http://fprudente.blogspot.com/2009/06/ira-usa-internet-para-silenciar.html

Fábio Prudente

Nas últimas semanas, os cidadãos iranianos têm usado diversas
tecnologias de comunicação para organizar mobilizações e protestos, e
para transmitir ao mundo informações sobre os confrontos que sucederam
a "reeleição" de Ahmadinejad. Muitos apontam essa mobilização iraniana
como um exemplo de como as modernas tecnologias de comunicação podem
ser usadas para dar maior liberdade de expressão aos indivíduos, e
para combater regimes opressores.

Há, entretanto, um outro lado nessa história. Comunicações eletrônicas
podem ser monitoradas, rastreadas e censuradas por um regime opressor
que disponha de meios para tal. Dessa forma, mobilizações eletrônicas
podem ser mais vulneráveis que os métodos de mobilização usados no
passado.

Segundo o Wall Street Journal,

    "O regime iraniano tem desenvolvido, com a ajuda de empresas
europeias [Nokia e Siemens], um dos sistemas mais sofisticados no
mundo para controle e censura da internet, que permite examinar o
conteúdo de comunicações individuais em larga escala."

Sob esse sistema, todo o tráfego digital é roteado através de um único
ponto, onde cada pacote de dados é inspecionado para monitorar cada
email, tweet, postagem em blog e, possivelmente, até ligações
telefônicas, em todo o Irã.

Além disso, o governo iraniano está usando crowdsourcing para postar
fotos e videos de ativistas, e pedindo aos cidadãos para
identificá-los.

Isso nos mostra que toda tecnologia é neutra, seu uso é que pode
trazer efeitos positivos ou negativos.

    "Se você pensar a respeito, isso não surpreende. Quem disse que
apenas os mocinhos usam a internet em seu favor?" -- Farhad Manjoo,
via Slate.

A questão vai muito além da eleição do Ahmadinejad, no Irã.

Todos nós estamos usando tecnologias de comunicação sem refletir sobre
o preço que se paga, em perda de privacidade, por exemplo.

Ao usar celulares, emails, redes sociais, cartões de crédito, não nos
damos conta de que estamos disponibilizando informações sobre nossa
localização, hábitos de consumo, redes de contatos, etc. Muitos nem
sabem que podem estar sendo rastreados enquanto andamos dentro de
shopping centers.

Por enquanto, o único incômodo que sentimos são as insistentes
ligações de telemarketing, onde a telefonista sabe tudo sobre você, e
você não faz a menor ideia de como ela obteve tais informações.

Nada disso nos preocupa, porque vivemos em paz, em uma democracia,
onde as autoridades "garantem a nossa proteção". Sentimo-nos mais
livres com o uso dessas tecnologias, e sempre achamos que a
tecnologia, em si, favorece a liberdade.

A realidade, entretanto, pode ser diferente.
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