-----Mensagem original-----
De: [EMAIL PROTECTED] [mailto:[EMAIL PROTECTED] 
Enviada em: quinta-feira, 3 de julho de 2003 10:43
Para: undisclosed-recipients:
Assunto: SOBRE O AUMENTO

Amigos,

Esta é uma resposta, à altura, de uma servidora pública aposentada ao
Sr.Secretário de Recursos Humanos do Ministério  do Planejamento, com
relação ao nosso reajuste. Por favor, leiam e, se puderem (e quiserem),
divulguem-na.
Abraços,

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Ilmo. Sr.

Luís Fernando Silva

Secretário de Recursos Humanos

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão



Prezado Senhor,

Como não temos qualquer relação pessoal, levei como surpresa o
aparecimento
de sua mensagem em minha caixa de entrada da internet.

Como não costumo deixar sem resposta as mensagens dos amigos e colegas
com
os quais me comunico, vou fazer de conta que V. Sa. está entre aqueles
que
usam meu e-mail particular (pois minha conta de internet não é paga por
qualquer instituição), para não deixar sua mensagem sem resposta.

Por favor, não me faça lembrar o Big Brother (1984, de O. W), dizendo
que,
se eu tenho e-mail, o governo pode usar para falar comigo - tenho
certeza
de que leu a obra literária que menciono.

Bem sei que o governo e o partido do governo não vêem com simpatia
aqueles
que discordam de suas ações ou criticam suas medidas. Mas, não sou
militante do partido do governo e, por isso, não temo punição, a exemplo
do
que está prometido à corajosa senadora e a seus companheiros de
princípios,conforme noticiado pela imprensa.

Acima de tudo, acredito, democraticamente, que quem me diz o que quer
concede-me o direito de resposta - principalmente, quando sou vítima de
uma
promessa enganosa e quando me tratam como "você".

V. Sa. começa com um "infelizmente", referindo-se ao reajuste que não
foi
pago. Como servidora que esperava um reajuste, sou eu que digo:
INFELIZMENTE, o governo nos prometeu qualquer coisa insignificante que
passou a chamar de "reajuste" e nem assim conseguiu honrar a promessa.

Começo a temer que essa promessa entre para o rol das outras tantas
promessas solenemente pronunciadas nos palanques da campanha eleitoral e
tão rapidamente esquecidas, tendo, sempre tão dramática e retoricamente,
seu esquecimento explicado através da imprensa, com recurso de metáforas
velhas e sem poesia.


De qualquer modo, depois de tantos anos sem reajuste (coisa que V. Sa.,
muito bem orientado pelo governo e com a ajuda de seus eficientes e
gratificados assessores, vai, inutilmente, se apressar em desmentir,
misturando dados e informações para dar aparência de verdade a seu
desmentido), se essa promessa for também para a vala comum do
esquecimento,
servindo de companhia às outras, não fará tanta diferença assim no bolso
dos servidores, considerando a insignificância do montante, que, ao fim
e
ao cabo, só servirá mesmo para que o governo, depois, possa argumentar
que
deu reajuste ao funcionalismo, e para que a opinião pública,
desconhecendo
a
"fortuna" que nos foi prometida e ainda não concedida, acredite na
seriedade do governo.

Gostaria de fazer algumas breves observações:

1) Intriga-me o fato de o governo ter divulgado na imprensa a concessão
de
reajuste salarial ao funcionalismo a ser pago no início de junho, e não
ter
tido a mesma disposição para divulgar na imprensa que não cumpriu a
promessa e que, de resto, o tal reajuste, até a presente data, não passa
mesmo de vaga e mera promessa, para gerar notícia favorável ao próprio
governo.

2) Preferindo apresentar as explicações via internet, fazendo de conta
que
está se dirigindo de modo personalizado a cada servidor, que, na falta
do
pagamento do mísero reajuste, tem, agora, além da promessa presidencial,
o
consolo de uma mensagem explicativa, e evitando a ampla divulgação na
imprensa do não cumprimento do prometido, o governo quer, diante da
opinião
pública, manter sua credibilidade e, sem que precise mentir, deixa que
se
pense que é sério e que costuma cumprir os compromissos assumidos e
divulgados pela imprensa. Mudam-se os tempos, mudam-se os expedientes:
na
calada da internet, dá-se uma satisfação aos servidores e deixa-se a
opinião pública ignorando que não se cumpre o alardeado e, ainda de
quebra,
consolida-se a imagem de abastado, de afortunado, de "marajá" (no que se
refere a mim, de "marani"), que se tem imposto ao servidor, para que se
tenha o que dizer na próxima entrevista, no pronunciamento na próxima
inauguração ou em outra situação que sirva para o marketing da imagem de
quem se preocupa com os servidores e com a justiça social.

3) Não me venha V. Sa. explicar a situação com alguma daquelas metáforas
de
mau gosto que falam de "sacrifício", de "esperança", de "remédio amargo"
para "curar o doente" ou de outras bobagens tão presentes nos discursos
oficiais, porque métafora pertence ao campo da literatura e, portanto,
não
serve para administrar a vida real. Também não lance mão daquela outra
metáfora horrorosa (de gosto escatológico) que busca na gestação a
explicação de não se poder pedir à criança para nascer antes da hora,
alegando que o governo tem "5 meses" (de gestação? ou de governo?), que
foi
recentemente usada pelo Exmo. Sr. Presidente da República, graças à
falta
de esperteza de sua assessoria, que ainda não soube lhe dizer que essas
figuras de linguagem são de péssimo gosto literário e que, como figuras
de
linguagem, não compõem qualquer tópico sério de programa de gestão da
coisa
pública.

4) Principalmente, não me peça compreensão, tal como está escrito em sua
mensagem (v. abaixo), pois eu jamais lhe pedi compreensão a ponto de V.
Sa.
abrir mão da gratificação que recebe como assessor e nem pedi aos que
foram
para os cargos criados para abrigar os perdedores das últimas eleições
que
sejam compreensivos e deixem de receber as gratificações que estão
recebendo. Além do mais, como cidadã, jamais me foi dado o direito de
pedir
aos senhores parlamentares que fossem compreensivos e que não
aumentassem
abusivamente suas vantagens financeiras e salariais, como fizeram no
início
da atual legislatura.

5) Ao funcionalismo federal não se pede compreensão. Respeita-se o
funcionalismo, concedendo-lhe reajuste digno ou, pelo menos, cumprindo a
promessa do mísero reajuste alardeado na imprensa. Se não havia
condições
legais para conceder o mísero reajuste, não se devia ter feito a
promessa e
propalar tal promessa por meio da imprensa. Quem governa precisa estar
melhor informado das competências legais antes de fazer promessas, para
não
passar por descumpridor da palavra empenhada através dos jornais e das
emissoras de televisão. Não estamos falando de relações religiosas, que
implicam vocação para o sacrifício, para a compreensão das dificuldades
"neste vale de lágrimas". Estamos falando de relações laicas, numa
sociedade para o mercado. Não estamos falando de relações pessoais ou
privadas, que permitem apelos sentimentais. Estamos falando de relações
políticas, entre cidadãos e governo, nas quais uns, de um lado, esperam
o
reajuste prometido, enquanto o outro lado não cumpre a promessa e
silencia
isso para a imprensa, forjando uma atenção especial e personalizada via
internet. Estamos falando de "como iludir o povo".

6) Sua mensagem explica os trâmites legais para que o reajuste seja
concedido, cabendo aos senhores parlamentares a responsabilidade da
apreciação da questão. E por que o governo prometeu diante do Brasil
inteiro? O governo desconhece os trâmites legais? Custa-me aceitar que
votei num governo incompetente ou capaz de nomear assessores
incompetentes
e tão bem remunerados. E por que o governo não diz diante da imprensa
que
não sabia da existência dos procedimentos legais, das disposições
constitucionais? Pode até dizer aos jornais que continua cheio das
melhores
intenções, mas que tudo depende dos senhores parlamentares - a opinião
pública é inteligente. O Brasil ficará sabendo que tudo ainda é promessa
e
que nada mudou "no reino da Dinamarca".

Tenho certeza de que nada disso vai ser entendido por V. Sa. - se é que
vai
receber minha resposta. E V. Sa. não vai entender, porque foi nomeado
para
fazer mensagens pedindo compreensão ao funcionalismo e reforçando uma
vaga
promessa de um reajuste que nem é grande coisa e do qual ninguém sabe,
até
hoje, se vai "ver a cor" (mantendo o nível de linguagem dos
pronunciamentos
do governo).

Em sua próxima mensagem pela internet dirigida aos servidores, fale com
cidadãos e porte-se como autoridade política, mesmo que na calada da
internet, evitando apelos emocionais e sentimentais, pois compreensão
não é
moeda no supermercado para aqueles que fazem a polis. Supermercado não
se
paga com retórica.

Não recebi o reajuste e me nego a conceder a compreensão que me pede.

Atenciosamente,

Profa. Dra. Sônia Maria van Dijck Lima

Universidade Federal da Paraíba - professora aposentada

[EMAIL PROTECTED] <mailto:[EMAIL PROTECTED]>   - e-mail autorizado
para V. Sa. e não para outra autoridade do governo me incomodar.



PS: Considerando sua mensagem como discurso de autoridade política,
portanto, não sendo correspondência privada que tenhamos mantido, minha
resposta é de cidadã, e, portanto, também não é uma mensagem de caráter
pessoal. Informo que após mandar para V. Sa. darei a mais ampla
divulgação
que me for possível tanto a seu texto, de caráter oficial, no qual,
aliás,
não consta qualquer recomendação de reserva, como a meu texto, como uso
da
palavra enquanto cidadã que acredita viver numa democracia.

----- Original Message -----

From: Siapenet <mailto:[EMAIL PROTECTED]>

To: Siapenet <mailto:[EMAIL PROTECTED]>

Sent: Friday, June 06, 2003 6:52 PM

Subject: Reajuste salarial



Caro(a) servidor(a),

Como você já sabe, infelizmente não foi possível incluir na folha de
pagamento do mês de maio, para pagamento em junho, os valores referentes
ao
reajuste salarial de 2003. O governo está fazendo todos os esforços para
que o reajuste seja incluído na folha de junho, com pagamento no segundo
dia útil de julho - a parcela linear de 1% retroativa a janeiro de 2003,
e
a vantagem salarial de R$59,87 retroativa a maio de 2003.

O pagamento ainda não foi feito porque limitações constitucionais
impedem o
uso de Medida Provisória, um caminho mais rápido. O Governo teve de
encaminhar ao Congresso Nacional dois Projetos de Lei, ambos com pedido
de
tramitação em regime de urgência. Esperamos ver os dois Projetos
aprovados
ainda no mês de junho, já que praticamente todas as lideranças
partidárias
vêm se comprometendo com o apoio à tramitação acelerada.

Sabemos que esses fatos criaram transtornos para os servidores. Ainda
assim
queremos pedir a compreensão de todos, uma vez que providências foram
adotadas para acelerar o pagamento do reajuste, retroativo às datas
propostas em abril.

Lembramos ainda que continuam os trabalhos da Mesa Nacional de
Negociação
Permanente, que discute propostas de interesse do servidor. O objetivo
do
Governo é desenvolver, ao longo de quatro anos, um processo de
recuperação
salarial e de valorização das carreiras do serviço público. O reajuste
de
agora foi apenas o primeiro passo possível nesse processo.


Atenciosamente,

LUIS FERNANDO SILVA

Secretário de Recursos Humanos

Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

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O texto acima e' de inteira e exclusiva responsabilidade de seu
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