para os que acreditam em PAC, em dilma e pré-sal

   *ENTREVISTA - ''O pré-sal viola a lei ambiental de hoje''*


  Marcos Coronato


O geógrafo Jules Soto defende que trabalhar com os padrões atuais não
bastará para a Petrobras fazer o que promete


O alerta parece coisa de “ecolouco”, admite o professor de oceanografia
Jules Soto, da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), em Santa Catarina.
Ele pede que a Petrobras reavalie seus modelos e busque contribuição externa
para elevar seu rigor ambiental a um novo patamar, muito superior ao que se
exige atualmente no setor petrolífero. Ao mesmo tempo, Soto lembra que a
legislação ambiental atual já poderá dificultar bastante as atividades
previstas pelo governo, tanto da operação no leito oceânico (onde haveria
ecossistemas de corais de profundidade ainda não estudados) quanto na
ampliação das refinarias em terra firme. Soto participará do 6º Congresso
Brasileiro de Unidades de Conservação, em Curitiba, de 20 a 24 de setembro.


QUEM É
Geógrafo, professor de oceanografia e curador-geral da Universidade do Vale
do Itajaí (Univali), em Santa Catarina
O QUE FAZ
Estuda os pouco conhecidos corais de profundidade e presta consultoria
voluntária ao consórcio de Tupi (Petrobras, Shell e Galp Energia)


ÉPOCA – A exploração do pré-sal deverá resultar em atividade muito maior no
litoral brasileiro. Que tipo de impacto isso vai ter?
Jules Soto – Pelos parâmetros internacionais, a Petrobras explora petróleo
de forma adequada e responsável. Mas os parâmetros do setor estão longe dos
ideais. Nós temos derrames crônicos de derivados de petróleo variados.
Monitoramos as praias e encontramos piche, nafta, óleo, ao longo do ano
todo.

ÉPOCA – O senhor pode dar exemplos concretos de como seria esse impacto?
Soto – Com o pré-sal, vamos ter trânsito intenso de navios-tanque do sul do
Nordeste até a Região Sul. Vai haver o risco da exploração em mar aberto,
sujeito a intempéries. A Petrobras perdeu sua maior plataforma atuando numa
área que não era de pré-sal. Existem problemas específicos para extração,
transporte, armazenagem, refino. Não temos áreas no Sudeste e no Sul para
receber esse petróleo para ser refinado, com os parâmetros atuais. O governo
tem encontrado problemas sérios de licenciamento ambiental com coisas muito
menores, como estradas. Onde vão ser construídas essas refinarias? Quais vão
ser os parâmetros ambientais para os polos petroquímicos? Ou o que tem sido
divulgado não vai acontecer? Ou vamos mudar radicalmente as leis ambientais
brasileiras ou então estamos ouvindo um discurso meramente político. Existe
também o problema dos corais de profundidade. Ao longo de todo o sul e
sudeste do Brasil temos esses corais, com 15 metros de altura e quilômetros
de largura. Eles vivem em águas frias e escuras. Para conseguir viver sem
luz, eles crescem muito devagar, alguns metros em milhares de anos. Parece
coisa de “ecolouco”, mas esses corais são ilhas de vida. Se você acaba com
eles, a pesca sofre os efeitos em poucos anos.

ÉPOCA – Existe jeito de resolver isso?
Soto – A Petrobras tem de rever os erros que comete em relação ao meio
ambiente e se aprimorar para partir para um desafio muito maior. Estamos
falando de um piloto que viajava até agora a 80 quilômetros por hora e já
cometia erros de pilotagem. Agora, esse piloto vai passar a viajar a 200
quilômetros por hora. O que representa o investimento da Petrobras em meio
ambiente por ano? Na melhor das hipóteses, equivale a algumas horas de
faturamento. Essa é uma questão que tem de ser revisada.

ÉPOCA – Algum país que tenha passado a fazer operações nessa escala oferece
bom exemplo?
Soto – Hoje, a Petrobras é a referência. Ela é única, tem a melhor
tecnologia do mundo para esse trabalho. Mas não basta ela ser o modelo, ela
precisa ser um modelo aberto. Se a Petrobras se prender ao modelo atual,
seguindo os padrões que ela mesma define, vamos ter problemas. Temos de
questionar esses parâmetros. Quem trabalha na área sabe que ela pode ir
muito além.

ÉPOCA – O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a exploração do
pré-sal é menos danosa ao meio ambiente que a tradicional por ser em águas
profundas e distante do litoral. O senhor concorda?
Soto – Imagine o impacto na mídia da destruição dos belos e visíveis recifes
de Abrolhos. Pois já foram destruídas áreas muito maiores de corais de
profundidade. No pré-sal pode porque ninguém vê?

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