Crítica/samba

Disco reúne 7 mestres do samba
DA SUCURSAL DO RIO
O lançamento comercial do CD "Aquarela do Samba" começa a tirar da gaveta um projeto precioso, iniciado há três anos. Foi em 2003 que, para gravar um disco-brinde para uma empresa, reuniram-se sete grandes nomes do samba. Além de cantar, eles registraram depoimentos em vídeo -ainda sem previsão de lançamento- e deram entrevistas para um livro que também está saindo agora. "O Samba É Meu Dom" (título retirado do samba de Wilson Neves e Paulo César Pinheiro) reúne perfis dos sete compositores escritos por Andréa Ribeiro Alves e fotos feitas por Silvana Marques. O que é valioso no projeto é o esforço em conectar passado e presente. No CD, cada um ficou com duas faixas: uma para gravar um samba antigo, outra para registrar um inédito. "O único que não gravou uma nova foi o Xangô, até para reforçar as características do partido-alto, em que se improvisa a partir de um verso conhecido", explica Paulo César Figueiredo, diretor artístico do projeto, que teve direção musical de Paulão 7 Cordas e produção da Sarau. Xangô da Mangueira abre o CD com "Quando Vim de Minas" e volta depois com "Moro na Roça". Sua voz tem o peso do tempo, no que isso tem de bom e de ruim. Ele representa os improvisadores, o samba que remete às suas origens africanas. Wilson Moreira, criado na zona rural do Rio, também mora na roça quando compõe, conhecedor dos jongos e caxambus. Mas o lado que aparece no CD é o mais romântico, em que também é craque: "Quintal do Céu", parceria com Jorge Aragão gravada por Zeca Pagodinho, e a inédita "Amor Vadio". Walter Alfaiate relembra "A.M.O.R. Amor", uma de suas composições mais conhecidas, feita com o amigo Mauro Duarte e gravada por Paulinho da Viola, ambos crias de Botafogo como Walter. E mostra sua voz grave e seu tom crítico em "O Mundo Já se Acabou". Filósofo popular, o mangueirense Nelson Sargento une humor e melancolia em "De Boteco em Boteco" e dor e ternura na inédita "O Destino Não é Restaurador". Esse também é o caminho de Dona Ivone Lara e Monarco. A grande dama regrava "Liberdade" (letra de Delcio Carvalho) e apresenta "Escravo da Dor" (letra de Bruno Castro), ambas muito bonitas e contando com a voz de Dona Ivone ainda em perfeito estado. Já o líder da Velha Guarda da Portela, um dos maiores intérpretes brasileiros, mostra "Foi uma Noite Linda" e quebra um tabu ao gravar "Jardim da Solidão", lançada por Clara Nunes -a história dessa música é tão pessoal que ele não se sentia à vontade para cantá-la. O caçula do grupo é Luiz Carlos da Vila, que exibe todo o seu talento na metalingüística "Pra Fazer um Samba Novo" e encerra com o disco com "O Show Tem que Continuar". É o que esse projeto diz: o passado deve ser cultuado com os pés no presente, senão é só nostalgia. (LUIZ FERNANDO VIANNA)

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