21 de setembro de 2004
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PAÍS
21/09/2004 -
12h03m
Lula defende nova geografia mundial e
comercial
Ilimar Franco - O Globo
NOVA YORK - O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira, na
abertura da Assembléia Geral da ONU, a reforma do modelo de
desenvolvimento global, instituições internacionais democráticas e
criticou a visão daqueles países que concebem o combate ao terrorismo
apenas em termos militares. Num discurso em que foram citados o poeta
Frantz Fanon, o presidente americano Franklin Roosevelt e o profeta
Isaías, Lula defendeu mais ousadia para mudar o mundo, a união de todos no
combate à fome e à pobreza e disse que não se construirá a paz sem
enfrentar os problemas sociais e garantir o desenvolvimento para todos os
países.
- A situação exige, dos povos e de seus líderes, um novo
senso de responsabilidade individual e coletiva. Se queremos a paz,
devemos construí-la. Se queremos de fato eliminar a violência, é preciso
remover suas causas profundas com a mesma tenacidade com que enfrentamos
os agentes do ódio - disse o presidente Lula.
Sem fazer referência
direta aos Estados Unidos e à sua política de combate ao terrorismo, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que qualquer estratégia deve
combinar solidariedade, firmeza e estrito respeito ao Direito
Internacional. Ele citou como exemplo a ação do Brasil e de outros países
da América Latina que, convocados pela ONU, estão contribuindo com a
estabilização do Haiti. Sem referir-se diretamente à Venezuela, Lula disse
também que os episódios de instabilidade na América do Sul têm sido
resolvidos com respeito às instituições. Lula afirmou que o Brasil não
acredita na interferência em assuntos internos de outros países e nem na
omissão e na indiferença diante das dificuldades que atingem os países
vizinhos.
- Persistem graves problemas de segurança, pondo em
risco a estabilidade mundial. Não se vislumbra, por exemplo, melhora na
situação crítica do Oriente Médio. Neste, como em outros conflitos, a
comunidade internacional não pode aceitar que a violência - proveniente do
Estado ou de quaisquer grupos - se sobreponha ao diálogo democrático. O
povo palestino ainda está longe de alcançar a auto-determinação a que tem
direito. Sabemos que as causas da insegurança são complexas. O necessário
combate ao terrorismo não pode ser concebido apenas em termos militares -
afirmou o presidente Lula.
Para enfrentar os problemas mundiais, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu na Assembléia Geral da ONU a
necessidade de um desenvolvimento justo e sustentável e afirmou que, para
isso, é preciso uma mudança nos fluxos de financiamento dos organismos
internacionais. E criticou estes organismos, que foram criados para
encontrar soluções mas que por excessiva rigidez acabam se tornando parte
do problema.
O presidente Lula acrescentou que o Brasil, nas
negociações multilaterais, busca alcançar acordos justos e equitativos e
elogiou a última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC) pelos
avanços na eliminação de restrições abusivas, impostas pelos países ricos,
e que prejudicam os países em desenvolvimento. E lembrou que a articulação
dos países da América Latina, África e Ásia no G-20 foi relevante para que
na rodada de negociações de Doha fosse mantida a linha de liberalização do
comércio com justiça social. Lula defendeu também uma maior integração
entre os países do Sul.
- É fundamental continuar desenhando uma
nova geografia mundial e comercial, que, preservando as vitais relações
com os países desenvolvidos, crie sólidas pontes entre os países do Sul,
que por muito tempo permaneceram isolados uns dos outros - disse Lula.
A reunião de líderes mundiais contra a fome e a pobreza, realizada
na segunda-feira, e que reuniu 60 chefes de Estado e de governo, segundo o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ajudará a elevar a um novo patamar o
enfrentamento desta questão, criando melhores condições para cumprir as
Metas do Milênio, sobretudo quanto à erradicação da fome. Na parte final
de seu discurso, o presidente brasileiro afirmou que nenhuma instituição
pode substituir as Nações Unidas na missão de conduzir o mundo em torno de
objetivos comuns, entre os quais estão a promoção da paz e o
desenvolvimento sustentável. Neste contexto, Lula disse que somente o
Conselho de Segurança da ONU pode dar ligitimidade às ações no campo da
paz e da segurança internacionais, e que este organismo necessita de uma
reforma para se adequar à nova realidade mundial.
- Sua composição
(do Conselho de Segurança) deve adequar-se à realidade de hoje, e não
perpetuar aquela do pós-Segunda Guerra. Qualquer reforma que limite a uma
nova roupagem para a atual estrutura - se aumentar o número de membros
permanentes - é, com certeza, insuficiente - disse o presidente Lula.
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