Repasse de mensagem que recebi do Jornalista Marcelo Soares da Folha,
apresentando um outro texto do Villas-Boas Correa.
   [ ]s
     Amilcar

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>X-From_: [EMAIL PROTECTED]  Wed Aug 30 15:48:47 2000
>From: "Marcelo Soares" <[EMAIL PROTECTED]>
>To: "Amilcar Brunazo Filho" <[EMAIL PROTECTED]>
>Subject: Villas-Boas Corrêa, hoje no NO.com.br
>Date: Wed, 30 Aug 2000 15:49:16 -0300
>
>    O voto na berlinda 
>
>Como se cutucado em nervo exposto de dente arruinado, o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) pulou em defesa da segurança da urna eletrônica, lançada à
polêmica da dúvida pelo presidente do PDT e candidato a prefeito do Rio,
Leonel Brizola, com o respaldo de especialistas em informática e a
curiosidade desconfiada de eleitores que se manifestam pela imprensa. 

Por enquanto, está tudo dentro do previsível. Estranhável seria o silêncio
desdenhoso do TSE diante da gravidade do questionamento do sistema
sofisticado e a um mês da eleição de prefeitos e vereadores, levanto às
urnas de última geração mais de 100 milhões de eleitores. E espantoso se o
TSE reconhecesse que a informatização do processo eleitoral que custou
milhões não merecia confiança e podia ser acessado pela esperteza criminosa
de um hacker de primeiro time. 

Mas, a surpresa de deslocar maxilar seria uma explicação simplificada, ao
alcance do grande público que vai madrugar nas filas para exercitar o seu
dever cívico. Como o assunto é complicado, a explicação é complicadíssima.
O consultor do TSE, Paulo Nakaya, foi incumbido de desfazer dúvidas e
esfarinhar suspeitas, detalhando para a massa ignara o procedimento para
introduzir dados nas urnas eletrônicas. Vejam que clareza transparente: o
TSE disponibiliza códigos e senhas, além do sistema operacional. Segundo
entendi, o Tribunal Superior Eleitoral é o responsável pelas senhas e
códigos que abastecem o sistema. Adiante. Aos tribunais regionais
eleitorais compete a responsabilidade pelo registro de cada candidato e de
cada eleitor. Em seguida, a mágica do cruzamento nas entranhas de cada urna
eletrônica, com data marcada para realizar-se entre 15 e 25 de setembro.
Cada vez mais claro, não? 

Esconde-esconde 

A chave da segurança do sistema tranca a fechadura com um truque de
esconde-esconde: como o TSE, com os olhos vendados, não sabe quem são os
candidatos, não há como ocorrer o desvio de votos "pois o sistema
operacional da urna é disponibilizado pelo órgão". Sem conseguir decifrar a
charada, vamos em frente. As tais senhas disponibilizadas são de suspensão,
nos casos de voto nulo ou em branco, de reinicialização da urna e de
encerramento da votação. Enfim deu para entender a serventia das senhas do
TSE. Acrescente-se que elas serão enviadas às um milhão e oitocentas mil
pessoas que deverão compor as mesas eleitorais. Para fechar o dia, após
terminada a votação às 17h, cada seção emite o boletim da urna que é levado
para o local da apuração. 

Fiscalizar pode 

O minucioso Paulo Nakaya tranqüiliza os partidos, assegurando que a
fiscalização da contagem é perfeitamente possível através dos boletins de
urna ou da totalização de cada região. O questionamento do programa-fonte
por representação do PDT não se justifica, diz o porta-voz do TSE, pois ele
foi aberto à bisbilhotice dos interessados entre 2 e 6 de agosto. E, para
colocar uma pedra em cima das suspeitas, informa que o sistema de urnas
eletrônicas não permite a repetição da fraude do tipo da armada na trampa
do Proconsult. Ensina: a urna eletrônica protege a totalização até o
boletim final e a trapaça do Proconsult foi urdida durante a digitação e a
totalização. 

Recontagem não pode 

O esforço para acompanhar até o desfecho o esforço do TSE para desarmar as
dúvidas quanto à segurança das urnas eletrônicas encontra a sua
compensação: cada um que retire as suas conclusões. A Justiça Eleitoral sai
da reta e reza para que tudo dê certo. Terá que apelar para orações fortes
e muita fé nos protetores celestes. O seu competente servidor serviu-nos de
informações que se não convencem, entopem pela complexidade opaca do patuá
técnico. Cumpriu brilhantemente a sua obrigação. 

Mas, a ranzinzice de qualquer especialista desligado dos quadros da Justiça
Eleitoral, com o mesmo desembaraço fluente, monta uma linha de raciocínio
com fartura de dados técnicos demonstrando exatamente o contrário. A
vulnerabilidade eletrônica é tema de discussão entre especialistas e
leigos. Exaustivamente analisada nas publicações especializadas, em
matérias na mídia, em debates em simpósios acadêmicos. É a praga dos
computadores, o cupim da sua credibilidade, o desafio ao seu futuro. 

Depois, a grande dúvida, a marca de desconfiança que envolve as urnas
eletrônicas como nuvem de fumaça escura, é que elas não permitem a
recontagem de votos. Em caso de denúncia consistente de erro ou fraude, não
há como levar a apuração à prova definitiva que as velhas urnas de pano
facilitavam com a conferência dos votos, um a um, à vista de todos. 

A urna eletrônica sem a impressora que registre o voto, fornecendo o
comprovante que se arquiva até o fim do prazo dos pedidos de recontagem dos
votos, exige a crença na sua infalibilidade. Não é uma simples maquineta, a
engenhoca para facilitar o processo eleitoral e apressar a apuração. Mas,
quase uma divindade, acima das desprezíveis desconfianças humanas. 

O TSE nos convida a adorar, reverentes, a urna pagã. E eletrônica. 


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