(leia mais sobre o assunto no site em epígrafe)
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HOMICÍDIOS NA UTI
Zero Hora - 05.04.2005
p. 19
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"O que imaginávamos impossível está acontecendo aqui mesmo,
em nossa cidade: estão matando nas UTIs"

CLÁUDIO BRITO
 
Jornalista, promotor de Justiça aposentado
 

Chocante. Terrível. Assustador. É o mínimo a dizer, depois da confissão de médicos que praticam a eutanásia em Porto Alegre.  Contaram aos repórteres Andrei Netto e Humberto Trezzi, de Zero Hora, quais são os critérios usados por eles na hora de sustar o tratamento de quem agoniza.
 
 
Confessaram homicídios com a clareza que jamais vi em mais de 20 anos no Tribunal do Júri. Nunca um réu foi tão direto quanto o médico que admitiu ter dado, algumas vezes, um "empurrãozinho na natureza". Nunca um matador tão frio chegou a ser réu, o que lamento.
 
 
Outro diz dormir tranqüilo, informando que se 10 colegas seus forem perguntados, 10 responderão que sim, aprovam e praticam a abreviação da morte nas Unidades de Tratamento Intensivo ou nas casas dos pacientes. E nem se fale em limitação de tratamento ou ajuda pela retirada parcial de medicamentos ou procedimentos típicos do atendimento por intensivistas. Os entrevistados contam em detalhes o que fazem para matar.
 

Um descreve a mistura de morfina ao soro, em conta-gotas, para levar o doente à morte no cumprimento de um roteiro macabro, que vai da sonolência  ao coma e à parada respiratória. Outros casos resolveram omitindo socorro a pessoas com parada cardíaca.
 

Todos devemos temer um mal que nos ponha inconscientes ou distantes de familiares, pois, na ambulância, no corredor do hospital, ou na UTI, integraremos uma lista de seres descartáveis, nem que seja para justificar o pensamento de um desses profissionais ouvidos pelo jornal, que aceita jurar como Hipócrates, mas professa outros credos, escusando-se com a alegação de que leis e códigos de ética são ultrapassados pela realidade.  Talvez tenha razão: não há lei e direito que resistam a uma realidade de vilania e desprezo, desenhada justamente por aqueles que, vestidos como anjos, são demônios da morte e deveriam lutar pela vida.
 

Se me tiram a esperança nos hospitais, volto meu clamor à Polícia Judiciária, ao Ministério Público e à Justiça, para que cumpram o dever de apurar os crimes revelados. Os órgãos controladores da profissão, como Amrigs, Cremers e Sindicato Médico imagino tomarão as mesmas providências, para acabar com a desfaçatez de quem primeiro diz ter matado 20 ou 30 vezes, telefonando depois ao repórter para uma correção: talvez tenham sido 10 ou 11 casos. Esclareço que tenho posição favorável ao direito de alguém
escolher morrer sem sofrimento, desde que induvidosa a manifestação de vontade e apenas por meio da suspensão de medidas terapêuticas. Nunca matando, mas deixando morrer. Por deliberação antecipada do paciente, jamais por decisão do médico assistente. E, em qualquer caso, de acordo com a lei. Só com a lei, que nenhum médico substitui. O que imaginávamos impossível está acontecendo aqui mesmo, em nossa cidade: estão matando nas UTIs.

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