Para os anais do forum. A materia da VEJA desta semana.
Em tempo: a crise ta' tao braba que a VEJA teve que abandonar a postura 
claramente pro'-ACM que vinha adotando, pois a lama respingou no senador 
baiano e nao dava mais pra esconder.
http://www2.uol.com.br/veja/250401/p_052.html

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VEJA
Edição 1 697 - 25 de abril de 2001
Brasil Senado

O sigilo arrombado no Senado

Um laudo comprova a violação do painel e dois depoimentos indicam
que isso foi obra de Arruda e ACM

Rudolfo Lago, de Brasília
Joedson Alves/AE

O painel no dia da cassação de Luiz Estevão e os senadores Arruda e ACM, 
acusados de ter pedido a funcionários que quebrassem o sigilo da votação: 
ambos sob risco de perder o mandato

Já no dia seguinte à cassação do senador Luiz Estevão, ocorrida em 28 de 
junho do ano passado, falava-se pelos corredores do Senado, sempre em 
murmúrios, que a votação não fora secreta. Como todo o Parlamento é dado a 
mexericos, não se sabia se os comentários eram boatos ou expressão da 
verdade. Agora, não existe mais dúvida. Um laudo técnico, preparado por 
quatro peritos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), informa que 
o painel de votação foi violado naquela data. O laudo garante que às 18h05 
do dia 28 de junho um disquete de formato 3,5 polegadas extraiu dos 
computadores que controlam o painel do Senado uma lista com o voto de cada 
um dos senadores. Em seguida, apareceram os depoimentos de dois 
funcionários do Prodasen, o órgão responsável pelo serviço de informática 
do Senado. O conteúdo dos depoimentos reafirma o laudo da Unicamp e 
acrescenta o seguinte: a lista sigilosa, captada pelo disquete de 3,5 
polegadas, foi impressa numa folha de ofício comum, dobrada ao meio e 
colocada dentro de um envelope pardo para ser entregue aos dois senadores 
que a pediram: Arruda e ACM.

Os depoimentos foram prestados pela ex-diretora do Prodasen Regina Célia 
Peres Borges e pelo técnico em informática Heitor Ledur e ambos confessaram 
ter tido participação direta no episódio, o que os coloca na situação de 
terem, também eles, cometido uma fraude. Esse detalhe ao mesmo tempo 
reforça a credibilidade do que dizem. A confissão só veio depois que o 
laudo da Unicamp trouxe a confirmação da violação do painel. Em vezes 
anteriores, tanto Regina Borges quanto Heitor Ledur já haviam negado 
qualquer tentativa de quebrar o sigilo da votação. Na segunda-feira 
passada, porém, com o laudo em mãos, os senadores voltaram a convocar Ledur 
para dar esclarecimentos. Arquiteto que aprendeu eletrônica nos dez anos em 
que serviu como sargento no Exército, Ledur é operador do painel de votação 
do Senado desde 11 de fevereiro de 1983. Nesse seu terceiro depoimento, 
começou como das outras vezes. Disse que, no dia da votação, chegara cedo 
ao plenário, "por volta das 6 horas da manhã", para testar o sistema de 
votação. Um senador informou-lhe então que o laudo da Unicamp comprovara a 
violação. "E o sistema estava sendo operado pelo usuário identificado pelo 
número 9, dono da senha 69899. Esse funcionário é você", disse o senador. 
Ledur desmontou e contou tudo. Mais tarde, Regina Borges não teve outra 
saída: confessou também.

Uma tacada Tanto no depoimento reservado que deu na segunda-feira quanto no 
depoimento público que foi convidada a prestar na quinta-feira passada, 
Regina contou uma história detalhada. Disse que no dia 27 de junho, véspera 
da votação sobre a cassação do mandato de Luiz Estevão, o senador Arruda 
convidou-a para conversar em sua casa. Era em torno de 9 ou 10 da noite. Na 
casa do senador, Regina ouviu um pedido de Arruda, que dizia apresentá-lo 
em nome de Antonio Carlos, então presidente do Senado: queriam quebrar o 
sigilo da votação do dia seguinte. Daí em diante, Regina falou com outros 
técnicos, inclusive seu marido, Ivar Alves Ferreira, também do Prodasen, 
com a finalidade de viabilizar a empreitada. Passada a votação, no final da 
tarde, imprimiu a lista e entregou-a nas mãos de Domingos Lamoglia, 
assessor de Arruda. À noite, Regina conta que recebeu uma ligação de ACM. O 
senador, do outro lado da linha, queria agradecer a Regina o serviço 
prestado. Numa tacada só, a ex-diretora envolveu o líder do governo no 
Senado e o ex-presidente da Casa.

Abalado com a acusação, o tucano Arruda subiu à tribuna para se defender. 
Com a intenção de provar que não esteve com Regina em sua casa entre 9 e 10 
da noite, fez um roteiro de todas as suas atividades do final da tarde do 
dia 27 de junho até o início da madrugada do dia seguinte. Em tom 
emocionado, informou que, por volta das 7 da noite, se deslocou para o 
Tribunal Superior Eleitoral, onde se realizava a posse do ministro Fernando 
Neves da Silva. Invocou o testemunho de dois senadores que o viram na 
solenidade. Disse que deixou o local "depois das 10 da noite" e foi a um 
restaurante. Recorreu ao testemunho do jornalista com quem jantara naquela 
noite. Com isso, parecia que Arruda não podia ter tido tempo, entre uma 
posse e um jantar, de falar com Regina em sua casa. Pode ser, pode não ser. 
Palavra contra palavra, ainda que pareça estranho Arruda ter deixado a 
posse "depois das 10 da noite", quando o próprio empossado diz que saiu do 
local "antes das 9 da noite". Sabe-se lá por que Arruda ainda ficaria na 
posse por mais de uma hora após a partida do homenageado, a consumir até o 
último canapê.

Ainda assim, Arruda desceu da tribuna do Senado seguro de que se saíra bem. 
"Matei a pau", chegou a comentar. Não foi bem assim. Antes de se explicar, 
Arruda foi pressionado a renunciar de imediato ao cargo de líder do governo 
no Senado. O próprio presidente Fernando Henrique, querendo evitar que o 
Palácio do Planalto recebesse respingos do escândalo no Senado, tentou 
convencê-lo a deixar o posto. Arruda resistiu. E, na quinta-feira, dia 
seguinte à apresentação de seu álibi na tribuna do Senado, Arruda anunciou 
de chofre que estava deixando a liderança do governo. Surpreendeu até seus 
colegas de partido. Deu uma entrevista, disse que de agora em diante caberá 
ao senador Romero Jucá exercer a liderança e sumiu do mapa. Durante toda a 
quinta-feira, nem sua assessoria sabia informar onde o senador se havia 
refugiado. Pode ser que Arruda tenha pretendido evitar desgastes ao 
governo, mas com certeza não é a atitude que se espera de quem "mata a pau".

ACM teve comportamento diferente. Não subiu à tribuna, não fez 
pronunciamento algum, embora negue que tenha pedido qualquer lista a quem 
quer que seja. Diz que reservará seu depoimento para o Conselho de Ética, 
no qual deve ser aberto um processo de cassação. De início, pretende 
mostrar que a ex-diretora do Prodasen já cumpriu missões dizendo 
equivocadamente fazê-lo em seu nome. "Essa não teria sido a primeira vez 
que ela tomou atitudes sem me consultar, dizendo que cumpria ordens 
minhas", diz. O senador dirá que modificou dois atos administrativos de 
Regina no comando do Prodasen, tomados sem consulta prévia a ele. Num, 
nomeou funcionários que estavam prestes a se aposentarem. Noutro, contratou 
uma filha de um assessor seu que acabara de ser denunciado por 
enriquecimento ilícito. Desmoralizar a ex-diretora do Prodasen, porém, não 
será tarefa fácil. No depoimento público que deu na quinta-feira, Regina 
não vacilou em relação ao essencial e ganhou a platéia. "Se essa mulher 
estiver mentindo, é a melhor atriz do mundo", disse o senador Amir Lando, 
do PMDB de Rondônia.

O "macetoso" Os depoimentos e o laudo instalaram o tumulto dentro do 
Senado, mas é preciso separar as provas dos indícios. Não restam dúvidas de 
que o painel eletrônico passou por uma violação. O laudo, com 263 páginas 
cheias de gráficos, fotos, cópias de arquivos de computador e planilhas, 
mostra que o sigilo da votação foi suspenso entre os dias 28 e 30 de junho, 
quando voltou ao normal. O que falta comprovar cabalmente é se os senadores 
José Roberto Arruda e Antonio Carlos são os mentores dessa maquinação. É 
quase inevitável que ambos tenham de responder a um processo de cassação no 
Conselho de Ética. A cassação, em si, como todo seu processo, depende do 
ambiente político no Senado. Na semana passada, o ambiente era péssimo para 
os senadores Arruda e Antonio Carlos Magalhães. O episódio da violação do 
sigilo abriu espaço para uma corrente existente no Congresso que defende a 
tese segundo a qual o Parlamento não deveria ter, nunca, sob nenhuma 
circunstância, votações sigilosas. O motivo é que o sigilo esconde do 
eleitor o comportamento de seu escolhido.

O sigilo está previsto no regimento da Câmara e do Senado. Isso não 
significa que não tenha sido violado em outras ocasiões, além da sessão que 
resultou na cassação do senador Luiz Estevão. O próprio laudo da Unicamp 
mostra que qualquer um dos operadores do painel do Senado pode votar na 
hora em que quiser no lugar de um senador. Basta que acione uma ferramenta 
que, dentro do Prodasen, ganhou o apelido de "botão macetoso", uma 
corruptela para designar "macete". O botão é um discreto sinal no canto 
direito da tela do computador quando o operador clica a janela "senadores". 
Ele existe, diz o relatório, para permitir que operadores registrem a 
presença de senadores que estejam viajando e queiram garantir o jetom, ou 
que estejam atrasados e pretendam dar quórum a determinada sessão. O laudo 
diz que o "macetoso" era usado apenas para essas finalidades, mas ele serve 
também para que um operador possa votar em nome do senador. É que, ao lado 
do nome dos senadores, há três opções: "comparecimento, quórum e votação". 
Os técnicos não acharam sinal de que o "macetoso" tenha sido usado para 
votações. Mas, do ponto de vista técnico, isso pode ocorrer. O episódio da 
semana passada mostra que não faltam no Senado funcionários "macetosos" 
prontos para fazer uso do tal botão.

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PAULO GUSTAVO SAMPAIO ANDRADE
Teresina - Piaui
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Pagina, Jornal e Forum do Voto Eletronico
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