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Por que poucas mulheres editam a Wikipedia?

[image: The New York Times] Nicole Torres*

24/09/201606h00

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Em 2008, um estudo descobriu que menos de 13% dos colaboradores da
Wikipedia em todo o mundo eram mulheres. Uma pesquisa de seguimento em 2011
encontrou resultados semelhantes: globalmente, as mulheres eram 9% dos
colaboradores; nos EUA, 15%. Os índices de leitores não pareciam mostrar
uma diferença de gêneros significativa.

Essas descobertas provocaram um debate sobre o que desencoraja as mulheres
de contribuir --mas não houve grande mudança desde então. No ano passado, o
criador da Fundação Wikimedia, Jimmy Wales, disse que apesar de várias
iniciativas a organização não conseguiu cumprir sua meta de aumentar a
participação das mulheres para 25% até 2015.

Essa é uma questão empresarial para a Wikipedia, assim como social para a
era da informação. Com mais de 18 bilhões de acessos mensais, a Wikipedia é
o sétimo site mais visitado da web. Mas o número de editores no site em
inglês está diminuindo. O futuro da Wikipedia poderá depender de sua
capacidade de recrutar editores.

Julia Bear, da Faculdade de Economia da Universidade Stony Brook, e
Benjamin Collier, da Universidade Carnegie Mellon no Catar, exploraram a
questão pela perspectiva das mulheres que estão nos bastidores da
Wikipedia. Eles analisaram um subconjunto dos dados da pesquisa original de
2008 para ver se a experiência de editar artigos difere entre os gêneros e
se isso influencia o quanto eles editam. Encontraram claras diferenças.

As mulheres relataram que sentiam menos confiança em sua capacidade,
ficando menos à vontade para editar o trabalho de outros (processo que
muitas vezes envolve conflito) e reagindo de maneira mais negativa ao
feedback que os homens.

Já que contribuir com a Wikipedia muitas vezes significa apagar ou
modificar o trabalho de outros editores, há muitos conflitos. Guerras de
edição, discussões acaloradas entre usuários e assédio e perturbação podem
se juntar para criar um ambiente hostil.

"Até certo ponto, é preciso haver um nível básico de confiança para começar
a editar, e homens e mulheres podem ter critérios diferentes sobre a
perícia necessária para fazer isso", disse Bear. "É um dos motivos pelos
quais recomendamos que a Wikipedia seja mais proativa para encontrar e
incentivar colaboradores."

Bear e Collier também sugerem implementar um sistema para avaliar a perícia
dos colaboradores, dar feedback positivo e oferecer treinamento para
aumentar a participação das mulheres.

"A brecha de gêneros é importante por vários motivos", disse Bear. "De uma
mera perspectiva do conteúdo, homens e mulheres podem ter diferentes
interesses e preferências e podem enfocar diferentes temas. Se temos essa
pequena porcentagem de mulheres colaboradoras, muitos temas poderão ser
evitados ou receber menos atenção do que deveriam."

Quando Joseph Reagle, professor-assistente na Universidade Northwestern e
autor de "Good Faith Collaboration: The Culture of Wikipedia" [Colaboração
de boa fé: a cultura da Wikipedia], comparou as biografias da Wikipedia em
inglês com a Encyclopaedia Britannica online com a ajuda de um colega, eles
descobriram que a Wikipedia supera a Britannica em cobertura biográfica
--especialmente no que se refere a homens. A Britannica é mais equilibrada
em quem deixa de cobrir. E outros encontraram vieses na representação de
cientistas e romancistas mulheres na Wikipedia.

"A Wikipedia é uma representação do conhecimento", disse Reagle. "Se você
entra lá e não vê qualquer representação de modelos femininos, mostra um
viés implícito na maneira como as coisas são organizadas e priorizadas.
Isso pode ter uma consequência significativa nas pessoas."

Ao longo dos anos, a Fundação Wikimedia trabalhou para diminuir a brecha de
gêneros entre colaboradores e tornar o processo de edição menos agressivo.
Ela criou uma "força-tarefa de brecha de gêneros" e formas de os editores
expressarem gratidão e dar feedback positivo no site, organizou maratonas
de edição e lançou iniciativas como a Teahouse, que treinou novos editores,
e a campanha Inspire, que premiou 16 projetos para melhorar a diversidade
de gêneros e representação nos sites da Wikimedia.

A fundação também trabalhou para reduzir o assédio. Um projeto está
explorando o uso de ferramentas automatizadas para ajudar os
administradores a detectar e mediar conflitos precocemente, e estão em
preparação programas de mentores e treinamento para líderes voluntários.

"Aprendemos que melhorar a diversidade de gêneros é uma questão complexa,
que exige uma abordagem multifacetada", escreveu Dennis em um e-mail. "Não
há um método que sirva para todos. Visamos compreender melhor as políticas,
a cultura, as diretrizes e outros fatores que contribuem para um ambiente
seguro e receptivo online."
Há diversas outras maneiras de tornar a Wikipedia um lugar melhor para os
colaboradores (e para os leitores) --desde diminuir a brecha de gêneros em
técnicas de internet a incluir vozes mais diversificadas do mundo inteiro.
É claro que modificar uma cultura enraizada não é fácil, mas prestar
atenção no que afasta as pessoas é um bom ponto de partida.

**Nicole Torres é editora-adjunta da "Harvard Business Review".*

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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