Vejam o texto abaixo tirado da coluna do Elio Gaspari Reparem o que ele diz da imprensa que tem preguiça de pensar e prefere repetir o que dizem as assessorias de imprensa. Não lembra nossa briga para tentar fazer a imprensa pensar por conta própria a questão do voto-E em vez de repetir incansavelmente o que diz o TSE?
[ ]s Amilcar Brunazo Filho ----------------------------- 22/7/2002 Os testas de ferro do capital estrangeiro Com a absorção da CSN pela Corus, revelou-se toda a hipocrisia do discurso nacionalista de Benjamim Steinbruch, quando disputou o controle da CSN. Na época, proclamou-se nacionalista e acusou o grupo rival Votorantim de estar associado a capitais estrangeiros. O que é pior, com esse discurso recebeu o apoio de fundos de pensão e um empréstimo de US$ 660 milhões do BNDES, o banco que deveria ajudar o desenvolvimento nacional. Steinbruch desempenhou mais uma vez o velho papel das elites brasileiras: foi um mero corretor dos interesses de grupos estrangeiros nos corredores do Palácio. O futuro por US$ 600 milhões IstoÉ Dinheiro fez a conta de quanto "o rei do aço", como diz laudatoriamente a revista, ganhou nesse negócio: "(...) Steinbruch controlava uma empresa avaliada em US$ 1,2 bilhão. Na última quarta-feira, ao bater o martelo e selar o acordo, era dono de 17,5% de um conglomerado três vezes maior, uma participação avaliada em US$ 1,8 bilhão (...) a assinatura valeu aos acionistas da CSN um ganho imediato de US$ 600 milhões no valor de seu patrimônio." De onde surgiu esse lucro? Por que duas empresas separadas passam a valer mais quando se fundem? Porque Steinbruch vendeu algo que não estava na contabilidade do patrimônio da CSN, uma espécie de mais-valia patrimonial: vendeu o controle estratégico de nossa siderurgia, vendeu o nosso futuro. Esse valor de patrimônio nacional virou patrimônio pessoal de Steinbruch e de um punhado de acionistas brasileiros, como a fundação Valia, que tem 10,3% do capital da CSN. O cretinismo jornalístico A maioria dos jornais, inclusive os especializados Valor e Gazeta Mercantil, engoliu sem pensar o enorme e cuidadoso press-release preparado por Steinbruch, que tentou nos convencer de que foi a CSN que incorporou Corus, e que o Brasil se tornaria, assim, controlador da quinta maior multinacional do aço. Todos os jornais reproduziram o mesmo texto básico, como os mesmos quadrinhos, a mesma abordagem, as mesmas palavrinhas. Apenas um ou outro jornal acrescentou um pequeno box por conta própria. O truque midiático que inverteu o sentido dos fatos foi baseado numa filosofia e numa linguagem. A filosofia foi a de tratar a CSN como unidade mercantil, uma mera empresa como qualquer outra, ignorando sua origem, seu papel estratégico. Com isso, foi possível usar as palavrinhas mágicas da linguagem neoliberal, mostrar que a CSN vai operar com mais "sinergismo", que "crescerá no mercado internacional", que passará a ter um novo "canal de distribuição de seus produtos", e por aí afora. Sofismas e enganações O truque mais interessante foi a introdução de algumas palavrinhas especiais como "parceiro estratégico", eufemismo para designar um parceiro minoritário, apenas com direito à poltrona de couro no Conselho, ou a balela de que Steinbruch, lá pelo ano 2004, irá dirigir a Corus. Houve também uma curiosa inversão de ênfase. A imprensa brasileira deu manchete para o fato de que a CSN vai ter 37,6% da nova Corus e que, com isso, vai controlar a Corus, porque o resto das ações está "pulverizada". Mentira. A imprensa londrina, e a própria Corus no seu site, informaram que os atuais acionistas da Corus vão ter 62,4% da nova empresa e a CSN vai ter "não mais do que 29,9% dos votos, exceto em certas circunstâncias". Ora, se a CSN terá menos votos do que sua participação acionária (justamente um pouco menos de 30%), é porque com 30% teria certos direitos que a Corus não quer que tenha. Assim se vendeu a ilusão de que a CSN vai controlar a Corus. Chico Santos, na Folha, foi um dos poucos a por o dedo na ferida e apontar a falácia: "Fusão sepulta o sonho da múlti brasileira do aço". Todo o resto dos jornais enganou descaradamente os leitores. Fusão "só se o rato ficou mais forte do que o gato", disse Chico Santos. Revistas corrigem ligeiramente o discurso O cretinismo dos jornais ficou tão evidente que não foi possível sustentar a mentira. As revistas semanais corrigiram o tratamento, admitindo, como fizeram Época e IstoÉ, que o centro estratégico da decisão sobre a siderurgia nacional mudou para Londres. Veja não reconheceu nem isso. Apresentou o negócio como muito bom "para as duas partes". Mas, meio envergonhada, escondeu a mais importante história da semana numa coluninha sob o título "CSN vira múlti". Carta Capital, a mais critica das revistas semanais, paradoxalmente deixou a postura crítica de lado e fez uma mini-entrevista com Steinbruch, em que levantou a bola para ele chutar. A mãe de todas as falácias: o controle nacional A primeira conseqüência da perda de controle nacional foi a decisão, já embutida no próprio acordo de absorção, de cortar os investimentos da CSN em energia elétrica, tanto térmicas como hidroelétricas, o que contraria o interesse nacional e afronta decisões de governo. Isso apareceu apenas no pé da matéria do Estadão sobre o caso. E nenhum jornalista questionou como foi possível Steinbruch negociar a venda, se do outro lado da mesa havia apenas "acionistas pulverizados"? A negociação só poderia ter sido feita com um corpo dirigente, com mandato conferido por uma maioria acionária. Então essa maioria existe e a história das "ações pulverizadas" apenas encobre a essência dos fatos. As ações podem até estar em sua maioria pulverizadas, mas uma maioria existe. Derrota estratégica Os jornais fizeram pesquisas supérfluas sobre a história de 40 anos da CSN, apenas para produzir calhaus acríticos, e com isso deixaram de lado a verdadeira história da guerra do aço dos último meses. Nossa derrota nessa guerra começou com o medo do governo, em março deste ano, de reagir às restrições combinadas de cotas tarifas impostas por Bush ao aço brasileiro e de outros países. Celso Láfer preferiu "negociar" as cotas. A decisão de Bush foi um golpe sério contra siderurgia brasileira, e não se resolveria por mudança da cota. A própria sobrevivência da nossa siderurgia estava em jogo. Durante duas décadas o BNDES, gastando cerca de US$ 10 bilhões do dinheiro dos brasileiros, promoveu o saneamento da siderurgia. O Brasil estava hoje preparado para dar um novo salto, graças a sua alta produtividade, com um custo de apenas US$ 100 por tonelada, contra US$ 131 na Europa e US$ 168 nos EUA. Novos investimentos estavam programados para aproveitar essa vantagem comparativa. Foi quando Bush deu o seu golpe. De imediato, as siderúrgicas terão de cortar investimentos programados da ordem de US$ 1 bilhão, conforme os jornais de março passado, que nenhum jornalista consultou na semana passada. É o estrangulamento da nossa siderurgia. Foi nesse ambiente que Steinbruch decidiu entregar os pontos. E ainda embolsou 46,48% de US$ 600 milhões, sua parte das ações da CSN. Vantagens comparativas O Brasil tem o melhor minério de ferro do mundo. E a siderurgia mais eficiente. Toda essa vantagem comparativa será suplantada pela vantagem comparativa política do governo Bush. E a Corus ficará com nossa mina Casa de Pedra, a menina dos olhos da CSN, motivo principal de todos esse negócio. Exportar minério pode, exportar aço não pode. Essa é a história que a mídia poderia ter contado. Não contou, revelando neste único episódio boa parte de suas características: o entreguismo, a preguiça de pensar, a cumplicidade com as assessorias de imprensa, a aceitação acrítica dos press-releases, e falta de memória e de mancômetro. Um episódio realmente exemplar. Resultados da super-hegemonia A super-hegemonia dos EUA trouxe instabilidade política, militar, econômica e financeira. A crise no Oriente Médio segue sem solução, a América Latina é um caldeirão de crises e a direita xenófoba avançou na Europa. ______________________________________________________________ O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu autor, conforme identificado no campo "remetente", e nao representa necessariamente o ponto de vista do Forum do Voto-E O Forum do Voto-E visa debater a confibilidade dos sistemas eleitorais informatizados, em especial o brasileiro, e dos sistemas de assinatura digital e infraestrutura de chaves publicas. __________________________________________________ Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico http://www.votoseguro.org __________________________________________________