Ministro do Supremo critica falta de planejamento, de organização e de comunicação do Poder Judiciário

SÃO PAULO. O ministro Nelson Jobim, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez ontem duras críticas ao comportamento dos magistrados e à forma desorganizada com que o Judiciário trata suas questões administrativas. Segundo ele, a Justiça não deve ter medo da crítica nem de apanhar, por isso tem de "botar a cara a tapa". Jobim disse que o Judiciário precisa reconhecer sua incapacidade administrativa e gerencial e se concentrar na sua missão de resolver conflitos.

- Temos que botar a cara a tapa. Não podemos ter medo de apanhar. Só não apanha quem é irrelevante - disse Jobim, durante a palestra "Planos de modernização para o Judiciário: diretrizes", no Fórum Social da Justiça Federal de São Paulo.

Jobim não poupou críticas à falta de planejamento do Judiciário, que chega ao ponto de não ter informações precisas sobre quanto custa a Justiça brasileira.

- Se alguém nos pergunta quais nossos custos reais, não sabemos. Não sabemos quanto custa uma sentença, um acórdão. Temos que reconhecer nossa absoluta incapacidade gerencial e administrativa - disse.

Ele contou que há alguns anos, quando foi discutir com o Executivo o reajuste salarial do Judiciário, não pôde responder à pergunta sobre o impacto financeiro sobre o orçamento da União porque não tinha informações precisas sequer sobre a folha de pagamento dos magistrados.

Ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Jobim cobrou também a falta de articulação entre o Judiciário federal e o estaduais. Ele lembrou que esse problema tem origem na Constituição de 1988, que criou uma estrutura independente para os tribunais estaduais e federais, sem visão estratégica.

- É um grande arquipélago, ilhas sem comunicação. E, se não assumirmos que esse problema existe, o Judiciário não terá nunca uma estrutura nacional - afirmou.

Para o ministro do STF, a solução dos problemas passa pela criação do Conselho Nacional de Administração do Judiciário, um órgão centralizador da política nacional de Justiça e que é um dos pontos da reforma do Judiciário em discussão no Senado. Jobim considerou correta a atitude do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), de reabrir os prazos de discussão da reforma do Judiciário porque a renovação de dois terços da Casa impediu que os senadores eleitos em 2002 tivessem analisado a proposta.

A reforma do Judiciário, para o ministro Jobim, deve se basear em três pressupostos básicos: acesso a todos, decisões em tempo social e economicamente tolerável e centralização de sua ação na decisão de conflitos de interesses, reconhecendo assim sua incapacidade gerencial e administrativa.

"Temos que reconhecer nossa absoluta incapacidade gerencial e administrativa"

Jornal: O GLOBO

Autor: Adauri Antunes Barbosa

Editoria: O País

Tamanho: 471 palavras

Edição: 1

Página: 8

Coluna:

Seção:

Caderno: Primeiro Caderno

 



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