O desrespeito começa em casa

   Há quase dois anos, fui convidado (com mais dois moradores) para 
participar da elaboração do novo texto do regulamento (convenção) do 
nosso condomínio, para registra-lo e ganharmos um número no CNPJ. 
Parecia uma tarefa simples: pegar um texto num prédio próximo, juntar 
com o nosso antigo texto e apresentar o óbvio aos moradores para 
aprovação geral. Num primeiro momento imaginei que na Assembléia 
Constituinte antes de 1990, tal procedimento teria ocorrido. 
Esperávamos leis bem elaboradas, tal o grande número de 
personalidades reunidas. Até membros da ABL existiam neste grupo. Deu 
no que deu. Até "ponto-e-vírgula" prejudica o necessitado no momento 
de interpretar o texto.

   Fizemos o trabalho de editar a espinha dorsal do referido texto. 
Nos reunimos a cada dois meses para (de vez em quando apareciam dois 
ou três convidados para palpitar) efetuar os ajustes, no intuito de 
evitar dupla interpretação das normas. Não pretendíamos incorrer nos 
mesmos erros das leis que regem a nação.

   Mas começamos a perceber que cada item mais rígido no sentido de 
permitir uma convivência equilibrada e respeitosa entre nós, era 
alterado para conceder abertura de interesses das pessoas que se 
acham mais espertas que a esperteza e não queriam ser punidas pelas 
suas atitudes menos ortodoxas. E aqueles que aplaudiam e prometiam  
comprometer-se com o texto em elaboração eram os primeiros a 
transgredi-los, explicando que a situação do momento justificava a 
burla. Então propus que para não gastarmos tempo e papel inutilmente 
(pelo visto tudo seria burlado desde que se apresentasse 
uma "explicação comovente"), nosso regulamento tivesse apenas uma 
norma: "fica proibida qualquer ação danosa ao prédio ou aos seus 
moradores, exceto nos casos em que o praticante tenha uma 
justificativa plausível para não ter se portado de maneira 
adequada".  

   Não aceitaram. Abandonei o projeto. Se for para não cumprir, 
qualquer texto serve. O registro é mera formalidade para atender a 
uma exigência do banco para aceitar a conta do condomínio.

   Juntando este espírito reinante nos condomínios da pátria (o nosso 
não é o único vilão da história), percebemos porque as leis nacionais 
são amenas para os grandes facínoras (normalmente a turma dos 
gabinetes dos governos e das empresas patrocinadoras de campanhas 
eleitorais) e rígida para os pobres de pele não dourada pelo verão. 
Estes não sabem descrever uma "explicação comovente".


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Haroldo P. Barboza – Matemático, Analista de computador e Poeta – 
Junho / 2002
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