Honestamente, pra mim isso tudo é "mimimi".

Quando eu estava na escola (uns 15 anos atrás), já começavam as discussões
sobre os alunos heróis e os preguiçosos: aqueles que tinham que ir à
biblioteca fazer uma pesquisa na Barsa e transcrever o texto à mão em uma
folha de papel almaço; e aqueles que tinham o Encarta instalada nos seus
Windows 95/98 e uma impressora jato-de-tinta à disposição. Afinal, como
seria o futuro da geração "copia-e-cola"?

Supondo toda essa história cuspida no blog como real e não fictícia, não
consigo imaginar um futuro mais formidável para meus filhos: um futuro em
que ninguém mais vai poder pegar em uma enciclopédia e achar que aquilo é,
por qualquer motivo, verdade absoluta. Pelo contrário, nossos filhos serão
"treinados" desde a escola primária a serem críticos, analisarem a
informação, checarem as fontes e questionarem tudo o que for apresentado a
eles, já que a maior parte da informação disponível a eles estará imprecisa.

Eu sou pesquisador há vários anos na USP (acho que ela se enquadra no
quesito "grande universidade pública") e tenho contato com vários
pesquisadores com "pós-doutorado a muito anos" (que os pesquisadores/amigos
me perdoem, mas "grande porcaria", como se só um título concedesse
autoridade a alguém), e fiquei pasmo ao ver que as eventuais contribuições
deles à Wikipédia eram de péssima qualidade: com erros, mal formatadas,
faziam uso da primeira pessoa e, obviamente, estavam sem fontes (a maioria
dos computadores dos professores na USP possuem IPs fixos, então não é
difícil caçar eventuais edições de um computador em particular). Alguns até
falavam mal da Wikipédia e do fato de terem sido revertidos, e sempre
diziam para os alunos "tomarem cuidado", tudo isso sem sequer tentar
entender melhor o projeto e como ele funciona. Achavam que a Wikipédia era
terra de ninguém e o fato de pessoas "não tituladas" desfazerem suas
edições uma afronta, um rebaixamento à posição deles. Enfim, a livre
docência não torna ninguém livre de ignorância.

Por outro lado, quem afirma que a Wiki-EN é, de qualquer forma, melhor
gerenciada que a Wiki-PT, não deve mais duvidar disso. O inglês é a língua
mais ensinada nas escolas, é a língua dos negócios, etc, etc, etc. Logo,
nada mais normal que a de lá seja maior e mais desenvolvida que a daqui.
Mas, de forma alguma, isso justifica dizer que lá funciona e aqui não, pois
a metodologia é e sempre foi a mesma.

---
Diego Queiroz

2015-05-05 20:41 GMT-03:00 André Z. D. A. <andrezd...@yandex.com>:

> Não duvido que seja verdade. E até tentei encontrar artigos potenciais
> para serem o exemplo claro que a crônica (com sua permissão, para o nome)
> relata.
>
> Tive edições totalmente desfeitas várias vezes (na conta que tenho
> atualmente, associada a esse endereço, e outras muitas e muitas edições
> anônimas que fiz até a cerca de 10 anos atrás, quando comecei a contribuir
> com mais frequência, e que faço até hoje). Ao invés de serem melhoradas,
> apontadas ou questionadas, as edições simplesmente são apagadas.
>
> Recentemente, um amigo me contou que um professor, já com pós doutorado a
> muitos anos, contou que teve as suas edições apagadas na Wikipédia em
> português. Edições que ele fez de artigos de um assunto que ensina
> graduação e pós-graduação, e no qual também fez pesquisas importantes. É um
> professor de uma grande universidade pública. E no fim, a lição que ele
> deixou é simples: "consultem sempre a Wikipédia em inglês, pois a daqui
> comete os erros mais básicos, com as ideias mais fáceis das coisas, e não
> evolui".
>
> E, embora muito insatisfeito e triste de dizer isso, eu tenho que
> concordar com esse professor. A receptividade e construtividade que acho às
> edições feitas (falo por mim!) na Wikipédia em inglês e em algumas de
> outras línguas (embora muito poucas) que às vezes edito, é na maioria das
> vezes muito melhor que as da nossa - muito.
>
> André
>
>
>
> > Tá na seção "literatura" do site, pela escrita é um romance, mas não
> deixa de ter um viés realístico.
> >
> > Em 4 de maio de 2015 14:47, Luiz Augusto <lugu...@gmail.com> escreveu:
> >
> >> Na verdade me soa como um texto ficcional
> >>
> >> Em 04/05/2015 13:58, "Victor de Andrade Lopes" <victordalo...@gmail.com>
> escreveu:
> >>
> >>> Não consegui entender de qual artigo exatamente a matéria trata...
> >>>
> >>> Em 3 de maio de 2015 21:38, Marco Aureliopc <marcoaureli...@gmail.com>
> escreveu:
> >>>
> >>>>
> http://obviousmag.org/bacalhau_sacopenapa/2015/04/wikipedia-a-enciclopedia-de-luta-livre.html
> >>>>
> >>>> Wikipédia, a enciclopédia de luta livre
> >>>>
> >>>> publicado em literatura por Luis de Freitas Branco
> >>>>
> >>>> A morte do escritor mais conceituado da cidade revela que no ringue
> digital só contam os golpes baixos
> >>>>
> >>>> Guilherme era o escritor mais conceituado da sua cidade. Para muitos,
> o
> >>>> principal favorito a renovar um lugar na Academia Brasileira de
> Letras,
> >>>> essa organização conceituada, antigo complô de Machado de Assis para
> >>>> invadir o Brasil. Apesar da corrida pender para seu lado, Guilherme
> >>>> cometeu um erro básico, morreu, impedindo uma tomada de posse. Foi um
> >>>> choque na cidade, sobretudo para Fred, o amigo e biógrafo oficial do
> >>>> escritor, que se estendeu num longo discurso de elogios, capa do
> >>>> principal diário. A morte de Guilherme coincidiu com o fim das últimas
> >>>> entrevistas que deu ao Fred, que preparava um novo lançamento
> >>>> biográfico. Aproveitando a morte do amigo, Fred decide porque não, uma
> >>>> biografia mais picante. Testando o terreno, começa pela Wikipédia,
> sendo
> >>>> que qualquer das formas, o texto da página já era da sua autoria.
> >>>> Atualiza o falecimento, com detalhes calorosos do funeral que comoveu
> a
> >>>> cidade. Passa para a seção de vida privada e acrescenta um segredo
> que o
> >>>> escritor confidenciou. Ele tinha uma amante. Manteve essa mulher toda
> a
> >>>> vida, com apartamento próprio em Jacarepaguá, enquanto o escritor
> >>>> estava casado, no centro da cidade.
> >>>>
> >>>> Os herdeiros sabiam dessa amante e decidem retaliar, negar o caso, não
> >>>> fosse essa mulher decidir gozar parte dos espólios. Na Wikipédia
> apagam
> >>>> as novidades, mantendo apenas o estado atual do escritor, falecido. Na
> >>>> seção de vida privada deixam também o seu cunho, escrevendo que ele
> >>>> amava loucamente a mulher. O biógrafo, atento internauta, não tarda a
> >>>> assistir em direto à mudança na página, apagando o escárnio, que ele
> >>>> sabia que era estratégia dos herdeiros. Na sala carregada de livros
> >>>> autografados por Guilherme, condena os malditos dos herdeiros.
> >>>> Fascistas. Venezuelanos. Cubanos. Malditos. Fred não ia certamente
> >>>> deixar o pensamento da imprensa livre ser assim espezinhado, ia
> >>>> responder na mesma moeda, na provocação. Furioso, escreve que
> Guilherme
> >>>> além de ter uma amante durante toda a vida, ainda escondia uma mulata
> da
> >>>> favela, que tinha vergonha de admitir como namorada. O escritor tinha
> >>>> muitas qualidades, mas defeitos também, sendo o mais célebre um
> racismo
> >>>> fervoroso, impedindo que esta invenção do biógrafo fosse verdade.
> >>>>
> >>>> “Mulata!”, desesperam todos os herdeiros em uníssono, acompanhando a
> retaliação do inimigo. “Mentir não.”
> >>>>
> >>>> Apagam logo as calúnias, sublinhando o amor que ele tinha pela mulher,
> >>>> guardando mesmo a virgindade para o casamento, como manda a fé cristã,
> >>>> doutrina que era devoto.
> >>>>
> >>>> “Fé cristã!”, ri irônico Fred. “É o desespero”, condena, conhecendo
> >>>> pessoalmente o ódio do escritor a todas as religiões do planeta.
> >>>>
> >>>> Com os dedos aos saltos não perde tempo, teclando ao lado do nome
> >>>> Guilherme um epíteto, “O Ateu”. Segundo o novo texto ganhou a alcunha
> >>>> quando deu um tapa no bispo da cidade. Volta a copiar o texto da
> amante e
> >>>> da mulata da favela, acrescentando em grande destaque, uma relação
> >>>> meramente sexual com um padre da Candelária. Tudo acontecia nas
> cabinas
> >>>> de confissão, explica. Os herdeiros não estremecem, suam de excitação
> e
> >>>> voltam ao ataque, dando realce ao amor pela mulher, admitindo mesmo
> que
> >>>> ele na verdade era castrado desde criança. Ao lado do nome fazem o seu
> >>>> epíteto, “O Eunuco”. Antes mesmo de ler as novidades, Fred estava
> pronto
> >>>> para o contra-ataque, escrevendo como Guilherme era um conhecido
> >>>> pedófilo e a grande influência na escrita dele era Lewis Carrol.
> >>>> Especialmente as fotografias do inglês. Os herdeiros não entenderam a
> >>>> referência, mas apagam mesmo assim, acrescentando a sua versão,
> >>>> sucedendo uma imediata resposta do biógrafo e outra correção dos
> >>>> herdeiros. A brincadeira atingiu os seus limites e a Wikipédia decidiu
> >>>> na gerência interromper qualquer futura mudança na página, congelando
> as
> >>>> ações dos dois lados, estacionando no meio da retaliação mútua.
> >>>>
> >>>> “Além de ser um dos nossos representantes mais famosos na
> >>>> literatura”, continua Gisele, terminando a sua apresentação na sala de
> >>>> aula. “Era também uma figura muito controversa”, acrescenta, se
> >>>> preparando para ler de seguida a parte gramaticalmente mais complicada
> >>>> da apresentação. “Era um pedófilo famoso, apesar de castrado desde
> >>>> criança. Quando ficou cego e amputado das mãos, também em criança,
> >>>> deixou de ter qualquer pensamento ou observação sexual. No entanto, é
> >>>> sabido que ele usava os cotos para violar as domésticas do prédio onde
> >>>> morava”. Gisele não falou das várias amantes e do amor condicional
> com a
> >>>> mulher, mas achou essa informação menos relevante, tendo em conta que
> >>>> era apenas uma apresentação de dez minutos.
> >>>>
> >>>> “Menina Gisele! Saia já da sala! Ordinária!”, reage a professora de
> português, surpreendida com a provocação.
> >>>>
> >>>> “Professora fiz toda a consulta na Wikipédia, não estou mentindo”,
> >>>> explica sem sair da sala, prendendo calmamente o cabelo no lenço da
> >>>> cabeça.
> >>>>
> >>>> “Vamos ver”, sorri a professora, determinada a humilhar a aluna.
> >>>>
> >>>> Liga o projetor, que faz de espelho para o visor do computador na sala
> >>>> de aula. Vai à página de Guilherme, na Wikipédia. Bem, acho que é
> >>>> escusado contar que a Gilete teve a melhor nota da turma. Afinal foi
> uma
> >>>> excelente apresentação, sem pontapés na gramática. O caixão de
> >>>> Guilherme, esse estava tudo chutado, de cima abaixo.
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