Olá, pessoal.

Estou traduzindo o texto ``Analfabetización informática'' de Beatriz Busaniche (http://docs.hipatia.info/analfa/).

O texto sustenta que o uso de software proprietário fomenta a ANalfabetização informática, mantendo as pessoas como meros usuários ``consumidores'', que apenas preenchem estruturas fixas, predeterminadas por terceiros. Os ``programas de analfabetização'' proprietários negam aos usuários de computador a capacidade de entender como software funciona, de como usar as linguagens de programação para criar e adaptar softwares, enfim, de tornarem-se independentes tecnologicamente. São programas que apenas ensinam a ser dependentes (de corporações transnacionais de TICs).

O texto me levou a várias questões, por exemplo sobre como fazer para desmascarar falsas associações dicotômicas como usabilidade=>comodismo, flexível=>difícil, proprietário==não-programação /versus/ livre==programação etc.

Essas questões me ocorreram como provocações de meu advogado-do-diabo interior (que tenta compreender o mundo não-livre). É que, freqüentemente, acontece de textos interessantes circularem apenas entre pessoas que não são as que mais precisariam ler esses textos. Vocês já refletiram sobre quantos textos importantes ficamos conhecendo através desta lista, e que não encontram a necessária ressonância fora do círculo dos interessados em software livre? Quantas pessoas teriam lido algum texto sobre software livre, achado-o ``interessante'', mas que simplesmente continuam a usar software proprietário? Qual é o ponto-chave para mudar a mentalidade limitada das pessoas que não percebem ou valorizam as vantagens (e necessidades) de usar software livre e os riscos envolvidos na propagação de software proprietário, num mundo em que tudo-tudo está se tornando informatizado (em especial, saindo do controle dos ``usuários'' e sendo controlado por corporações)?

Ironizando um pouco, parece que muitas pessoas que ultrapassaram os vinte anos de idade se consideram ``velhas demais'' para aprender um pouco de informática; aprender a programar então nem se fala! Talvez estejam por demais ocupadas em cuidar dos filhos, que já estão certamente em idade escolar...

Então pensei: não é eficiente ficar dando murro em ponta de faca, ou tentar empurrar burro empacado. Muitas pessoas consideram os computadores apenas como ferramentas com alguns usos específicos, nada mais, e para elas software livre só será atraente se cumprir essas funções específicas de maneira fácil e eficiente; só soluções pontuais interessam a essas pessoas. Quantos usuários de eMule e/ou FireFox sabem que esses são softwares livres? Qual é a diferença, para elas, entre usar esses programas ou outros proprietários, sejam sharewares ou crackeados? Mesmo sem desprezar a propaganda geral em favor do software livre, abordagem mais eficaz é investir na formação das crianças, dos filhos desses ``gagás'' de vinte e poucos anos.

Ou seja: toda escola deveria ensinar informática de verdade e a fundo a seus alunos, usando software livre.

Não estudamos sobre estrutura química de álcoois, bases, sais etc.? Não estudamos solução de funções quadráticas, funções compostas e cálculo? E também a divisão geo-política do mundo? E mecânica clássica, óptica e o escambau? Por que cargas d'água devemos, em informática, aprender praticamente nada além de arrastar o mouse e usar o par de comandos de teclado C-c, C-v?

Onde estão a lógica, os algoritmos, as linguagens de programação, a edição de wikis, a adaptação e desenvolvimento de softwares e outros assuntos importantes da informática?

Infelizmente, a solução não é fácil pois depende de infra-estrutura (escolas informatizadas e conectadas) e capacitação de professores.

Tenho dois sobrinhos, que agora estudam numa escola particular graças a uma vaquinha entre familiares. O material da escola inclui CDs multimídia que rodam no Windows com FlashPlayer... :-P e os professores costumam colocar exercícios no sítio de internet da escola -- mas só é possível baixar os exercícios através do MS Internet Explorer, nenhum outro navegador é aceito. 8-{

Finalmente, pergunto, já que não fui eu quem inventou a roda:

* Quais são as iniciativas já existentes de uso de software livre na educação (CLASSE, ...???) ?

* Qual o status corrente dos jogos livres que ensinam a programar (ou pelo menos instigam interesse por programação)?

* Quais são as campanhas atuais pelo uso de software livre e padrões abertos em escolas em geral? (Por exemplo, pensei em enviar uma carta reclamando à escola de meus sobrinhos. Isso poderia ser ampliado a campanhas em outras escolas.)

* Quais são as iniciativas de colocar estudos de informática nos currículos regulares das escolas (especialmente as públicas)? O que diz a LDB sobre aulas de informática?

* Existem leis/projetos sobre obrigatoriedade de aulas de informática (com profundidade, não apenas introdutórias)? Faríamos um lobby em favor disso?

Hudson Lacerda
Contagem/MG
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