Mercado ou vigarice?
BRASÍLIA - A votação da reforma da Previdência
serviu para muita
coisa, além de ampliar o fosso entre o governo e o eleitorado que
levou Luiz Inácio da Silva ao poder. Ficou evidente, das negociações
e escaramuças arrastando-se há semanas, a prevalência
do sistema
financeiro sobre o interesse nacional. Se for permitido algo mais forte,
a vigarice de um clubinho de especuladores que se apropriou do
mercado, que fala e age em nome dele e consegue sempre, pela
chantagem, impor sua vontade.
Após a votação, mercado voltou ao normal
Não foi por coincidência que às vésperas da
votação na Câmara o
dólar subiu inexplicavelmente. Nem que chegou quase ao ridículo
a
fraca movimentação na Bolsa de Valores de São Paulo.
Muito menos
se fala da burlesca elevação dessa vigarice chamada "risco
Brasil".
Sintomática foi a volta desses índices aos patamares anteriores
logo
depois de os deputados se terem curvado às imposições
que,
percebe-se agora, não foram do governo, mas dos patrões do
governo: os que dominam o mercado.
Está na hora, senão do governo, acuado e submisso, pelo menos
de o
poder público, a sociedade organizada, algumas ONGs, os sindicatos,
certos partidos políticos, o Ministério Público e
até o Flamengo ou o
Corinthians, partirem para uma devassa nessa bandalheira.
Identificarem os especuladores que lucram com oscilações
inadmissíveis e os potentados financeiros que só trabalham
para
aumentar seus privilégios através da manipulação
da economia.
Torna-se necessário denunciá-los e fazê-los pagar pelos
prejuízos
causados à nação, um dos quais se resume na transformação
do
Executivo e do Legislativo em marionetes que dançam ao sabor de
suas tramóias. Situam-se lá fora, com acólitos aqui
dentro, os
cérebros dessas perniciosas ações.
O objetivo é enfraquecer o Brasil, transformá-lo em colônia,
reduzindo
cada vez mais a presença do Estado, deixando a produção
em
recessão, a população na indigência e carreando
a riqueza nacional
para o pagamento das dívidas.
Que tal criar o "risco-mercado"? Sempre que detectadas manobras
como essas poderíamos aumentar a taxação do capital
especulativo,
reduzir o lucro dos bancos, controlar o câmbio e punir os predadores.
O diabo será convencer o governo a dar o grito de independência.
Porque custa esperar um governo independente...
Os mesmos de sempre
Quem sairá prejudicado, caso a Câmara confirme a votação
de
quarta-feira e o Senado não promova alterações? Os
mesmos de
sempre, os pequenos. Porque na hora das decisões os juízes
conseguiram ver aprovado para as magistraturas estaduais o subteto
de 90,25% do que recebem os ministros do Supremo Tribunal Federal.
Obtiveram também a integralidade de suas aposentadorias.
Vale o mesmo para o Ministério Público. Com o limite para
o
pagamento dos aposentados, celebram os controladores da
previdência complementar privada, mesmo sob a cortina de fumaça
da
obrigação de fundos de previdência pública,
porque interpretações já
começam a ser feitas em favor das seguradoras, todas ligadas a
bancos estrangeiros ou nacionais.
Atingidos foram os pequenos funcionários da ativa, que terão
aumentada a idade limite para passar à inatividade, os aposentados,
descontados em suas aposentadorias, e as viúvas e os órfãos,
sofrendo drástica redução em suas pensões.
Que o governo Fernando Henrique tivesse proposto essas maldades,
explicava-se. Afinal, foi um governo de traição nacional.
Por isso não
conseguiu aprovar a sua reforma e ainda perdeu a eleição.
Para
quem? Para o governo dos trabalhadores, depositário da indignação
da imensa maioria. A surpresa vem por conta da reforma em vias de
aprovação final: quem a propôs foi o grupo que a rejeitou
não faz
muito...
Correção necessária
O senador José Sarney ocupou a presidência do Senado para
fazer
uma retificação e passar uma reprimenda. Desmentiu haver
declarado
que o Senado referendaria a reforma da Previdência aprovada na
Câmara. Para ele, o Senado é independente e os senadores dispõem
do poder de alterar qualquer projeto.
A reprimenda de Sarney, ironicamente, foi para o "Jornal do Senado",
publicação editada às expensas e sob a direção
e responsabilidade da
mesa da casa. Porque o erro deveu-se à manchete da publicação
oficial. O "Jornal do Senado" atribuiu ao próprio Sarney a afirmação
de
que o texto a chegar da Câmara dos Deputados será aprovado
na
forma em que vier de lá. Isso seria restringir e humilhar os senadores,
transformando-os em mero instrumento referendatório das decisões
da Câmara.
O "Jornal do Senado" não errou. Apenas, antecipou-se ao que vai
acontecer...
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