A Gazeta (AC)
 
Com um abraço de Marko Ajdaric
 
A fraude cometida no vestibular do curso de Medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac) em 2001 não foi eletrônica. A constatação foi feita pela Polícia Federal, através do primeiro laudo técnico científico sobre o caso, elaborado por três peritos criminais federais. A polícia já sabe que 19 alunos foram (quase metade da turma) aprovados sob a orientação da quadrilha que atuou dentro da Ufac, sendo a maioria deles advindos das cidades bolivianas de Cochabamba, Santa Cruz de La Sier-ra e La Paz.
 
A conclusão da polícia é que alguém teve acesso a prova do vestibular de Medicina, gabaritou as questões e, possivelmente, espalhou as respostas dentro de um grupo. O esquema funcionaria da seguinte forma: a pessoa responsável pelas respostas da prova pode ter levado o gabarito das provas para o banheiro, onde qualquer aluno pode ir (acompanhado de um fiscal da Ufac até a porta). Essa pessoa teria deixado o gabarito com as respostas no local e as demais podem ter utilizado a mesma tática de ir ao banheiro e lá encontrar as respostas de todas as questões.
 
A polícia chegou a essa conclusão depois de observar que todos os 19 alunos tidos como envolvidos na fraude (já comprovada) responderam várias questões X igualmente aos outros e, na opção das disciplinas de inglês ou espanhol, todos optaram por uma disciplina Y, seguindo à risca o que o gabarito determinava. “O laudo pericial da PF chegou a esta conclusão depois da análise de todas as provas, levando ainda em consideração que no dia do vestibular de Medicina houve realmente uma grande movimentação de alunos indo ao banheiro”, disse o superintendente da Polícia Federal no Acre, Paulo Bezerra.
 
A Polícia Federal ainda não sabe se houve conivência de servidores da universidade no caso, mas também não descarta a possibilidade de nenhum tipo de envolvimento na quadrilha que fraudou o vestibular. Uma das intrigas da polícia volta-se para os meios utilizados pelos alunos para conhecer as questões da prova, além da fiscalização dos candidatos no horário da prova. “Não temos nenhum elemento para acusar nenhum servidor da Ufac, mas também não descartamos esta possibilidade. Também não sabemos que se houve conivência ou fragilidade por parte de algum servidor da instituição”, comentou Bezerra.
 
Os peritos federais notaram ainda que todos os envolvidos na fraude obtiveram notas excelentes e do mesmo nível na primeira etapa do vestibular, mas na segunda (Redação) todos mostraram péssimo desempenho intelectual.
 

Alunos envolvidos serão expulsos
 
O reitor da Universidade Federal do Acre, Jonas Filho, já informou que após a conclusão do inquérito da Polícia Federal, a Ufac irá expulsar os alunos comprovadamente envolvidos na fraude do Vestibular de Medicina. Jonas afirma não acreditar no envolvimento de nenhum dos servidores da Universidade Federal do Acre nas ações fraudulentas, mas segundo ele, se for constatada a participação de alunos e funcionários da instituição no caso, todos serão expulsos e exonerados dos quadros da Ufac.
 
O reitor acredita também que a quadrilha que supostamente age dentro da Ufac trabalha com equipamentos de alta tecnologia e faz parte de um grupo externo com ramificações em nível nacional. A Ufac está realizando uma tria-gem entre os alunos do curso de Medicina para medir o grau de capacidade intelectual de mais de 40 alunos.
 

Inquérito será prorrogado
 
O delegado que está presidindo o inquérito investigativo sobre a fraude no vestibular de Medicina, Rafael Pinto de Souza, disse ontem que as investigações levarão mais alguns dias para serem concluídas, mas alguns avanços já foram apresentados no decorrer dos trabalhos da Polícia Federal. Um dos principais elementos são os depoimentos prestados por mais de 20 estudantes do curso de Medicina. Outro ponto são as prisões de três estudantes acusados de coagirem testemunhas, participarem de formação de quadrilha e ameaçar de morte uma das testemunhas do caso.
 
A Polícia Federal já ouviu alunos, professores e servidores sobre as denúncias. As investigações da Polícia Federal tiveram início após o registro de uma denúncia anônima dando conta de que pelo menos 20 alunos do curso de Medicina teriam ingressado no curso através das técnicas utilizadas por uma quadrilha especializada em falsificar e roubar provas de vestibular. Cada prova teria custado aos alunos envolvidos cerca de R$ 20 mil. A quadrilha do vestibular de Medicina responderá por crime de formação de quadrilha e estelionato.
 

 

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