Como já disse tempos atrás, eu admiro todas as "idéias ideais" deste
cara. É ele um dos grandes pensadores atuais, o qual sabe tudo sobre o
atual Estado brasileiro e com o qual lamentavelmente discordei em
público, uma certa vez. 

Numa das muitas palestras que ele gratuitamente deu na UFRJ, ele pregou
a criação de um novo quarto poder republicano no Brasil, quiçá já
baseado no Ministério Público e em todo o aparelho fiscal do estado. Tal
quarto poder seria comandado por um Chefe eleito, uma espécie de
primeiro-ministro, mas em regime presidencialista e eleito pelo voto
direto popular, simplesmente para controlar a ética dos demais poderes e
mandatários políticos. Comparei essa grande idéia com o nosso Antigo
Poder Moderador do Imperador Dom Pedro I, nos tempos da nossa monarquia.

Arrependo-me muito das besteiras que disse naquele dia, pois hoje
comungo inteiramente das lições que ele deu naquela palestra magistral.

Infelizmente, eu sou como todo o povo brasileiro: a ficha só cai depois
que a realidade é esfregada na sua cara.

GIL.

-----Mensagem original-----
De: [EMAIL PROTECTED]
[mailto:[EMAIL PROTECTED] Em nome de Maneschy
Enviada em: terça-feira, 27 de janeiro de 2004 00:08
Para: voto-e
Assunto: [VotoEletronico] FC - Oposição?


Folha de Sao Paulo, terça, dia 27/01/04

Por que oposiçäo?
Roberto Mangabeira Unger

        Por que opor-se a governo que ainda parece contar com o apoio e
a
esperança da maioria do povo brasileiro? E por que näo contentar-se com
a
oposiçäo feita pelas forças derrotadas na eleiçäo presidencial de 2002?
        A melhor razäo para fazer oposiçäo agora näo é lutar contra a
política
econômica mais nociva aos interesses do trabalho e da produçäo que já se
executou no Brasil desde o governo do Marechal Dutra. Também näo é
combater política social que, em vez de capacitar todos e de fortalecer
a
classe média, prefere os programas "focados só em pobres" que as
autoridades do Primeiro Mundo recomendam aos governos do Terceiro.
        A razäo maior para fazer oposiçäo está no dever de resistir ao
assalto
em curso contra as instituiçöes republicanas e a idéia democrática no
Brasil.
A relativa obscuridade desse assalto, quase invisível aos olhos da naçäo
e
distante das preocupaçöes da populaçäo, aumenta-lhe os perigos. Jamais
daremos outro rumo ao Brasil se näo derrotarmos esse ataque contra a
república e a democracia, removendo do poder, pelo voto, os que o
desfecharam.
        Compöe-se o assalto de dois elementos: um, fincado no
imaginário; o
outro, nas instituiçöes e nas práticas.
        No imaginário, o assalto é o esforço de reduzir, de vez por
todas, o
horizonte da política progressista à humanizaçäo daquilo que seria
economicamente inevitável. Essa abdicaçäo do espirito foi consumada por
meio de reviravolta que escarneou da democracia, enfraquecendo-a. Por
mais
que se diga que o PT avisara, em letra miúda, que conduziria o país no
figurino dos mercados financeiros, o eleitorado julgava votar por
mudança de
orientaçäo. Foi enganado. E, como os falsários diziam encarnar a idéia
da
alternativa nacional, a trapaça ameaça desmoralizar, ao mesmo tempo,
essa
idéia e o voto.
        Nas práticas e nas instituiçöes, o assalto é a neutralizaçäo das
forças
que, em nossa sociedade täo desigual e em nossa democracia ainda frágil,
podem oferecer contrapeso ao poder central. A doutrina do governo näo é
social-democracia nem neoliberalismo. É simplesmente hegemonia: o poder
como meio e como fim. Com uma única exceçäo, os partidos progressistas
fora do PT e as vertentes do PT fora do núcleo governante foram
reduzidos a
massa de manobra. A mídia, quase toda ela em situaçäo pré-falimentar,
foi
quase toda posta de joelhos. Fundiram-se as agências reguladoras, os
bancos
públicos e os fundos de pensäo num só instrumento grosseiro de
manipulaçäo
de negócios. Os grandes empresários estäo mais intimidados e acocorados
de
que nunca. Agora o Palácio quer enquadrar os procuradores, cuja
responsabilidade mais importante é enquadrar o Palácio. A próxima
instituiçäo a ser ameaçada com mordaça e tacäo será a universidade.
        Resistir a tudo isso e reabilitar a idéia de alternativa
nacional säo as
tarefas prioritárias na política brasileira hoje. Näo as podem cumprir
as
forças, batidas em 2002, que já brincavam com esse fogo anti-democrático
e
anti-republicano. Só a pode cumprir uma oposiçäo que, despida de ilusöes
e
de concessöes porém rica em propostas e em virtudes, aceite começar do
quase nada. E que anuncie ao país, ainda descrente, que se baterá em
2006
pela Presidência da República e que a ganhará.

 27 de janeiro de 2004

Roberto Mangabeira Unger escreve às terças-feiras nessa coluna.
www.law.harvard.edu/unger




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