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A identidade de gênero de Garfield causou uma guerra na Wikipédia. Saiba a
resposta Uma declaração feita há dois anos por Jim Davis, criador do
personagem, levantou o questionamento: trata-se de um gato ou uma gata?

   - Avi Selk e Michael Cavna The Washington Post
   - [03/03/2017]
   - [11h35]

[image: Garfield: será que ele é? | Divulgação]
Garfield: será que ele é?

Ele é preguiçoso. Ele é um gato. Ele gosta de lasanha.

Tem mais alguma coisa que dê para dizer sobre o *Garfield*? Não é um
personagem complicado. Desde a estreia das suas tirinhas em 1978, as
principais qualidades do *Garfield *conseguiram ser ainda mais fixas do que
o próprio gato quase imóvel.

Mas estamos em 2017 – uma época de guerras na internet, dilemas sociais e
alegações de que há evidências controversas até sobre a identidade de
gênero do *Garfield*.

A Wikipédia precisou bloquear as edições na página sobre Garfield na semana
passada, após uma guerra editorial que durou 60 horas, em que o gênero do
personagem oscilou indeterminadamente como uma versão cartunesca do gato de
Schrödinger: macho uma hora. Na outra, não.

“Ele pode ter sido menino em 1981, mas hoje já não é”, argumentou um dos
editores.

O debate acabou vazando e caindo nas outras rodas da internet. Um certo
escritor do site de notícias e comentários políticos Heat Street chegou a
reclamar do “marxismo cultural” e seus seguidores, determinados a
“transformar um dos homens mais icônicos da cultura pop numa abominação de
gênero fluido”.

Tudo começou com um comentário do criador do *Garfield*, *Jim Davis*, feito
há dois anos numa entrevista para a Mental Floss – que tinha o título
inócuo de “20 Coisas Que Você Talvez Não Saiba Sobre o *Garfield*”.

Entre as tentativas de promover os DVDs do Garfield, Davis revelou algumas
curiosidades inofensivas sobre o gato: que Garfield se chama Gustav na
Suécia. Que Garfield e seu dono, *Jon Arbuckle*, vivem em *Muncie*, no
estado de Indiana.

“O Garfield é bem universal”, disse Davis à Mental Floss no meio da
entrevista. “Pela virtude de ser um gato, de fato, ele não é nem menino,
nem menina, nem de qualquer raça ou nacionalidade, nem jovem, nem velho”.

Esse comentário na época não fez nenhum barulho. Na época.
Guerra editorial

Até que, na semana passada, o satirista Virgil Texas desenterrou essa
citação e a utilizou para transformar o que foi uma declaração ousada num
gesto ousado:

“FATO: Garfield não tem gênero. Isto. É. Canônico.

“Eu atualizei o verbete do Garfield na Wikipédia para refletir este fato”.

Mas, antes, uma breve nota sobre Virgil Texas: Ele é conhecido já por fazer
pegadinhas. O escritor foi um dos criadores de um comentarista político
fictício chamado Carl “The Dig” Diggler, criado para parodiar a mídia e
perturbar o jornalista Nate Silver.

Mas Texas disse ao Washington Post que suas únicas preocupações neste caso
eram com a integridade “do cânone do Garfield”.

Texas disse que esbarrou nessa citação antiga de Davis enquanto assistia a
uma versão soturna, em live action e com cinco horas de duração, de
Garfield (sério). Então ele inventou um editor da Wikipédia (o que qualquer
um pode fazer) chamado David “The Milk” Milkberg na semana passada e mudou
o gênero do Garfield, de “masculino” para “nenhum”.

Quase que instantaneamente, todo o universo de fãs do *Garfield *já veio
intervir.

Outro editor da Wikipédia reverteu o gênero do *Garfield *de volta para
masculino em menos de uma hora após a mudança feita por Virgil Texas.

Um minuto depois, alguém nas Filipinas deixou *Garfield *sem gênero de novo.

E assim por diante. Nos bastidores, os usuários da Wikipédia debatiam como
resolver essa “guerra editorial” furiosa.
“Bom garoto”

“Todos os personagens (incluindo o próprio Garfield!) se referem ao
*Garfield*, constantemente e sem ambiguidade, como menino, e sempre usando
pronomes masculinos”, escreveu um dos editores – listando quase três dúzias
de tirinhas publicadas ao longo de um período de quase quatro décadas para
embasar os seus argumentos.

Numa delas, Jon chama Garfield de “bom garoto!” antes de Garfield colocar
um jornal na boca do seu dono.

Em outra, Garfield sobe na sua “balança mágica falante no banheiro (que
provavelmente fala com a voz do próprio Garfield), que se refere a ele como
‘rapaz’ e ‘garoto’”.

Mas um outro editor argumentou que apenas um único exemplo dentro desses
listados “demonstrava auto-identificação” – uma tirinha de 1981 em que
Garfield pensa, “eu sou mau” depois de comer uma samambaia.

E Milkberg/Texas não abriu mão da sua proposta: “Se alguém conseguir achar
uma outra fonte em que Jim Davis diga que o gênero do Garfield é masculino
ou feminino, então isso geraria uma polêmica séria no cânone do Garfield”,
ele disse na página de debate do artigo na Wikipédia. “Porém, nenhuma tal
fonte foi identificada, e eu tenho sérias dúvidas de que algo do tipo virá
à tona”.
No Twitter

Várias sequências de tweets começaram a aparecer, então, com propostas
concorrentes no Twitter, onde um usuário comparou a disputa sobre Garfield
com o caso de *Krazy Kat*: outro desenho sexualmente ambíguo que lhe serve
de predecessor, que teve um artigo escrito sobre ele e publicado no mês
passado na New Yorker.

Em busca das respostas, teve também quem caçasse além da seção dos
quadrinhos e mergulhasse no mundo ambíguo de produtos da marca Garfield e
argumentos semicanônicos.

E teve também quem viu a coisa toda como uma piada.

Mas outros deram sermões ou começaram a filosofar: “Por que se importar com
o que Garfield é ou não é?” indagou-se Jimmy King. “Quem liga se os outros
o enxergam como menino ou menina?”

Muitos ponderaram o sentido das palavras de Davis de 2014, que geraram
confusão, dado o fato de que o criador se referiu ao Garfield como “ele”,
enquanto sugeria que ele não era nem “ele”, nem “ela”.

Um usuário da Wikipédia propôs que fosse feito um acordo – “colocar ambos
os gêneros, cada um com suas referências adequadas: Masculino (1) e/ou
nenhum (2)”. Não adiantou muito.

O gênero do *Garfield *mudou 20 vezes ao longo de dois dias e meio (durante
os quais houve um breve período em que sua religião foi listada como
“muçulmano xiita” por algum motivo) antes de um dos administradores ser
obrigado a intervir.
Conclusão

Por fim, *Garfield *acabou definido oficialmente na Wikipédia como sendo do
gênero masculino – citando como referência quatro tirinhas, incluindo uma
de 1979 em que um veterinário diz que “ele está gordo demais”.

A página acabou trancada e só poderá ser editada de novo a partir do mês
que vem.

No entanto, em fevereiro, o escritor da Heat Street levou aos limites os
seus argumentos contra a mudança de gênero – citando o “peitoral definido”
e “volume proeminente” da sua versão de super-herói, Garzooka, da
animação “*Garfield’s
Pet Force*”, como prova de que Garfield é um “HOMEM americano, durão e
heterossexual”.

É óbvio que esses comentários não adiantaram de nada.

Mas talvez isto resolva:

“O Garfield é menino”, disse Davis ao The Washington Post na terça-feira.
“E ele tem uma namorada, a *Arlene*”.

Diante das novas evidências, o satirista cedeu às palavras do criador. “É
ele quem manda no cânone”, disse Texas. “Eu só fico curioso com como isso
se encaixa com a sua declaração anterior...”

“Se eu tivesse a oportunidade, eu iria interrogá-lo”.

Mas a Wikipédia já foi muito além das disputas de gênero. Agora outros
aspectos do gato gordo preguiçoso estão sendo questionados.

“Esqueçam o seu gênero e a suposta religião muçulmana”, disse um usuário na
segunda-feira. “Será que a gente precisa mesmo incluir a *Arlene *na
categoria de esposa?”.
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