Max G Pinto  

"Em São Paulo, uma
lei obriga os cybercafés
e lan houses a
exigirem identidade
dos internautas para dificultar crimes virtuais"

 

ISTOÉ – Criminosos não têm como
apagar seus rastros?
Peck –
Esse é um dos maiores problemas dos investigadores de polícia. Diariamente, as pessoas recebem e-mails falsos supostamente enviados por instituições como Correios, Receita Federal, Serasa. Basta clicar sobre elas para que a máquina fique automaticamente infectada. Uma dessas pragas virtuais faz com que o computador comece a disparar sozinho o vírus para a rede de e-mails cadastrados na máquina. Também podem disparar um programa conhecido como cavalo de Tróia (trojan), que grava tudo o que for digitado no teclado. Todos os equipamentos infectados passam a ser monitorados à distância por hackers, que assim obtêm o número de contas bancárias, senhas e dados pessoais. Com essas informações, eles começam a praticar crimes usando outras pessoas como laranjas.

ISTOÉ – Os peritos não detectam esse truque?
Peck –
Sim, mas o problema é que, em geral, o criminoso se infecta com o mesmo vírus para despistar a polícia. Ele diz que caiu no mesmo "conto do vigário". Temos um pedófilo em São Paulo que não pôde ser enquadrado porque também estava infectado. Evidentemente, há alguns casos que permitem se chegar ao verdadeiro criminoso. Recentemente, tivemos um caso em que um hacker criou um e-mail em nome de uma outra pessoa para guardar informações de fraudes eletrônicas, como senhas de acesso a contas bancárias. O suposto dono do e-mail não sabia disso, mas foi o primeiro a ser investigado. Juridicamente, é um caso de difícil defesa porque a lei diz que a responsabilidade recai sobre o dono do equipamento até que se prove o contrário.

ISTOÉ – Quais cuidados devem ser tomados para evitar problemas?
Peck –
Nunca revele senhas nem passe informações pessoais por telefone. Usuários de banda larga têm sido os mais negligentes. Muitas vezes deixam o equipamento ligado e qualquer um pode acessá-lo.

ISTOÉ – Como fica essa situação nas empresas?
Peck –
Elas detêm as ferramentas de trabalho, computadores, redes, e-mails, telefones, e sabem que responderão se algum funcionário cometer alguma irregularidade. Por isso, a maior parte delas começou a definir regras para o uso da internet. Recentemente, dois alunos da Universidade de São Paulo perderam suas teses acusados de plágio. Eles tinham retirado o conteúdo de sites que proibiam o uso das informações.

ISTOÉ – O que acontece se um funcionário, por engano, enviar um e-mail
para alguém que não devia?
Peck –
A culpa não é da máquina. A responsabilidade civil é de quem enviou.
E se isso causar algum dano à empresa, certamente o remetente será incriminado. Alivia se enviar outro e-mail alertando o destinatário a não ler o conteúdo da mensagem anterior. Não adianta simplesmente deletá-la e fingir que nada aconteceu. As máquinas hoje são testemunha de nossa conduta de uma
maneira como nunca vimos antes.

ISTOÉ – Não podemos mais ter direito ao arrependimento?
Peck –
Os internautas estão sendo mais ingênuos que maldosos. Precisamos ensinar que fazer parte de uma comunidade racista ou de apologia a drogas, por exemplo, pode trazer sérias conseqüências.

Max G Pinto
"Os políticos podem ser responsabilizados se alguém difamar seus adversários na internet como se fosse do partido"

ISTOÉ – Isso não é um golpe na liberdade de expressão?
Peck –
A Constituição garante a liberdade de expressão,
mas ela só vale se for vedado o anonimato. Ou seja:
as pessoas podem dizer o que pensam, mas precisam assumir o que dizem. Se alguém gera um dano social
a partir de suas idéias veiculadas em jornais, rádios,
televisão ou na internet, responderá por seus atos. Essa turma diz o que bem entende e comete barbaridades em comunidades do Orkut. Em São Paulo, há uma lei que obriga os cybercafés e as lan houses a exigirem identidade dos internautas. Menores de idade devem ainda dar o nome dos pais e da escola onde estudam.

ISTOÉ – A campanha eleitoral começou e já existem comunidades virtuais difamando candidatos em nome
de seus concorrentes. A Justiça tem condições de monitorar esses crimes?
Peck –
Não cabe aos tribunais monitorar a internet, mas sim aos comitês partidários. A lei eleitoral prevê que os candidatos podem ser responsabilizados caso algum internauta publique conteúdo difamatório falando em nome desse candidato. Mas eles estão atentos. Recebi pedidos de orientação de diversos partidos e, isoladamente, de um presidenciável e de um candidato a governador.

ISTOÉ – Os candidatos que enviam santinhos eletrônicos ferem a lei?
Peck –
Poderiam ser enquadrados como spammers, mas existe lei que garante
o direito à livre iniciativa. Na prática, quer dizer que todo mundo tem o direito a fazer um primeiro contato com alguém, e isso inclui enviar um e-mail. Acontece que os candidatos costumam colocar um robô que sempre reenvia a mensagem como
se fosse a primeira vez. Pela lei genérica, eles não poderiam ser punidos. E,
como não existe uma lei específica prevendo esse recurso tecnológico, esse
tipo de prática fica recorrente.

 

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