FONTE: Jornal do Brasil - 07/01/04 Coluna da Dora Kramer (trecho) Inimigos, inimigos, negócios à parte Do café da manhã hoje entre os presidentes do PFL, Jorge Bornhausen, e do PDT, Leonel Brizola, resultará uma aliança com unidade de ação sem, necessariamente, contemplar convergência de pensamento. Trata-se, em resumo, de uma aproximação meramente pragmática com o objetivo de, a partir dos palanques das eleições de outubro próximo, facilitar a organização das forças de oposição. Como diz Bornhausen: ''O importante é o simbolismo, a sinalização que daremos aos diretórios dos partidos de oposição em todo o país, de que eles devem se entrosar.'' Portanto, que não se espere da conversa nada além de uma fotografia ilustrativa de um evento político inusitado, dados os antagonismos ideológicos entre o PFL e o PDT. Um, nacionalista e estatizante; outro, liberal e defensor da internacionalização político-econômica das nações. O PDT, de esquerda; o PFL, de direita, para usarmos a nomenclatura ainda sem substituição adequada. Ambos acreditam que dessa diferença pode sair um movimento bem-sucedido e amplo de atuação oposicionista, exatamente porque vai reunir públicos tão diferentes. Mas, e o eleitor de um e de outro, não poderá sentir-se envolvido num ato de oportunismo político ou, no mínimo, desconfortável na presença do inimigo? ''De jeito algum, porque não há componente ideológico nessa ação, meramente de resultados'', diz Bornhausen ressaltando, entre as conseqüências positivas que trará para a oposição, o aumento do tempo de televisão dos partidos no horário eleitoral gratuito. Por isso, a idéia é promover coligações formais em capitais de grande visibilidade. É claro que a vitória é a meta, mas tanto PDT quanto PFL contabilizam a importância de sucessos políticos. Mais ou menos como ocorre no Parlamento, onde quem precisa se preocupar com o resultado numérico das votações é o governo, enquanto à oposição interessa sobretudo o ganho político traduzido na capacidade de provocar estragos na situação. E, neste aspecto, há eleições fundamentais para ambos, sendo a mais óbvia a de São Paulo. Para, se não derrotar, mas pelo menos atrapalhar bastante a prefeita Marta Suplicy, PFL e PDT terão candidato conjunto, com cabeça de chapa provavelmente pefelista. Já no Rio Grande do Sul, por causa dessa articulação, o pré-candidato do PFL, deputado Onyx Lorenzoni, deve ceder lugar para o pedetista e ex-governador do Estado Alceu Collares. É evidente que nem Brizola nem Bornhausen pretendem enfrentar sozinhos a força governamental. Dão esse passo de hoje enquanto conversam também com o PSDB e com o PP. Em São Paulo, por exemplo, se o tucano José Serra resolvesse voltar atrás na decisão de não concorrer à prefeitura, teria o apoio do PDT e do PFL. Ao longo do processo de escolha de candidaturas em todos os partidos, eles esperam também conquistar a adesão daqueles aliados do PT no plano federal, a quem, acreditam, serão recusadas as cabeças de chapa nas localidades mais importantes. É claro que esse projeto que Brizola e Bornhausen deslancham, pretendendo funcionar como pólo de atração oposicionista, só dará certo se ambos se abstiverem de defender seus princípios. Caso contrário, no lugar de firmar uma aliança vão inaugurar uma casa de espetáculos de conflitos permanentes. Isso implica a despolitização dos discursos, o que não é problema para as cobras criadíssimas que hoje produzirão a melhor foto de oposição da temporada. Afinal, nesse campo da abstração dos sentimentos em nome da obtenção de resultados, muita gente boa já andou, recentemente, fazendo sacrifícios piores. _________________________________________________________ Voce quer um iGMail protegido contra vírus e spams? Clique aqui: http://www.igmailseguro.ig.com.br Ofertas imperdíveis! Link: http://www.americanas.com.br/ig/
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