Prezado Prof. Sório,

Tiveram os presentes ao Encontro de Recife uma oportunidade bastante 
interessante de acompanhar a apresentação, entre outras, de 3 experiencias com 
o pastoreio rotacionado com abordagens distintas: 

a) A do Dr. Getulio Marcantonio, no Rio Grande do Sul, com rebanho bubalino 
destinado a corte, em Pastoreio Racional Voisin,  sem utilização de 
fertilizantes soluveis onde vem obtendo lotações expressivas relativamente às 
exploraçõs convencionais da região e baixos custos de produção, a flutuação 
sazonal é contornada com uso de feno e, lotação variável (permissível nas 
explorações de corte). 
b) Uma segunda experiencia, veio do outro extremo do país, na exploração do 
criador Francisco Veloso, no Rio Grande do Norte, assessorado pelo Dr. André 
Sório, onde mantém uma exploração bubalina dedicada à produção leiteira em 
pastoreio rotacionado em uma região semi-árida, onde complementa a fertilização 
do solo com esterco de galinha oriundo de sua granja de poedeiras, também 
apresentou resultados economicos bastante expressivos e lotações crescentes e a 
flutuação sazonal basicamente é atendida com a utilização de cana de açucar.
c) Uma terceira experiencia foi a minha própria, numa pequena propriedade em 
São Paulo, também destinada à exploração leiteira, em solos arenosos e pouco 
férteis em que o rebanho é mantido em pastoreio rotacionado com fertilização 
mineral a fim de atender uma lotação "artificialmente" elevada (cerca de 6 
UA/ha) e que também apresentava resultados econômicos, se não expressivos, ao 
menos positivos e para as flutuações sazonais são utilizados tanto a cana de 
açucar quanto a silagem de gramíneas.

Num horizonte de curto prazo, o que se observou foi que as tres abordagens vem 
atendendo, ao menos em parte, a expectativa econômica de seus proprietários. No 
que pese suas experimentadas observações sobre a "insustentabilidade" de médio 
e longo prazos de um manejo como o que pratico, gostaria de apresentar para 
suas considerações alguns dos princípios que venho utilizando que me levaram a 
esta escolha, apesar de tratar-se de um relato longo e maçante, pelo que 
antecipadamente peço desculpas aos integrantes da lista.

As terras em nossa região, apesar de sua baixa fertilidade tem um custo 
bastante elevado, tonando-se pois um insumo com significativo peso no custo de 
nossa produção, o que nos obriga a tentar "dilui-lo" numa maior produtividade 
por área desde que os artifícios utilizados para tanto permitam contribuições 
marginais ao processo. Desde o início de nosso ultimo projeto (há 5 anos), em 
concordância com suas previsões, já vimos a uréia, por exemplo, ter seu preço 
triplicado (particularmente no período em que antecedeu a última eleição 
presidencial, com uma disparada nas cotações do dolar) enquanto que o produto 
(leite), não chegou nem a duplicar seu preço. Mesmo assim, nossa avaliação 
econômica do custo x benefício de seu uso nos parece ainda positiva.

Nosso raciocício foi o seguinte: a lotação permissível em nossa região se situa 
em torno de 0,7-0,8 UA/ha, o que, nos 16 ha destinados à produção leiteira 
(mais 6-7 ha para forrageiras "conservadas" para o período desfavorável), não 
permitiria um rebanho com mais de 14-15 matrizes, cuja produção seria 
insuficiente para o custeio da propriedade. Experiencias exitosas com o PRV 
apontam lotações de até 2,5 UA/ha em propriedades após longo período de 
utilização como bem destacada a experiencio do Dr. Nilo Romero. Ainda assim, o 
rebanho possível atingiria cerca de 38-40 matrizes, o que também  entendemos 
insuficiente. Para a elevação (teórica) para um rebanho de 65-70 matrizes, 
calculamos que mesmo com a utilização de fertilizantes solúveis a custos atuais 
elevados, o aumento na escala permitiria  significativa margem de contribuição.

Além do equilíbrio econômico, entendiamos que o "ciclo produtivo" da pastagem, 
com uma carga elevada, resultaria em uma maior quantidade de palhas, pela maior 
pordução das pastagens e de esterco, produzido pelo maior numero de animais, o 
que deveria pois contribuir para um aumento expressivo de matéria orgânica na 
mesma e, a médio prazo, nos níveis de fertilidade do solo, de forma muito mais 
rápida do que se mantivessemos neste período menor lotação de animais. Após 5 
anos do projeto, pudemos observar que, quimicamente, o solo apresentou uma 
expressiva variação, com níveis de nutrientes considerados "elevados" pelos 
padrões apontados na literatura. Paralelamente, os níveis de matéria orgânica 
vem se elevando à razão de 0,3% ao ano, saindo dos originais 1,0% para cerca de 
2,4 a 2,8% de MO no solo sob pastagens. Algumas plantas indicadoras como a 
beldroega ( típica de solo com elevado teor de matéria orgânica) começam a 
surgir, e outras, como o rabo de burro (sub solo compactado), e berneira (solos 
pobres em calcio), começam a desaparecer, apontando que uma expressiva 
transformação do solo vem se operando. Os "trilhos" de animais nas pastagens 
vem desaparecendo, sendo cobertos por palhas e gramíneas, o solo coberto tem 
permitido uma menor carreação de areia para os pontos baixos, as bostas 
"desaparecem" mais rapidamente, com o aparecimento "espontâneo" de um maior 
número de besouros rola bosta e maior número de "animais" no solo, visíveis até 
mesmo a olho nu.

No ultimo ano, procuramos substituir parte da fertilização química por cama de 
poedeiras, mas o resultado imediato foi pobre, posto que seu ciclo de 
incorporação é relativamente longo e passamos apertado com a produção das 
pastagens. De qualquer forma, vimos utilizando doses de fertilizantes baseadas 
no volume extraído das pastagens e, neste ano, já estamos levando em 
consideração o volume de dejetos deixado em cada ano pelos animais (posto que 
boa parte dele, passado 5 anos, já deveria estar sendo restituido às plantas) 
e, com isso, reduzindo sigificativamente o aporte de fertilizantes químicos, 
sem comprometer o suporte. Entendemos que, com esta prática, estaríamos a médio 
prazo elevando a fertilidade de nosso solo e, no caso dos custos de insumos 
externos tornarem-se anti-econômicos, nos restaria um solo com um nível de 
produtividade estabilizado num patamar superior ao encontrado quando da 
aquisição da propriedade.

Como suplementamos nossos animais por enterdermos que a mesma tem viabilidade 
econômica em nossa condições e com o potencial produtivo de nosso rebanho, 
temos consequentemente dejetos "mais ricos" o que, acreditamos, é um fator 
adicional de fertilização de nosso solo. Assim, nos cerca de 200 dias de 
pastoreio exclusivo, acreditamos estar distribuindo nas pastagens cerca de 
35-40 t de esterco/ha com as lotações utilizadas que se reduziriam a menos de 
metade com uma outra estratégia de manejo e, no período de menor oferta, quando 
passam boa parte do tempo estabuladas, recolhemos cerca de 300-400 t de esterco 
que retornamos a nossas forrageiras de corte.

Quanto à silagem, em nosso caso, parece-nos uma alternativa viável posto que a 
fenação é muito difícial (topografia, chuvas no período de colheita, custos de 
equipamentos, etc.) e o uso exclusivo de cana não atende as necessidades 
nutricionais de nosso rebanho. Após o corte, reservamos a área com forrageiras 
para ampliar a área de rotação de nossas novilhas.

Otavio



 
  ----- Original Message ----- 
  From: Sorio 
  To: bufalos@yahoogrupos.com.br 
  Sent: Wednesday, September 21, 2005 10:13 AM
  Subject: [bufalos] Apresentação de Luciano Kaefer


  Prezado Luciano
  Agrada-me muito que sejas mais um criador de búfalos adepto do Pastoreio 
Voisin, consistente teoria no manejo de pastagens, consusbstanciada em cinco 
lapidares livros e em prática vitoriosa em diversos tipos de clima e solo deste 
nosso imenso, fascinante e contraditório País. E a dizer que com tantos e 
tantos relatos de casos de êxito, as academias e as universidades não tenham 
dispensado ao Voisin mais do que perfuntórias "frases de cortesia", quando não 
combate implacável e argumentos pouco convincentes. Se querem provar o que 
digo, dirijam-se à Embrapa e peçam informações sobre o Pastoreio Voisin. Tenho 
uma pasta exclusiva de opiniões guardadas para uso em meu próximo livro, 
abastecida por consulentes perplexos, que tinham prática muito diferente das 
respostas que recebiam. Não há de ser nada, Per aspra ad astra!, (Pelas 
asperezas, aos astros!) como me ensinava meu professor de latim. Não se chega 
aos astros senão ornado da virtude da persevernça salvadora.
  Pelo que relatas, teus problemas de manejo decorrem de tempos insuficientes 
de repouso, ou seja, não estás a observar com o devido rigor, a sagrada Lei do 
Repouso, a primeira que Voisin cunhou para a prática do Pastoreio Racional. É 
possível que estejas a trabalhar com exíguo número de potreiros (piquetes, para 
os companheiros da regiões tropicais), o que te obriga a voltar com os animais 
a uma parcela em que as plntas ainda não completaram seu crescimento. Em outras 
palavras, estás a esgotar as substâncias de reserva das plantas componentes da 
pastagem e, com isso, a redizir suas capacidades de produção de  massa verde. 
Como já nos ensinava o abade Rozier, no século 18, só com grande número de 
parcelas, poderemos alcançar flexibilidade no manejo de nossas pastagens. 
Desculpa-me o oportunismo, mas tudo o que te relato em síntese, encontras com 
riqueza de detalhes no livro que tive a ousadia de escrever e a ventura de te 
enviar.
  Diante da queda dos preços do boi gordo, considero a silagem para búfalos e 
bovinos de carne uma alternativa com pequenas chances de viabilização 
econômico-financeira. Se tens disponível por baixo preço, massa de soja e 
resíduos de cervejaria podem ser interessantes recursos para o que sabiamente 
Voisin denominou com os lindos termos "compensação das flutuações estacionais 
do crescimento dos pastos". 
  Tomo a liberdade de lembrar-te que o preço é regulado pelo mercado, na sempre 
controvertida relação ofertaxprocura e o custo é conseqüência do processo 
produtivo desenvolvido no interior da propriedade. Sobre o primeiro, têm os 
produtores nula ou muito pequena influência; sobre o segundo, têm total 
autoridade e podem agir eficientemente se fizerem escolhas tecnológicas 
corretas e apropriadas ao momento econômico em que vivem. Com a elevação dos 
preços do barril de petróleo no mercado iunternacional, prevê-se que a uréia 
agrícola também terá elevação de preços, o que afetará os custos das lavouras e 
das pastagens conduzidas com base na aplicação do produto toda a vez que os 
animais deixem as parcelas, o dito "pastejo rotacionado".  Exatamente isso foi 
o que disse na 2a.feira passada a meus alunos de Agronomia da UPF, perplexos 
com as incertezas que se apresentam para a cultura de grãos da safra prestes a 
ser semeada aqui no Rio Grande do Sul, em especial o milho. 
  Envio-te um caloroso abraço e regozijo-me com êxitos apresentados com tanto 
entusiasmo à consideração dessa edificante lista, que conta com homens e 
mulheres da mais reta intenção no desejo de ver um Brasil próspero e feliz.
  Humberto Sorio

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