Rio de janeiro, segunda-feira, 11 de agosto de 2003
 

                    Mercado ou vigarice?

                    BRASÍLIA - A votação da reforma da Previdência serviu para muita
                    coisa, além de ampliar o fosso entre o governo e o eleitorado que
                    levou Luiz Inácio da Silva ao poder. Ficou evidente, das negociações
                    e escaramuças arrastando-se há semanas, a prevalência do sistema
                    financeiro sobre o interesse nacional. Se for permitido algo mais forte,
                    a vigarice de um clubinho de especuladores que se apropriou do
                    mercado, que fala e age em nome dele e consegue sempre, pela
                    chantagem, impor sua vontade.

                    Após a votação, mercado voltou ao normal

                    Não foi por coincidência que às vésperas da votação na Câmara o
                    dólar subiu inexplicavelmente. Nem que chegou quase ao ridículo a
                    fraca movimentação na Bolsa de Valores de São Paulo. Muito menos
                    se fala da burlesca elevação dessa vigarice chamada "risco Brasil".
                    Sintomática foi a volta desses índices aos patamares anteriores logo
                    depois de os deputados se terem curvado às imposições que,
                    percebe-se agora, não foram do governo, mas dos patrões do
                    governo: os que dominam o mercado.

                    Está na hora, senão do governo, acuado e submisso, pelo menos de o
                    poder público, a sociedade organizada, algumas ONGs, os sindicatos,
                    certos partidos políticos, o Ministério Público e até o Flamengo ou o
                    Corinthians, partirem para uma devassa nessa bandalheira.
                    Identificarem os especuladores que lucram com oscilações
                    inadmissíveis e os potentados financeiros que só trabalham para
                    aumentar seus privilégios através da manipulação da economia.

                    Torna-se necessário denunciá-los e fazê-los pagar pelos prejuízos
                    causados à nação, um dos quais se resume na transformação do
                    Executivo e do Legislativo em marionetes que dançam ao sabor de
                    suas tramóias. Situam-se lá fora, com acólitos aqui dentro, os
                    cérebros dessas perniciosas ações.

                    O objetivo é enfraquecer o Brasil, transformá-lo em colônia, reduzindo
                    cada vez mais a presença do Estado, deixando a produção em
                    recessão, a população na indigência e carreando a riqueza nacional
                    para o pagamento das dívidas.

                    Que tal criar o "risco-mercado"? Sempre que detectadas manobras
                    como essas poderíamos aumentar a taxação do capital especulativo,
                    reduzir o lucro dos bancos, controlar o câmbio e punir os predadores.
                    O diabo será convencer o governo a dar o grito de independência.
                    Porque custa esperar um governo independente...

                    Os mesmos de sempre

                    Quem sairá prejudicado, caso a Câmara confirme a votação de
                    quarta-feira e o Senado não promova alterações? Os mesmos de
                    sempre, os pequenos. Porque na hora das decisões os juízes
                    conseguiram ver aprovado para as magistraturas estaduais o subteto
                    de 90,25% do que recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal.
                    Obtiveram também a integralidade de suas aposentadorias.

                    Vale o mesmo para o Ministério Público. Com o limite para o
                    pagamento dos aposentados, celebram os controladores da
                    previdência complementar privada, mesmo sob a cortina de fumaça da
                    obrigação de fundos de previdência pública, porque interpretações já
                    começam a ser feitas em favor das seguradoras, todas ligadas a
                    bancos estrangeiros ou nacionais.

                    Atingidos foram os pequenos funcionários da ativa, que terão
                    aumentada a idade limite para passar à inatividade, os aposentados,
                    descontados em suas aposentadorias, e as viúvas e os órfãos,
                    sofrendo drástica redução em suas pensões.
                    Que o governo Fernando Henrique tivesse proposto essas maldades,
                    explicava-se. Afinal, foi um governo de traição nacional. Por isso não
                    conseguiu aprovar a sua reforma e ainda perdeu a eleição. Para
                    quem? Para o governo dos trabalhadores, depositário da indignação
                    da imensa maioria. A surpresa vem por conta da reforma em vias de
                    aprovação final: quem a propôs foi o grupo que a rejeitou não faz
                    muito...

                    Correção necessária

                    O senador José Sarney ocupou a presidência do Senado para fazer
                    uma retificação e passar uma reprimenda. Desmentiu haver declarado
                    que o Senado referendaria a reforma da Previdência aprovada na
                    Câmara. Para ele, o Senado é independente e os senadores dispõem
                    do poder de alterar qualquer projeto.

                    A reprimenda de Sarney, ironicamente, foi para o "Jornal do Senado",
                    publicação editada às expensas e sob a direção e responsabilidade da
                    mesa da casa. Porque o erro deveu-se à manchete da publicação
                    oficial. O "Jornal do Senado" atribuiu ao próprio Sarney a afirmação de
                    que o texto a chegar da Câmara dos Deputados será aprovado na
                    forma em que vier de lá. Isso seria restringir e humilhar os senadores,
                    transformando-os em mero instrumento referendatório das decisões
                    da Câmara.

                    O "Jornal do Senado" não errou. Apenas, antecipou-se ao que vai
                    acontecer...

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