*JOSÉ ROBERTO TORERO

Ronaldo, o brahmeiro *

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*Comparar as heroicas voltas de Ronaldo ao futebol com o suor da cerveja é
chamar o espectador de estúpido *
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BEBERRAZ leitor, alcoofilista leitora, vocês viram o comercial do Ronaldo? O
comercial da Brahma?

Para quem não viu, faço um resumo: ele aparece driblando vários obstáculos,
faz um trocadilho entre o suor dele e o suor da cerveja e acaba dizendo, com
um copo na mão, que é um "brahmeiro".

Como assim? Um atleta importante fazendo comercial de cerveja? Ou pior, um
atleta ainda gordo, em recuperação, fazendo comercial de cerveja? Não
entendi. E não entendi porque me parece uma propaganda ruim para os dois.

Para a cerveja, porque eu, vendo o comercial, penso: "Poxa, cerveja engorda
pra caramba!". Para o jogador, porque mostra que ele não é um atleta sério.
É um cara que bebe mesmo ainda estando longe da sua melhor forma.

A Brahma e Ronaldo já estiveram juntos em outros comerciais.

É uma parceria antiga, desde que ele tinha 17 anos. Mas ela já foi mais
sutil e inteligente.

Lembro que houve uma propaganda chamada "Guerreiro" em que apenas aparecia o
rosto do jogador e havia um bom texto ao fundo.

Outra trazia Ronaldo como um toureiro, driblando um touro várias vezes até
que o vencia e abria a garrafa nos chifres do animal.

Mas este novo comercial está bem abaixo dos anteriores.

*Agora há uma ligação direta entre futebol e álcool. E obviamente os dois
não combinam*.

 A campanha ainda teve o azar de vir logo depois do anúncio de aposentadoria
(talvez compulsória) de Adriano, que tem seu nome associado a problemas com
bebidas.

Estou longe de ser uma virgem vestal, defensor da pureza absoluta ou
abstêmio radical.

Até sou a favor da liberação de drogas leves (o que existe em parte, já que
as bebidas alcoólicas são drogas leves), mas jogador fazer propaganda
explícita de cerveja não dá. Passa da conta.

A legislação permite que as propagandas de bebidas abaixo de 13 graus GL
(Gay-Lussac) sejam exibidas em qualquer horário. Por isso é que vemos
comerciais de cervejas e dessas vodkas ice a toda hora. Porém, em maio de
2007, Lula assinou um decreto que classificou como alcoólica toda bebida com
mais de 0,5 grau GL. Só que, inexplicavelmente, esse decreto não restringiu
a propaganda de cerveja.

Voltando ao comercial, que foi criado pela agência África, no texto o
atacante afirma que tem orgulho de "cair e se levantar". O redator não devia
estar sóbrio quando o escreveu. É uma frase muito infeliz. Uma piada pronta.
Tanto que, na mesma hora, o amigo com quem eu via o jogo comentou: "Cair e
se levantar não é grande coisa. Qualquer bêbado consegue isso".

E comparar o esforço heroico de Ronaldo para voltar três vezes ao futebol
com o suor da cerveja é chamar o espectador de estúpido. É fazer troça da
fantástica recuperação do jogador, que deveria falar "Eu sou artilheiro" e
não "Eu sou brahmeiro".

A publicidade brasileira, que já foi das melhores do mundo, vem piorando nos
últimos anos. Mas, agora, se superou.

Acho que, pelo menos, para desencargo de consciência, esta nova propaganda
deveria vir com um daqueles avisos no final, algo do tipo: "O Ministério da
Saúde adverte: Cerveja dá barriga e faz você confundir mulher com
similares".

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