Publicado pelos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Extra e Correio Braziliense
(24.07.03) - Aí estão os números do IBGE: nunca
houve tantos desempregados no
Brasil. A renda dos assalariados caiu quase 15% frente ao ano passado.
O governo
Lula, apesar da empáfia com que se apresenta e de uma queda
nominal dos juros - os
juros reais seguem estratosféricos, de até 200% ao ano
- já perdeu aquela que era
sua grande força para mudar o país: a esperança
e a confiança do povo brasileiro.
E não a perdeu por causa desta crise, cuja origem, é verdade,
vem do governo
Fernando Henrique e sua política de submissão ao capital
financeiro, daqui e de fora.
Perdeu-a por mostrar-se fraco, incompetente e, sobretudo, frio e indiferente
aos
sofrimentos da população, enquanto é dócil
e maleável para com os interesses dos
grupos dominantes, seus adversários de ontem. Para eles, paz,
amor e lucros. Para o
povo brasileiro, arrocho, desemprego, recessão.
O governo Lula, em 6 meses, enveredou pelos caminhos da traição
a tudo que o PT,
antes, assumia como princípios públicos. Ansioso por
mostrar-se "confiável", elevou os
juros e colocou como prioridade das prioridades uma mutilação
da Previdência em que,
a pretexto de corrigiir abusos, o que faz é investir contra
a generalidade dos
servidores públicos e, pior, acaba destruindo o Estado como
instrumento capaz de
defender nosso país.
Eram estas as prioridades que motivaram o voto do povo brasileiro? Ou
eram a
valorização do trabalho, o aumento do emprego, da renda,
o fim do arrocho aos
servidores, a saúde, a educação? Zero mesmo foi
o que se fez nestas áreas. E o Fome
Zero, a esta altura, já não convence ninguém e
se resume, praticamente, a
propaganda e demagogia. Isto é que é populismo.
Reais, mesmo, são as demissões, aos milhares, que vem
ocorrendo sob o olhar passivo
do governo de um presidente trabalhador. Aos metalúrgicos, que
alçaram Lula ao que
é hoje, deve-lhes doer no coração que, com ele
no Planalto, as dispensas de
trabalhadores avancem como ondas no seu ABC. Isso para não falar
em situações
piores, onde o governo apóia politicas desastrosas, como esta
fusão VARIG-TAM, que
quer usar o dinheiro público para demitir 6.000 trabalhadores.
Iremos subsidiar a
destruição de uma empresa de reputação
internacional, que honraria qualquer país de
1o. mundo, a pretexto de dívidas muito menores do que aquilo
que o próprio governo
deve à VARIG? Créditos que certamente serão pagos
quando a VARIG pertencer aos
grupos estrangeiros e, com ela, o segundo maior mercado interno da
aviação mundial.
Então voarão daqui milhões de dólares para
o exterior. Francamente, tudo isso cheira
a maracutaia.
A perda da credibilidade é fatal para um governante. Mais ainda
quando ele,
desprovido de experiência administrativa e política, só
pode ter como força
permanente de sustentação a confiança de seu povo.
Quando a população vê que lhe
apontaram um caminho mas seguem por outro, oposto, passa a sentir-se
perplexa,
depois decepcionada e, muitas vezes, indignada com o embuste de que
foi vítima.
Todos nós, a imensa maioria deste povo sofrido e sacrificado,
quisemos que esta
história fosse diferente. Desde a posse, porém, o governo
Lula voltou as costas e
desconheceu seus aliados e eleitores. De todos eles, e de nós,
só ouviria
recomendações de coerência, jamais pedidos de vantagens.
Preferiu, porém, os que
na política ou na vida empresarial só desejam todos os
benefícios e lucros. Estes,
quando um governo já não tem condições
de manter e aumentar seus privilégios,
acabarão por deixá-lo só, como fizeram antes com
outros governantes que traíram as
esperanças do povo.
Leonel Brizola
Presidente Nacional do PDT
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