Tudo o que os senhores descrevem abaixo sofrido
pelo governo Olívio Dutra, foi uma dose pequena do remédio que o PT aplica em
seus adversários.
O Pitta por exemplo, foi vítima até de racismo,
fato reconhecido até pelo Cardeal Evaristo Arns, por parte da justiça, OAB e
imprensa paulistas, não sendo poupados do linchamento nem seu filho e sua mulher
que foram usados contra eles.
No rio o PT se aliou ao PSDB para cassar Brizola
como corrupto arripiando até inimigos ferrenhos de Brizola que declararam que
embora inimigos de Brizola o reconheciam como homem honesto e responsável no
trato do dinheiro público. O PT chegou ao ponto de pedir a intervenção do
Governo Federal com tropas do Exército no governo de Brizola.
Agora tem uma pergunta que os petistas do Rio
Grande do Sul têm que responder ao público. Que história é essa de que o Governo
do Rio Grande do Sul já entrou com mais de 30 processos contra jornalistas e
intelectuais?
Quem semeia ventos colhe tempestades.
----- Original Message -----
Sent: Thursday, November 07, 2002 7:09
PM
Subject: [VotoEletronico] Re: FC -
Abrindo os olhos?
Encomendei o primeiro livro da
relação - Os
Construtores da Informação - Meios de Comunicação, Ideologia e
Ética".
EB
----- Original Message -----
Sent: Thursday, November 07, 2002 5:39
PM
Subject: [VotoEletronico] FC - Abrindo
os olhos?
Meditações sobre 27 de outubro de 2002 Pedrinho A.
Guareschi *
Vários amigos(as) me perguntaram sobre o resultado das
eleições. Dividido entre estar feliz e uma santa indignação, respondo a
todos que acertei nos dois prognósticos: quem ganhou a eleição em nível
nacional foi Lula, e a nível de RS foi a RBS. Essa afirmação pode ser
chocante e precisa ser justificada, principalmente sua segunda parte.
Claro que não estou afirmando aqui que a RBS tenha tanto poder assim!
Seria exagerar seu poderio. Mas ao mesmo tempo estou convencido que não
podemos ser ingênuos e ficar calados, como se tudo tivesse corrido bem.
Não. Vejo uma obrigação moral de apresentar a reflexão que segue, pois
estou convicto que algo nessa direção deve ser feito, caso queiramos uma
sociedade e uma comunicação mais participativa e
democrática.
Antes de começar, um ponto importante: como disse
acima, se acho exagerado atribuir uma vitória à RBS, por isso mesmo acho
também exagerado dizer que não houve razões que ajudassem a se criar um
clima negativo contra a esquerda em geral, e o PT em particular. Mas
vale aqui a lei do estereótipo: se é verdade que em todo o estereotipo
há sinais, ou sementes, de verdade, o estereótipo como tal toma esse
estereótipo e o amplia e o multiplica por milhares de vezes. E esse é
exatamente o que quero discutir: a maneira como a mídia toma pequenos
indicadores e os amplia, construindo a partir deles toda uma
REPRESENTAÇÃO SOCIAL negativa e pejorativa.
Há pelo menos dois anos
vinha alertando que, caso não acontecesse algo de especial, o PT
perderia as eleições no RS, pois alguém (há sempre pessoas humanas por
detrás das instituições) já vinha fazendo CAMPANHA SISTEMÁTICA há dois
anos, isto é, desde 1999, contra o Governo Olívio. E essa campanha se
prolongou pelos quatro anos, dia a dia, momento a momento, em doses
homeopáticas, construindo uma representação social nítida, eficiente,
que se tornou A REALIDADE política do RS.
Estou convencido de que
não se prestou atenção suficiente a essa variável: a MÍDIA, sintetizada
aqui, admiravelmente, pela RBS. Quem analisasse detalhadamente as
informações, podia perceber nitidamente que estava sendo criada uma
REPRESENTAÇÃO SOCIAL fortemente negativa, desacreditada e pejorativa de
ao menos quatro instâncias da vida social e política gaúcha: o próprio
Governo Olívio (a pergunta que se fazia, quase diariamente, era "quando
Olívio começaria a governar, que ainda nem existia um Plano de
Governo..."), do Partido dos Trabalhadores - pintado como o partido
do "ódio" -, da questão da segurança pública (incluindo o próprio
Secretário da Segurança, o incentivo à divisão e ao conflito entre os
órgãos de segurança, as notícias diárias e chocantes sobre crimes e
violência como se isso fosse marca exclusiva do RS, etc.), e o Movimento
dos Sem Terra (MST), sobre o qual se descarregavam as notícias mais
escabrosas e chocantes que aterrorizam qualquer proprietário de casa e
terra, por pequeno e pobre que seja, e ferem a sensibilidade de qualquer
cidadão comum, como o fato de alguém "ser acordado de madrugada, com uma
arma no ouvido, vendo seu cachorro morto e sua vaca de estimação
carneada..." (Mendeslki, Rádio Gaúcha, 20 de outubro).
Na
verdade, essas são as quatro questões que, ao se perguntar por que
determinada pessoa não votaria em Tarso, foram mais freqüentemente
apresentadas. Repito que pode haver sementes, ou indícios, de algo real
na conduta de tais organizações, mas a REPRESENTAÇÃO SOCIAL construída a
partir daí tomou uma dimensão exageradamente disforme, que não
correspondia mais à realidade dos fatos.
O episódio da CPI da
segurança, que se transformou numa CPI político- partidária contra o
governo e o PT, com o patrocínio de muitos políticos que não sabiam mais
como impedir a implementação de um novo projeto político e social
realmente novo, nos moldes do projeto político que Lula e o PT planejam
desenvolver a nível nacional, serviu como carreador dessas idéias, que
foram ampliadas e difundidas de todos os modos, por todos os recantos, em
todos os momentos (inclusive durante a campanha), principalmente pela
RBS. Os estudos mencionados ao final confirmam tal
afirmação.
Minha santa indignação provém do fato de que não se pode
continuar com uma mídia que, de maneira geral, não cumpre sua tarefa
fundamental que é ser responsável por um "serviço público", como diz a
Constituição de 1988, que ajude a promover o debate nacional a partir de
todas as instâncias da sociedade organizada, isto é, da sociedade civil.
Creio que é esse o problema fundamental que hoje sofremos com respeito a
nossa mídia. Lembrando o querido Betinho (Herbert de Souza), gostaria de
trazer sua afirmação, continuamente repetida nos últimos anos de sua
vida: O termômetro que mede a democracia numa sociedade, é o mesmo que
mede a participação dos cidadãos(ãs) na comunicação: sem que haja
possibilidade de todos dizerem sua palavra, expressaram seu pensamento,
manifestarem sua opinião, não é possível uma verdadeira democracia, e
corremos o risco de viver uma sociedade fascista, onde apenas alguns têm
voz e vez.
Gostaria de terminar com algumas perguntas aos
colegas:
Estaria nossa mídia (e penso de modo especial na RBS)
desempenhando essa tarefa primordial de porta-voz de toda uma sociedade,
como todo serviço público deveria ser? Dentro dessa questão, por
exemplo, questionaria um fato corriqueiro: será que alguém que trabalha
numa empresa de comunicação (rádio e TV), sabe quando termina a
concessão de funcionamento dessa rádio ou TV? E se não sabe, por que não
sabe, se isso é crucial? E mais: por que a mídia não discute a
mídia?
Segundo: até quando se pode aceitar, por exemplo, pensando em
termos de uma sociedade democrática e pluralista, que um candidato
(atualmente senador) "possua" um meio de comunicação (no caso, uma
rádio), para sua projeção pessoal e conseqüente influência política? É
isso concebível dentro do referencial de uma comunicação como serviço
público que deve ser porta-voz de TODA a sociedade, de maneira
democrática e plural? E que dizer da afirmação do próprio candidato de
que pretende permanecer três dias em Brasília, para suas tarefas como
senador, e quatro dias no Rio Grande do Sul, para falar em "sua"
rádio?
Que dizer do último escândalo midiático de determinado
Instituto de Pesquisa apresentar, cinco dias antes da eleição, que a
diferença entre dois candidatos seria de 23 pontos; dois dias antes da
eleição dizer que seria de 16 pontos; no dia da eleição, com pesqusa de
boca de urna, dizer que seria de 12 pontos; e na confirmação das urnas,
constatar-se que foi de 5,6 pontos? Que dizer de comentaristas que, ao
sair a boca de urna, virem de imediato a público dizendo, sem que
ninguém lhes tenha solicitado, que o Instituto estava correto, pois
entre 16 e 12 pontos de diferença, com margem de erro de 2,2, o
Instituto ainda estaria correto? Por que tanto interesse em defender o
Instituto antes da contagem dos votos? E que dizer dos mesmos
comentaristas que, após a apuração, ao se constatar que a diferença de
boca de urna e dos resultados reais tinha sido de 6,7, com margem de
erro de 2 pontos, não comentarem absolutamente nada, permanecendo
calados? Mas, ao se constatar o escândalo, a primeira ?desculpa?,
tentando justificar o que não tem justificação, ter sido esta: "a RBS
não faz pesquisas, ela apenas contrata pesquisas de outros Institutos".
É essa uma justificativa que explique, diante das defesas feitas ao
Instituto anteriormente?
Mesmo nesse último caso, o de apenas
contratar pesquisas, deveríamos fazer duas observações: primeiro, o que
significa "contratar" pesquisas? Quais os direitos que o contratante tem
sobre o produto? Além do direito de publicar ou não, é ele que decide
também sobre as margens de erro? Tudo isso continua obscuro. Segundo:
diante de aberrações indiscutíveis, tal empresa deveria questionar-se
seriamente sobre a capacidade e a honestidade de tal Instituto. A
conclusão a que se chega é que se uma empresa continua a contratar serviços
de um Instituto assim, certamente não estaria trilhando por caminhos
sérios e responsáveis
É por tudo isso que estou, nessa manhã de
28 de outubro, parte feliz e parte indignado com mais essa página de
nossa história. Continuaremos assistindo a tais fenômenos, ou "outra
comunicação é possível?"
* Professor do Depto. de Psicologia da
PUC/RS
Se alguém quiser referências mais claras sobre o que foi
discutido acima, pode encontrá-las num livro que organizei, "Os
Construtores da Informação - Meios de Comunicação, Ideologia e Ética"
(Petrópolis, Vozes, 2000), que aborda especificamente tais questões. Há
nele diversos exemplos de como se faz a construção de uma Representação
Social, como: "Essa Gentalha Infeliz: A Representação Social dos Sem
Terra Segundo Mendelski", pp. 199-232 e "Patológico, Cinzento e Perdido:
a Representação Social do PT segundo Mendelski", pp. 177-198 e ainda:
"Como a Página 10 viu a propaganda eleitoral" , pp. 233-242, de Giba
Assis Brasil). Outro livro também muito útil é o de Patrick Champagne,
"Formar Opinião - o novo jogo político" (Petrópolis: Vozes, 1998),
especificamente sobre como as pesquisas eleitorais formam
opinião.
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