exemplo: a relação entre projetos do próprio governo com projetos dos movimentos sociais. Exemplos de projetos do governo de inclusão e cultura digital bem sucedidos, são a Casa Brasil e Pontos de Cultura. Exemplos de movimentos socias de comunicação comunitárias são as rádios comunitárias, rádios livres e as tv's comunitárias.

Diante disso, é importante que esses meios de comunicação estejam conectados através da rede mundial de computadores, com banda larga, para facilitar a produção de conteúdo.

Além disso, é preciso que o CGI.br esteja mais sensível para o fato de como a internet está impactando a economia em nosso País. Deve verificar se suas ações de desenvolvimento da internet beneficia o desenvolvimento da economia, cultura, arte, lazer e organização da sociedade com um todo ou se está privilegiando as grandes empresas.

Nesse sentido, é fundamental que o CGI.br observe se um importante conceito de desenvolvimento econômico que é a “Economia Solidária” está sendo beneficiado, assim como está ocorrendo com a economia capitalista.

É preciso que a Economia Solidária também seja incluída, de forma digna e produtiva, na rede. E essa deve ser uma preocupação nossa, como um coletivo social, e portanto, também, do CGI.br.

Para terminar, quero socializar que criei uma página "wiki" (construção colaborativa) para debater a atuação dos membros do CGI.br que representarão o terceiro setor no próximo mandato, e para isso, acesse: http://twiki.softwarelivre.org/bin/view/RedePopular/Cgibr

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