Bom dia pessoal,

A Internet tem provocado várias quebras de paradigmas, especialmente
no campo da produção de conhecimento. Para alguns, a Rede foi uma
grande solução e para outros é um grande problema. Para adaptar às
mudanças, faz-se necessário mudarmos nossa maneira de pensar para
acharmos novas soluções para os novos problemas. Mal saímos da
Sociedade da Informação/Conhecimento e agora estamos entrando na
Sociedade da Reinvenção/Inovação. Nesta(s) nova(s) sociedade(s) a
produção de conhecimento é realizada principalmente no mundo virtual,
onde o "produto é conhecimento", este é intangível e difere bastante
da tradicional produção de produtos tangíveis do mundo físico.

Hoje em dia cada vez mais temos mais e mais informações, e cada vez é
mais fácil acessá-las, basta ter um navegador e um bom acesso a
Internet para sermos bombardeamos com informação. Alguns até afirmam
que com tanta informação disponível, não é necessário professores,
consultores, médicos e advogados, escritores e artistas. Ora, não é
bem assim. Precisamos cada vez mais de pessoas para processar
informação em conhecimento e é por isso que existem cada vez mais
"trabalhadores do conhecimento" e estes são cada vez mais bem
valorizados. Tais trabalhadores, são como guias, fornecem "caminhos",
dando orientação e sentido para informações que levam ao conhecimento.
Enfim, a Internet é uma excelente meio para acessar e produzir
informação, mas não dispensa o trabalho de pessoas que transformam
informação em conhecimento.

Considero informação como sendo software, música, vídeo, áudio,
material didático, etc. Informação é conhecimento em potencial,
conhecimento é informação "significada", em "movimento nos cerébros de
pessoas". Um se alimenta do outro, pois o que hoje é conhecimento,
passa a ser informação quando alguém o transfere de sua mente para uma
mídia física ou eletrônica; e se transforma em novamente em
conhecimento quando alguém o comprende. Muitas vezes confundimos os
dois e  diferenciá-los ajuda a entender as relações entre o virtual e
o físico.

O conhecimento é um subproduto mais refinado da informação, e quem o
refina são pessoas. Por exemplo, não adianta adquirir uma grande
biblioteca, se não há pessoas que processem a informação disponível
nelas. De forma parecida, também existe outro bem intangível que é
mais refinado e tem maior valor que conhecimento: a inovação. Explico:
não adianta ter um profissional que tem muito conhecimento, se ele não
sabe processar o conhecimento, e gerar novos conhecimentos
"criativos", ou seja, inovar. Enquanto informação é conhecimento em
potencial, conhecimento é inovação em potencial. No mundo onde o
produto mais refinado tem mais valor, inovação é a moeda de maior
valor, haja visto várias empresas inovadoras que crescem em valor
rapidamente, vide Google e Apple.

Outra mudança de paradigma é que informação e conhecimento são
indissociáveis e dependentes um do outro, uma vez que um se alimenta
do outro. Informação tem mais valor quanto mais conhecimento ela gera.
Não adianta ter um CD de música se ele não é ouvido pelas pessoas. Não
adianta ter um excelente software se ele não está sendo utilizado por
usuários. Não adianta ter um livro se ele não é lido e reinterpretado
por vários  leitores. Daí justifica-se a pirataria como uma boa
estratégia para difundir conhecimento; quanto mais é difundido, mais o
conhecimento ganha valor.

Mas enfim, como editoras, gravadoras, universidades, redes de tv, etc
poderão continuar ganhando? Eles terão que se adaptar aos novos
modelos, agregando valor nas redes de produção de
informação/conhecimento. Provavelmente devem estar atualmente
pressionando governos por proteção econômica, como impostos sobre
mídias físicas, que é terreno onde eles dominam. Devem se colocar
também como os principais defensores dos autores, dizendo assim: "Ei,
o virtual é uma ameaça aos autores, como vamos remunerá-los?". Pelo
contrário, em vez de ameça, acho que o virtual é a libertação dos
autores, a desintermediação, a aproximação do autor/usuário, um novo
campo fecundo de produção de informação/conhecimento/inovação.

E como o autor pode continuar ganhando? O autor precisa inovar, vender
conhecimento e não informação somente. Neste novo mundo, todo
conhecimento que é mais dinamicamente atualizado ganha mais valor. A
informação é como jornal velho, perde valor muito rapidamente. O autor
deverá ser constantemente ser pago pela refino constante de
conhecimento ou inovação. Como assim? Vamos ver alguns exemplos:
1) Um escritor pode ser pago para dar palestras gerando conhecimento;
ou ser pago por uma editora para atualizar um livro, corrigindo
inconsistências, agregando informações novas;
2) Um cantor pode ser pago para dar shows, gerando significados
(sentido) nas pessoas; ou reinventar uma música, reinterpretando ou
remixando;
3) Um desenvolvedor de software pode vender conhecimento dando
treinamento ou consultoria para implantação; ou reinventar um software
customizando ou agregando novas funcionalidades;

E como governos podem atuar nesse novo paradigma? O governo pode
estimular o desenvolvimento da cadeia de produção/uso, desde o autor,
até o comércio e o uso de "produtos" e "serviços" baseados em
conhecimento livre. Os estímulos poderiam ser baseados no fomento,
isenção de impostos. Enfim, defender uma política que valorize a
reinvenção/inovação.

Mas mudar de uma cultura onde todos acham que tudo é feito do "zero",
não é fácil, depende de uma nova educação. Como professor de
programação, atualmente estou estimulando alunos a copiarem-e-colarem
códigos e melhorarem. Eles são avaliados pelo refino das informações.
Inovação também não significa criar algo do zero, mas reinventar algo
que que provoque novos significados nas pessoas, algo que seja
recontextualizado, reatualizado no tempo e no espaço, religado,
reintegrado com outras informações.

O autor deverá ser pago principalmente pela sua reinvenção, através de
um processo de inovação pessoal, uma reinterpretação pessoal do
conhecimento compreendido. E com conhecimentos livres, as
oportunidades de reinvenção são muito maiores, pois os esforços em
geral são menores, pois podemos reusar e não "criar" do "zero".

Não acredito na simples criação, mas sim em reinvenções. No mundo
virtual, nada se cria, nada se transporta, tudo se reinventa,  tudo se
acessa. No virtual, quanto mais o "produto informação" é usado, mais
ele ganha valor e mais se replica.  No mundo físico, o "produto" é
consumido, perde valor quando é usado e sua replicação gera muito
custo. Para que o "produto virtual" ganhe valor, o autor precisa de
conquistar mais e mais usuários.

Desculpem o e-mail longo e sem formato, não é nada científico, é
pessoal. Tem muitos autores que baseei minhas idéias que não citei
aqui. O que escrevi também reflete minha observação pessoal sobre as
várias excelentes postagens que li aqui nesta linha de discussão.
Assim como o Glauber, acho que viajei no último final de semana para
Amsterdan ;-)

Abraços,
-- 
Marcelo Akira Inuzuka
http://akira.sistemasabertos.com.br
(62) 32851100-novo, (62) 84045272
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