*Senhores,*
Boa noite, e saudações pinguianas. Peço a todos 5 minutinhos de atenção
para um desabafo sobre a minha participação com o mundo opensource.
Hoje eu estava refletindo sobre algumas coisas que vem acontecendo e
resolvi escrever esse texto.
Muitos já me conhecem, para outros eu sou um mero desconhecido,
entusiasta de Linux e soluções OpenSource no geral. Meu nome é Luiz
Henrique Marques Fagundes, tenho 35 anos de idade e sou mantenedor do
Projeto Aprendendo Linux (/http://aprendendolinux.com/). Esse projeto
existe desde o dia 17 de Julho de 2008.
Como todo projeto que se inicia, comecei de maneira simples. Lembro do
computador que hospedava o site, um AMD K6-II 500 com 64 MB de RAM,
rodando um Debian 4, vulgo Etch, com o WordPress ainda nas primeiras
versões.
Lembro que tinha um Link Velox ADSL de 1MB e eu usava um serviço de DNS
dinâmico, se eu bem me recordo o Duc No-IP e apontava os CNAME lá onde
eu registrei o domínio.
No começo era só uma experiência, tipo a ideia era ir registrando e
compartilhando tudo que eu ia aprendendo. Assim tudo estaria
documentado. O projeto foi crescendo e me vi na necessidade de melhorar,
pois o então “servidor” não estava aguentando a carga.
Durante essa minha expectativa, recebi um convite para administrar uma
rede e cuidar do suporte de TI em uma empresa de Telecom, na qual eu
pude “pegar uma carona” na infra. Conversando com os responsáveis,
disponibilizaram para o meu projeto, uma máquina com 2GB de RAM, 160GB
de disco e um IP Público estático. Para os dias de hoje, isso pode nem
significar nada, mas na época, esses recursos me deixaram muito feliz.
Trabalhei por quase 5 anos nessa empresa e durante esse tempo o meu
projeto ficou seguro, estável e satisfatório. Depois de 5 anos a empresa
se desfez e eu tive que sair… Usei uma parte do dinheiro da minha
rescisão para fazer um Upgrade no meu computador Desktop e o que sobrou
dele, eu montei uma outra máquina que, seria então o servidor que daria
continuidade ao Projeto do Portal Aprendendo Linux (ainda consegui
comprar um Nobreak pra ele).
É preciso mencionar que, junto com a Infra do projeto, minha vida mudou
um pouco também. Nesse período me casei, me mudei, tornei-me um chefe de
família com contas pra pagar, responsabilidades para arcar (não que eu
não tinha antes, mas com o casamento as responsabilidades aumentam) e etc.
Na minha nova casa, eu pude contar com a GVT que mesmo com ADLS, me
entregava um Link de 15 Megas com IP FIXO (por mais R$ 50,00) com
reverso cadastrado e tudo. E assim o projeto continuou andando.
Durante esse tempo, eu fiz um vídeo pedindo doações (com intenção de
melhorar o projeto, comprar hardware e ajudar a pagar o link de
internet) e divulguei insistentemente em todas as comunidades que
frequento e colaboro. Não consegui arrecadar nem um mísero centavo.
Então a crise da eletricidade começou a dar sinais que ia tomar conta do
Brasil e a minha conta de luz foi encarecendo e cada vezes estava mais
difícil manter a máquina ligada 24 horas por dia. Durante tudo isso, as
VPS (Virtual Private Server) começaram a se popularizar. Como o Dólar
ainda custava aproximadamente R$ 2,00 (dois reais), comecei pensar na
possibilidade de tirar o servidor daqui de casa, colocar todos os
serviços na nuvem. Aí eu conheci a DigitalOcean. Tiver a oportunidade de
testar os serviços, senti firmeza, estabilidade e confiança e então,
resolvi migrar os serviços para uma VPS de $20,00 (vinte dólares) e
desligar a máquina aqui em casa. O primeiro ano foi financeiramente
satisfatório, pois com o site hospedado lá, eu pude desligar a minha
máquina aqui em casa e entregar o IP fixo, o que me gerou uma boa economia.
Durante tudo isso, graças a minha obesidade, passei por alguns problemas
relacionado a saúde. Tive que ser submetido a cirurgia de gastroplastia
(redução de estomago) para sanar aos problemas (para saber
detalhadamente sobre esse caso, acesse aqui: /http://bit.ly/1TXqvUB/).
Mesmo debilitado, em período de recuperação, continuei tocando o projeto.
Depois que me recuperei, recebi um convite para administrar a rede de
uma empresa de serigrafia, aqui na zona norte do Rio de Janeiro. Então
surgiu a necessidade de fazer uma segunda cirurgia, (abdominoplastia +
coxas) para remover os excessos de pele que ficaram, em consequência da
obesidade. Continuei trabalhando normalmente durante o período
pré-operatório e quando estava faltando uma semana para a cirurgia, a
empresa me demitiu alegando problemas financeiros por conta da crise.
Conclusão: Eu tive que “fritar” todo o dinheiro da minha rescisão com
medicamentos, cintas, injeções subcutâneas e tudo que envolve o
pós-operatório. Foram períodos difíceis pra mim, pois eu tinha que
dormir sentado, não dava para esticar o corpo e não tinha grana alugar
uma cama de hospital, que é reclinável.
Para piorar as coisas, a presidente incompetente e esse governo
corru*PT*o resolveram alterar as leis trabalhistas, e, como eu tinha
apenas 8 meses de empresa, não tive direito a receber o seguro-desemprego.
Foram tempos difíceis, sem ter de onde tirar dinheiro, nós (minha esposa
e eu) ficamos vivendo da ajuda dos meus sogros e dos meus pais. Eu até
recebia convites para trabalhar, mas não conseguia nem ficar em pé,
devido aos cortes da cirurgia.
Enfim, me recuperei e na mesma semana da alta médica recebi um convite
para trabalhar em uma nova empresa (na qual me encontro agora). Ainda
estou muito endividado, pagando o empréstimo que peguei no banco (ainda
por conta da cirurgia e sustento) e ao cheque especial, mas estou vivendo.
Agora, falando já dos dias atuais, todos estão vendo a crise financeira
que o país se encontra e por causa dessa crise, o dólar está batendo
quase R$ 4,00 (quatro reais), ou seja, o dobro do que eu pagava na época
que eu resolvi migrar os serviços para nuvem.
E por causa disso tudo que relatei está complicado manter o projeto,
pois ainda tenho muitas dívidas e nenhuma ajuda por parte das
comunidades envolvidas. Estou cogitando trazer os serviços para a minha
casa novamente, pois com as contas que fiz, mesmo tendo conta de luz com
o preço caro, ainda ficaria mais barato do que manter o projeto nos EUA.
Faltaria apenas uma máquina descente pra isso. Eu cheguei a pesquisar e
acho que a máquina ideal para esse projeto seria o servidor HP ISS ML110
(/http://bit.ly/1XDErRF/), porém eu não tenho menor condição de fazer
essa aquisição.
Sabe eu vou acabar tendo que abandonar o projeto e isso me chateia
bastante. O que me revolta é que sempre tentei participar ativamente,
compartilhar conhecimento, dar dica, tirar dúvidas sempre participando
ativamente nas comunidades. Recebo elogios, felicitações, tapinhas nas
costas e etc. Mas na hora de colaborar efetivamente com o projeto,
ninguém quer. É tenso.
Acho que se cada um fizesse uma doação de R$10,00, poderíamos fazer uma
“vaquinha”, comprar essa máquina e continuar com o projeto. Mas
infelizmente, quando falamos de dinheiro, ninguém se coça. É chato
porque mesmo quando não estou trabalhando no projeto, minha mente fica
maquinando várias ideias novas para melhorar o projeto, contemplar
entusiastas e etc, mas eu acabo desanimando porque não tenho infra
estrutura para fazer minhas experiências e sei que não vou ter nenhum
retorno.
Estou cansado e chateado. Estou começando a acreditar nas pessoas que me
falam que eu sou otário, compartilhando o meu conhecimento de graça, sem
ganhar nada. No fundo elas tem razão.
Se você teve paciência para ler até aqui, obrigado pela sua atenção.
Atenciosamente,
Luiz Henrique Marques Fagundes
henri...@linuxadmin.com.br